UOL Esporte Futebol
 
18/03/2011 - 07h00

Homem-forte da Globo incentiva racha com apoio de Teixeira e tem postura de cartola

Do UOL Esporte*
Em São Paulo
  • Marcelo Campos Pinto ao lado do presidente do Grêmio; executivo costura acordos nos bastidores

    Marcelo Campos Pinto ao lado do presidente do Grêmio; executivo costura acordos nos bastidores

Nas últimas semanas, poucos assuntos foram tão abordados pela mídia quanto o racha político que tomou conta do futebol. Neste imbróglio, poucas pessoas foram tão importantes nos bastidores quanto o homem-forte do esporte da Globo. Marcelo Campos Pinto age como cartola, costura acordos e é um dos grandes incentivadores da confusão toda.

Só que todo esse prestígio não surgiu do nada. Campos Pinto trabalha na Globo desde 1994, virou o manda-chuva de esportes em 1996 e só viu seu prestígio crescer no período. Hoje, sua influência é tanta que ele é frequentemente apontado como um dos possíveis sucessores de Ricardo Teixeira na presidência da CBF.

Projeções à parte, o fato é que Marcelo Campos Pinto é reconhecidamente forte no meio. Advogado de formação, o executivo começou a trabalhar com negociações de direitos de TV em 1997, ano em que o Clube dos 13 fez seu primeiro grande contrato com a Globo.

Hoje, quase uma década e meia depois de entrar no ramo, Campos Pinto é respeitado no mercado internacionalmente. Em 2010, durante a Soccerex, que reuniu executivos ligados ao futebol no Rio de Janeiro, recebeu elogios públicos de ninguém menos que Niclas Erikson, chefe de venda de direitos de transmissão da Fifa, presente no evento.

O prestígio de Campos Pinto, claro, também se escora no conhecimento técnico da Globo. O reconhecimento da qualidade da emissora na captação de imagens é tão grande que o Comitê Olímpico Internacional (COI) apontou a Globo como responsável pelas transmissões de vôlei de praia dos Jogos Olímpicos.

Nesse contexto, Marcelo Campos Pinto tornou-se figura conhecida entre as agências que negociam direitos de todas as modalidades pelo mundo. E é aí que entra uma de suas maiores qualidades. O executivo sabe aliar o conhecimento e o poder que possui.

Uma das maiores vitórias da Globo foi a conquista dos direitos da Liga dos Campeões em TV aberta no Brasil. Ao fechar o contrato, em 2009, Marcelo Campos Pinto convenceu a Uefa de que a força da emissora platinada compensava o afastamento da Heineken. Patrocinadora da competição, a cervejaria não expôs sua marca na Globo durante as partidas da Liga, ao contrário do que faz no resto do mundo, para não ferir a parceria da TV com a Ambev.

Outra conquista teve a Fifa como protagonista. Em 2006, a Globo pagou US$ 100 milhões pela Copa do Mundo e ganhou a concorrência com a Record, que ofereceu US$ 120 milhões, em cenário parecido com o que se vê atualmente no futebol brasileiro. 

Só que no âmbito nacional essa mistura entre conhecimento e poder muitas vezes se volta contra os clubes. Durante a atual negociação dos direitos de transmissão, a Globo deixou claro seu descontentamento com o modelo de negociação com envelopes fechados, que dá o contrato a quem fizer a melhor oferta.

O sistema permite que uma concorrente perca o contrato por um valor pequeno, já que as rivais não têm conhecimento de todas as propostas em jogo. Nos bastidores, Marcelo Campos Pinto tratou a sugestão do Clube dos 13 como uma espécie de loteria, “esquecendo-se” de que participa de certames idênticos há anos.

A ideia de concorrência leal, por meio de envelopes fechados, foi implantada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) no início da década de 1990. Marcelo Campos Pinto já participou delas direta e indiretamente.

A maior derrota de sua carreira foi dentro desse modelo. Em 2008, a Record adquiriu os direitos de transmissão dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, em todas as mídias, pagando US$ 60 milhões, contra a oferta de US$ 30 milhões da Globo. A emissora repassou a primazia a emissoras de TV fechada, mas segue como detentora exclusiva para a TV aberta.

Só que Marcelo Campos Pinto não levou isso em consideração na hora de colocar pressão sobre dirigentes e o próprio Clube dos 13.

A pressão, aliás, vai além. O executivo da Globo normalmente evita falar em dinheiro com cartolas, e costuma oferecer outros benefícios aos seus interlocutores. No imbróglio atual ele chegou a colocar os lobistas da emissora em Brasília a serviço de possíveis interesses dos dirigentes como a reforma na Lei Pelé ou mudanças na Timemania.

O expediente não é novo no currículo de Campos Pinto. Em 2004, ele foi figura importante no primeiro grande empréstimo da CBF ao Flamengo. Na época, Márcio Braga (ex-presidente do Flamengo) e Marcelo Portugal Gouvêia (ex-presidente do São Paulo) articulavam uma oposição a Ricardo Teixeira, presidente da CBF.

O movimento caiu por terra quando o clube rubro-negro precisou de dinheiro e viu a entidade lhe estender a mão. Marcelo Campos Pinto estava presente na reunião que selou a transação.

O episódio transparece outras duas características do executivo: sua proximidade com o manda-chuva da CBF e seu poder de observação dentro do meio político do futebol. Campos Pinto e Teixeira são aliados de longa data. Durante a Copa de 2010, quando a emissora andava às turras com a comissão técnica de Dunga, a dupla era vista junta com frequência e estava hospedada no mesmo andar do hotel em Johanesburgo.

Já a visão de Campos Pinto nos bastidores foi colocada à prova nos últimos dias. Para tentar um acerto com o Palmeiras, ele evitou o contato direto com Arnaldo Tirone, atual presidente do clube. Seu intermediário foi Mustafá Contursi, aliado de outros tempos e hoje eminência parda na diretoria do clube alviverde.

Apesar de todos os conchavos e da postura de defesa à Globo, Marcelo Campos Pinto é realista. Um interlocutor do executivo já o ouviu dizer que a briga entre os clubes é favorável à Globo, já que exige menos investimentos da emissora.

*Reportagem de Erich Beting, Gustavo Franceschini, Ricardo Perrone e Thales Calipo
 

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