UOL Esporte Futebol
 
Guyanne Araújo/UOL Esporte

Almanaque traz em suas 680 páginas estatísticas e fichas técnicas dos jogos do Villa

30/03/2011 - 07h05

Torcedor banca R$ 40 mil do próprio bolso para fazer livro do Villa Nova-MG

Guyanne Araújo
Em Belo Horizonte

Perto de completar 103 anos de existência, o Villa Nova-MG ganhará um registro histórico de causar inveja a muito clube de maior expressão do futebol brasileiro. Graças ao empenho pessoal do jornalista Wagner Augusto Álvares de Freitas, 43 anos, torcedor fanático do simpático time do município de Nova Lima, na Região Metropolitana da capital mineira, será lançado, em breve, o Almanaque do Leão do Bonfim.

FORAM 4 ANOS E MEIO DE PESQUISA

  • Guyanne Araújo/UOL Esporte

    Jornalista Wagner Augusto, torcedor do Villa Nova, desembolsou mais de R$ 40 mil com o almanaque

Durante quatro anos e meio, a paixão pelo Villa Nova levou Wagner a elaborar a publicação de 680 páginas sem nenhum patrocínio. Foram gastos mais de R$ 40 mil reais bancados pelo próprio autor da obra que eternizará a história do segundo clube mais antigo de Minas Gerais, que fará aniversário em 28 de junho. Mais velho, o Atlético-MG chegou a 103 anos na sexta-feira passada (25).

“Banquei o projeto do meu próprio bolso, desde a primeira letra escrita até a impressão, que representa a parte mais significativa do gasto”, observou o jornalista, que apesar da falta de incentivo se sente realizado. “Do ponto de vista pessoal, profissional e emocional, na qualidade de torcedor do Villa Nova, valeu a pena”, afirmou Wagner Augusto, que é pós-graduado em História Moderna e do Brasil e em Administração Municipal.

Apesar de realizado, o jornalista precisou sacrificar a família para concluir o projeto pessoal. “Umas das tristezas que tive durante o trabalho foi não ter podido acompanhar parte da infância dos meus dois filhos, uma garota de 9 e um garoto de 7. Então às vezes não podia brincar com eles quando eles me pediam. Eu lamento por causa disso”, disse Wagner, entristecido.

Além da falta de incentivo financeiro, o autor do Almanaque do Leão do Bonfim encontrou dificuldade para obter as fichas técnicas de determinadas partidas do Villa Nova. Ele conta que precisou viajar a cidades dos times adversários para ‘garimpar’ informações. Para a pesquisa, Wagner recebeu ajuda de dois colegas, os jornalistas e co-autores da obra Rodrigo Rodrigues e Henrique Ribeiro, que elaborou o almanaque do Cruzeiro.

“Fazer um livro sobre Corinthians, Flamengo, Cruzeiro, Atlético é difícil. Agora, fazer um livro sobre o Villa Nova é dificílimo”, alegou. Ao contrário dos clubes de maior expressão no futebol, encontrar a súmula de vários jogos do Villa Nova representou um desafio aos abnegados pesquisadores.

“Cerca de 30% dos jogos não saíram em jornais impressos. Tive que buscar na cidade de origem dos adversários, com o pessoal das rádios e nas bibliotecas”, explicou o jornalista. “As fichas são a espinha dorsal do livro. Fui a várias cidades, umas 100. Às vezes aproveitava as viagens do clube, quando iam jogar em outros lugares, mas a muitas delas fui exclusivamente para isso”, acrescentou.

Além das viagens, Wagner obteve informações com ex-jogadores. No arquivo morto do Villa Nova, o autor conseguiu levantar um terço dos 30% dos jogos que não tinham registros em jornais. As estatísticas que compõem o livro também tomaram o tempo do autor, que se dedicou um ano para fazê-las.

Uma das fontes do jornalista foi o presidente do Villa Nova, Jairo Gomes. “O atual presidente Jairo Gomes é um villa-novense da velha guarda e que presenciou muitos dos fatos relacionados, além de ter me emprestado muitos jornais, documentos”, ressaltou.

“São poucos os clubes que têm uma obra como essa. Ele prestou um serviço plenamente para o clube. Wagner é muito competente e dedicado. Agora teremos a história resgatada e completa do Villa”, observou Jairo Gomes.

SEM INCENTIVO FINANCEIRO

Reprodução da capa/divulgação
É o amor que dá sentido às coisas. A paixão pelo Villa, o respeito pela história do clube e o sentimento de ver que essa história está se perdendo me motivaram a escrever o livro. É muito bom saber que posso participar da vida do clube

Wagner Augusto, sobre a falta de patrocínio

Wagner lamentou que 1% dos jogos não foi possível recuperar. “São jogos amistosos, caíram no buraco negro. As partidas de campeonatos, estaduais e nacionais, A, B, C, estão todas no livro. Outros 39 jogos não encontrei o resultado, tem a ficha completa, mas não consegui encontrar o resultado”, informou.

O jornalista é assessor de imprensa do Villa Nova desde 2003, além de trabalhar como assessor na Câmara Municipal de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Nos últimos anos teve que conciliar as atividades com a confecção do livro.

Devido à falta de incentivo financeiro, a tiragem da obra será de apenas 500 exemplares. O Almanaque do Leão do Bonfim, que deve ser entregue pela gráfica ainda nesta semana, será vendido a R$ 70 pelo o próprio autor e pode ser encomendado pelo e-mail wagneralvares@yahoo.com.br.

Histórias e curiosidades

Paralelamente à confecção do almanaque, Wagner Augusto lançou, em 2008, ano do centenário do Villa Nova, o livro Villa Nova – 100 anos de Glória em Vermelho e Branco, que também é resultado do trabalho de pesquisa do jornalista. Neste, ele conta histórias do clube de Nova Lima.

A primeira obra foi concluída em menos de dois anos e teve tiragem de dois mil exemplares. Dessa vez, ele contou com auxílio da lei de incentivo à cultura. “Ao todo, nos dois livros, foram 1.300 páginas com a história do clube, é muita coisa”, destacou o jornalista. Para o almanaque, ele não teve acesso àquela forma de patrocínio.

“É o amor que dá sentido às coisas. A paixão pelo Villa, o respeito pela história do clube e o sentimento de ver que essa história está se perdendo me motivaram a escrever o livro. É muito bom saber que posso participar da vida do clube”, comentou o pesquisador.

Ao longo do trabalho de campo, Wagner colheu histórias sobre o Villa Nova. O autor relata, por exemplo, uma partida, em 1980, que durou quase duas horas. “O Villa precisava da vitória para continuar com chances de classificação. Havia um árbitro, o Antonio de Oliveira, que era simpático ao Villa e contribuiu para que o time conseguisse a vitória de virada. Aos 60 minutos do segundo tempo o Villa sofreu uma falta e, quando o goleiro ainda ajeitava a barreira, o atacante cobrou e marcou. Logo depois o juiz apitou para o fim”, contou. Na sequência o time conseguiu se classificar.

Essa história está contada no primeiro livro e, de forma resumida, na nova publicação. Além de estatísticas e fichas técnicas, o Almanaque do Leão do Bonfim traz introduções históricas de cada ano do clube.

Segundo o jornalista, o Villa Nova, por quatro vezes (1971, 1978, 1979 e 1985), teve a chance de disputar a primeira divisão do Campeonato Brasileiro, mas nem sempre isso ocorreu. Em 71 tornou-se o primeiro campeão brasileiro da segunda divisão. “O título mais importante do Villa foi a conquista do campeonato brasileiro da Série B. Por isso, o motivo da estrela verde em cima do escudo”, destacou. Porém, o clube foi vetado a participar, no ano seguinte, da Série A devido a questões políticas.

“O Villa foi passado para trás pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos, que antecedeu a CBF). Teve seu direito de acesso cerceado. O Remo, segundo colocado, que subiu para a Série A”, lamentou. Ele conta que era a época do regime militar e Nova Lima sempre teve um movimento sindical muito forte ligado ao partido comunista.

Segundo Wagner, outro fator, no entanto, contribuiu para impedir a participação do Villa na competição: a falta de um estádio que comportasse os jogos. Já para jogar em 78, o clube teve que mudar sua sede para Belo Horizonte e jogar no Mineirão. “Até hoje o Villa tem duplo domicílio”, afirmou.

Torcedores mais tradicionais, segundo Wagner, consideram a conquista do tricampeonato mineiro na década de 1930 (no triênio 1933-1935) como feito mais relevante. “O Villa foi o primeiro tricampeão mineiro da era profissional de Minas, por isso o motivo da estrela amarela no escudo”, contou.

“O Wagner contou a história desde a fundação do clube em 1908 e montou com resultados, artilheiros, estatísticas. Foi tudo por conta dele, um trabalho muito bem feito. Isso é muito auspicioso para o clube”, reconheceu o presidente do Villa Nova.

Placar UOL no iPhone

Hospedagem: UOL Host