UOL Esporte Futebol
 
01/05/2009 - 07h00

Quase metade dos campeões estaduais está fora do futebol profissional

Eliano Jorge
Especial para o UOL
Em Salvador
Desde o pioneiro Campeonato Paulista de 1902, nada menos do que 329 equipes comemoraram títulos estaduais no país. Mas apenas 171 delas ainda participam do futebol profissional. Ou seja, o Brasil se ressente de 158 clubes vencedores, o que corresponde a 48% do total de campeões. Juntos, eles somam 368 conquistas. Pelo menos 82 dessas entidades estão extintas, oito deram origens a outros times por meio de fusões e 68 afastaram-se da categoria profissional.

Nesta temporada, 195 antigos campeões estão fora das primeiras divisões estaduais, devido a rebaixamento, suspensão, licença temporária ou abandono definitivo. Com eles, saem de cena currículos que incluem 494 taças dessas próprias competições.

Alegando problemas financeiros, neste ano quatro vencedores de estaduais se licenciaram: a atual tricampeã rondoniense Ulbra Ji-Paraná, o tocantinense Alvorada, os roraimenses Baré e River. Para 2010, mais baixas são esperadas, pois oito times tradicionais já caíram e três sofrem ameaça de rebaixamento.

CAMPEONATOS NACIONAIS
E CAMPEÕES EXTINTOS
Brasil: 0 de 17 desde 1959
Alemanha: 2 de 28 desde 1903**
Argentina: 6 de 23 desde 1891*
França: 1 de 17 desde 1933***
Espanha: 0 de 9 desde 1929
Itália: 0 de 16 desde 1898
Portugal: 0 de 5 desde 1935
Inglaterra: 0 de 23 desde 1889
*Extintos Alumni (10 títulos) e Saint Andrews, (1); sem futebol profissional Lomas Athletic [ex-Lomas Academy] (6 títulos), Belgrano Athletic (3), Estudiantil Porteño (2) e Porteño (2)
**Extinto o Leipzig (3 títulos); sem futebol profissional Karlsruher FV (1)
***Extinto o Roubaix (1 título)
A mais recorrente justificativa para os sumiços é a falta de dinheiro e estrutura. Há também banimentos impostos pelos tribunais de justiça desportiva. Determinados times que pediram licença ainda cogitam retornar aos gramados; outros fecharam seus departamentos de futebol sem planos imediatos, mesmo filiados às federações. Alguns clubes, porém, sequer se aventuraram na era profissional de seus respectivos campeonatos.

Em todo o país, várias agremiações tentam peregrinar por municípios que os adotem e banquem. Mas essa estratégia concede apenas uma sobrevida. "Futebol passou a ser negócio, e nem todo mundo estava preparado. Eles fazem time de veraneio. Contratam em cima da hora, não têm gestão nem planejamento", critica a granel o diretor de desenvolvimento de futebol da Federação Matogrossense, Admir Moreira.

Entre todos os ganhadores de oito das principais competições nacionais do planeta, a extinção mostra-se rara, mesmo em disputas centenárias (veja quadro). Na Inglaterra, na Espanha, na Itália, Alemanha, na França e em Portugal, há dois extintos e um afastado do profissionalismo, ao todo. Na Argentina, são dois sepultados e quatro sem futebol.

O Maranhão é o Estado com maior percentual de campeões encerrados, 61,53%. Mas são oito equipes, contra o recorde do Distrito Federal em números absolutos: 14, ou 55%. Somente em Goiás nenhum dos vencedores abandonou o futebol de alto rendimento, os oito persistem.

TRI E 'FLAMENGO' DÃO ADEUS
Não basta a maior torcida ou a hegemonia local para se sustentar um time na primeira divisão estadual. Que o digam dois clubes da região Norte: Baré e Ulbra Ji-Paraná. Brigas políticas e mentiras também fizeram vítimas recentes na Amazônia.

Campeã de Rondônia nos últimos três anos, a Ulbra encerrou suas atividades no futebol em 2008, desistindo da vaga na Série C do Campeonato Brasileiro. A universidade preferiu "priorizar a parte acadêmica", diz seu assessor de imprensa, Alexandre Almeida. "Na cidade, nenhuma empresa ajudava o time, custos sobrecarregam a Ulbra", acrescenta.
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DOIS CAMPEÕES DE VOLTA
Das 27 unidades federativas, 12 têm ao menos metade de seus campeões longe de competições profissionais: Amazonas (56,25%), Bahia (73,68%), Ceará (54,54%), Espírito Santo (64,7%), Distrito Federal (70%), Maranhão (61,53%), Paraíba (55,55%), Piauí (50%), Rondônia (76,92%), Roraima (50%), Santa Catarina (63,63%) e São Paulo (53,33%).

Mesmo contabilizando para o São Paulo o título de 1931 do seu gérmen São Paulo da Floresta, 26 troféus do Campeonato Paulista pertencem a instituições extintas ou que não se envolvem mais com futebol profissional, quantidade quase idêntica à do maior vencedor da competição, o Corinthians, que tem 25 títulos. Em Santa Catarina, a turma da debandada acumula 31,32% das taças: 26, quase o dobro das 15 do recordista Figueirense.

Rondônia convive com o quadro mais impressionante de desaparecimento de seus mais representativos times. Dos 13 velhos campeões, só o Vilhena - consagrado em apenas um dos 63 campeonatos - disputa a primeira divisão de 2009. Dois estão na segundona, um restringe-se às categorias de base, seis deixaram as competições de futebol e três fecharam as portas.

Na capital federal, somente três dos 20 premiados atuam na série A. Os 25 títulos dos ausentes superam facilmente os 10 arrebatados pelo Gama, que encabeça a lista.

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