07/08/2009 - 20h37

Supercopa da Itália se transforma em 'negócio da China'

Do UOL Esporte
Em São Paulo

Em diversos países europeus, a disputa da Supercopa marca a abertura da nova temporada. Embora a partida entre o campeão nacional e o da copa tenha um caráter mais simbólico, nem sempre o jogo se trata de um mero amistoso. Neste ano, dois confrontos ultrapassam este limite e colocam em campo interesses políticos e comerciais.

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À primeira vista, seria óbvio afirmar que a Supercopa da Itália e da França são disputadas nestes dois países, certo? A resposta não é tão simples assim. Em 2009, Bordeaux e Guingamp viajaram para o Canadá e se enfrentaram em Montréal. Internazionale e Lazio também cruzaram o mundo para o duelo deste sábado no estádio Ninho de Pássaro, em Pequim.

Para a Internazionale, a viagem para a Ásia servirá para estreitar um pouco mais seus laços com o país. Uma pesquisa realizada em 2005 mostrou que os nerazzurri eram o time preferido dos chineses, à frente de Real Madrid e Manchester United. Pelo menos uma vez por ano, a equipe ilustra o logotipo da Pirelli, sua principal patrocinadora, em mandarim.

Em novembro de 2007, a fabricante de pneus inaugurou uma fábrica na China; por isso, qualquer ação mercadológica da Inter por lá rende bons frutos tanto para a equipe como para a Pirelli. A Lazio tenta pegar carona no sucesso do rival e também se estabelecer nesta lucrativa região.

No caso francês, a escolha por Montréal obedeceu a critérios culturais, comerciais e, de certa forma, políticos. A cidade se localiza na província de Québec, de língua francesa e com forte discurso separatista. Levar a partida entre Bordeaux e Guingamp para lá, mesmo para ser realizada em um campo com gramado sintético, serviu para estreitar os laços francófonos e reforçar o apoio à causa.

"Trabalhamos há dois anos neste projeto. Minha convicção é a de que o futebol francês não tem o lugar que merece no mundo. Sofremos com a falta de visibilidade no plano internacional. Somos garotos perto dos ingleses. A exportação desta competição (Supercopa) faz parte desta política de exposição do futebol francês no exterior. A cada ano, tentaremos fazer este tipo de operação, variando os países e regiões do mundo. Foi a primeira, mas não a última vez", explicou Frédéric Thiriez, presidente da Liga de Futebol Profissional (LFP).

A Itália já tem experiência em decidir a Supercopa em outros países. Em 1993 e 2003, o campeão foi conhecido nos Estados Unidos, em jogos disputados em Washington e Nova York, respectivamente. Nestes casos, o interesse era claro: abrir novos mercados. Já em 2002, o acordo foi político. O confronto entre Juventus e Parma foi realizado em Trípoli, capital da Líbia.

A escolha pelo país africano se deveu a uma mistura de excentricidade e segundas intenções. Al-Saadi Al-Gaddafi, filho do ditador líbio Muammar Al-Gaddafi, é torcedor fanático da Juventus, que disputou o título da Supercopa da Itália daquele ano contra o Parma. O fato de levar o jogo para a África também atenderia um desejo de aproximação dos italianos com o líder político - o petróleo tem grande peso na economia da Líbia.

Recentemente, a Turquia viveu experiência semelhante. Em 2006, 2007 e 2008, a Supercopa teve seu campeão conhecido na Alemanha. A ideia não foi absurda, já que o país concentra uma grande quantidade de imigrantes turcos. Por isso, os duelos realizados em Frankfurt, Colônia e Duisburg contaram com bons públicos.

Como as equipes europeias já transformaram suas pré-temporadas em formas de explorar novos mercados pelo mundo, a sede por lucros se expande e leva jogos oficiais para outros países. Na Inglaterra, há pouco tempo se discutiu a hipótese de se criar uma '39ª rodada' do Campeonato Inglês, a ser disputada nos Estados Unidos. A ideia foi rejeitada, mas não seria surpresa se, daqui a alguns anos, partidas das ligas nacionais forem exportadas para Ásia, América do Norte ou outras regiões.