UOL Esporte Futebol
 
13/05/2010 - 07h01

"Arquiteto do sucesso" do Barcelona vê estádios brasileiros subaproveitados

Ricardo Espina
Em São Paulo
  • Para Ferran Soriano, Brasil tem condições de superar problemas e organizar uma boa Copa

    Para Ferran Soriano, Brasil tem condições de superar problemas e organizar uma boa Copa

O futebol brasileiro não conta com estádios compatíveis à qualidade de suas equipes. A opinião vem de Ferran Soriano, que foi vice-presidente econômico do Barcelona entre 2003 e 2008 e está no Brasil para lançar o livro A bola não entra por acaso, no qual fala sobre sua experiência no clube espanhol. Neste período, ele ajudou o Barça a sair da difícil situação financeira na qual se encontrava para se tornar um dos times mais bem-sucedidos do planeta.

“Os melhores clubes brasileiros não têm estádios compatíveis. No Brasil, a classe média e alta não leva as crianças para um jogo de futebol. Na Europa, você tem meios de transporte suficientes e até pode ir a pé. As famílias vão assistir às partidas. Aqui, os estádios não acompanharam o crescimento do futebol”, afirmou, em entrevista ao UOL Esporte.

Mesmo com estes problemas, o executivo, atual presidente da Spanair, segunda maior companhia de aviação da Espanha, acredita que o Brasil superará as dificuldades para receber a Copa do Mundo em 2014.

“Tenho certeza de que o Brasil tem todas as condições para organizar uma boa Copa. Trata-se de uma oportunidade espetacular não apenas para o desenvolvimento do futebol, mas também do próprio país”, disse o espanhol.

Soriano ainda avaliou o modo como algumas equipes do país são administradas. “Não conheço muitos detalhes, mas sei que os clubes brasileiros estão se profissionalizando e seguem o caminho da modernização. Do que eu vi, o São Paulo apresenta um modelo muito bom. Com as mudanças na diretoria, o Corinthians está em um bom rumo”, analisou.

Com a experiência adquirida de quando fez parte da diretoria do Barcelona, Soriano vê um grande problema que atrapalha o desenvolvimento de muitos clubes. “Ainda há clubes geridos de forma pouco profissional. É preciso usar o bom senso e os mesmos critérios usados para se gerenciar uma empresa. Quando cheguei ao Barcelona, não havia nada disso. Existia o pensamento de que o futebol era apenas bola na rede, sem aplicação de conceitos de gestão”, lembrou.

Mudança no Barcelona

Para fazer o Barcelona dar a volta por cima, o executivo recorreu aos seus conhecimentos em gestão – e que podem ser aplicados em outros clubes. “No início, copiamos algumas estratégias de outros clubes, como o Manchester United, mas depois vimos que era preciso inovar. O Barcelona exibe a logomarca do Unicef em seu uniforme. Deixamos de ganhar dinheiro com o patrocínio, mas fortalecemos a construção da nossa marca. É preciso correr riscos”, ressaltou.

  • AP

    Executivo destacou Ronaldinho como exemplo de comprometimento quando passou pelo Barcelona

Quando chegou ao Barcelona, Soriano, que fez parte da gestão do presidente Joan Laporta, encontrou um panorama pouco animador. Na temporada 2002/03, o clube teve um déficit de 73 milhões de euros, com endividamento de 186 milhões de euros. Em campo, o time não conquistava títulos e, com isso, o público deixou de frequentar o Camp Nou.

Para mudar este cenário, o executivo tomou algumas medidas, como proporcionar melhorias no estádio, renegociação dos direitos de televisão e investimento em marketing. Além disso, houve uma drástica redução de custos; em um ano, eles passaram de 196 milhões de euros para 163 milhões de euros. O resultado foi excelente: entre 2003 e 2008, as receitas do clube cresceram quase 800 milhões de euros, e o lucro total aumentou 233,6 milhões de euros.

Se fora das quatro linhas Soriano recorreu a planos que o Barcelona nem pensava em aplicar, dentro de campo ele contou com a “ajuda” de um brasileiro. “Não existe uma fórmula de sucesso, mas existe comprometimento. Isso foi mostrado por Ronaldinho no Barcelona. Ele tem uma vontade de vencer espetacular. Mesmo quando o Barcelona sofreu uma série de derrotas, ele dizia para ficarmos tranquilos porque venceríamos. Depois, os jogadores não tinham o mesmo comprometimento e o rendimento caiu.”

O executivo, que fará parte de uma das chapas que concorrerão às próximas eleições no Barcelona, não se considera um elemento fundamental para o sucesso atual da equipe. “O time é o que é hoje por ser um time equilibrado. Quando se suspeita que alguém esteja trabalhando menos, as coisas dão errado”, completou.

Serviço: A bola não entra por acaso - Editora Larousse do Brasil, 208 páginas. Preço sugerido: R$ 29,90.

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