UOL Esporte Futebol
 
17/11/2010 - 07h00

Brasileiro recorre a carinho e tenta levar time do exército à elite do Qatar

Alexandre Sinato
Em Doha (Qatar)

As regras são rígidas e dignas da disciplina militar, mas o jeito de comandar é brasileiro, na base da conversa e do carinho na hora certa. Há 26 anos no Qatar, Ziza, ex-Atlético-MG e Botafogo, é o responsável por levar o time do exército do país à elite do futebol local. As barreiras culturais ele já tira de letra. O desafio maior é fazer a equipe sustentada pelas Forças Armadas a absorver algo do futebol brasileiro.

MOMENTOS DE UM BRASILEIRO NO QATAR

  • Alexandre Sinato/UOL

    Ziza, de vinho, dirige o Al-Jaish em jogo disputado no campo da universidade alugado pelo Exército

  • Alexandre Sinato/UOL

    Ziza jogou pelo Atlético-MG, é filho de Pinga, do Mundial de 1954, e está há 26 anos no Qatar

Filho de Pinga, que jogou a Copa do Mundo de 1954, Ziza, ou José Lazaro Robles Junior, foi vice-campeão brasileiro pelo Atlético-MG em 1977. Chegou ao Qatar a convite de Pepe em 1984 como preparador-físico. E nunca mais voltou a trabalhar no Brasil. Hoje, é o técnico brasileiro há mais tempo no país árabe.

“Quando cheguei a Doha, a cidade era totalmente diferente. Era quase tudo deserto. Os jogos eram paralisados para a reza dos muçulmanos no fim da tarde. Ela era feita no campo mesmo, cada um levava seu tapete”, relembra ele. “Agora as coisas são mais profissionais. Os times têm mesquitas e os jogos são depois da reza.”

Depois de trabalhar em clubes da primeira divisão e ser dispensado pelo Al Ahli no início deste ano, Ziza foi convidado para ir à segunda divisão e dirigir o Al-Jaish (Clube do Exército em português). Seus superiores, agora, estão no Exército. São os responsáveis por seu visto e pelo visto dos sauditas e demais estrangeiros do time.

Os jogadores de Ziza têm contrato com o clube do exército e também com as Forças Armadas. Eles não integram o exército local. Os sauditas, maioria do time, são filhos de oficiais de qatares em missão na Arábia Saudita e nascidos por lá.

EX-TÉCNICO E AMIGO DE GUARDIOLA, DO BARCELONA

  • Mowa Press

    Durante os 26 anos de Qatar, Ziza comandou inúmeros desconhecidos, mas também alguns jogadores ilustres, entre eles Josep Guardiola, hoje técnico do poderoso Barcelona. Dos anos de convivência com o espanhol, de 2003 a 2005, ficou uma amizade que dura até hoje.

    ?O Pep sempre se mostrou um grande líder quando jogava. É um cara espetacular, dentro e fora de campo. Ficamos muito amigos e sempre conversamos. E ele está fazendo o Barcelona jogar muito?, elogia Ziza.

“Depois de cinco anos morando no Qatar, eles podem atuar profissionalmente aqui e são considerados do país. Por isso só agora a equipe pode subir de divisão, pois eles já completaram esse período exigido pela lei”, explica o brasileiro.

Mesmo assim, os atletas seguem a disciplina do exército. Muitas são as faltas que acabam virando descontos no salário. Ausência em treino, ofensa ao árbitro, desrespeito e até cartões considerados desnecessários. Os dirigentes criaram uma comissão que julga quais advertências merecem um castigo. A regra é rígida.

Mas Ziza tem moral com os dirigentes. Seu superior imediato, por exemplo, foi seu jogador anos atrás. Por isso, o brasileiro consegue usar seu jeito para equilibrar a situação e, às vezes, discordar de punições a seus atletas. Ele também dá suas broncas, mas classifica como diferencial o fato de “passar a mão na cabeça” dos garotos quando necessário.

“Para eles, treinador tem só que dar porrada. Você os vêeles conversando, mesmo com os familiares, e parece que estão sempre brigando. Eu explodo às vezes, mas vou na base do diálogo. Converso muito, porque eles são carentes aqui, não recebem muito carinho dos pais. Acho importante que eles possam descontrair”, argumenta.

Ter o time na mão é fácil, assegura Ziza: “é o pão deles”. Em média, um jogador do Al-Jaish ganha de US$ 2,5 mil a US$ 3 mil por mês, mais a bonificação por cada vitória e o prêmio em caso de título. Campeão de duas das últimas três edições da segunda divisão, agora a equipe pode subir se terminar novamente na frente.

E o caminho está bem adiantado. Disputadas sete das 15 rodadas, o time do exército lidera com 18 pontos, contra 16 do vice Shamal e 11 do terceiro colocado Shahaniya. A segunda divisão só termina em 2011, mas a base saudita do time está próxima de deixar os pais militares e seus superiores orgulhosos.

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