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O filho de Paulo Machado de Carvalho mostra foto de seu pai com a taça

O filho de Paulo Machado de Carvalho mostra foto de seu pai com a taça

26/06/2008 - 08h04

"Marechal" instala profissionalismo na seleção, sem descartar folclore

Giancarlo Giampietro
Em São Paulo
Dentro de campo, o garoto Pelé chocou o mundo, Garrincha entortou cada João à sua frente, Zagallo fez as vezes de um ponta-esquerda falso, e a seleção brasileira levantou a taça de modo inédito na Copa do Mundo de 1958 com suas surpresas. Para esse time assumir um caráter vencedor, foi necessária certa dose de inovação também nos bastidores.

Nesse ponto, entra a figura de Paulo Machado de Carvalho, homem responsável pela estruturação, com ações de um pioneiro do profissionalismo para a seleção, sem deixar de ter momentos propensos ao romantismo.

O paulistano, que morreu em 1992 aos 90 anos, era dono da TV Record e de uma gigante cadeia de rádios, assim como vice-presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) e patrono do São Paulo Futebol Clube.

Segundo relata o jornalista e escritor Ruy Castro no livro "A Estrela Solitária", foi nomeado chefe da delegação aos 57 anos, com uma condição: que tudo funcionasse como em suas empresas.

O reflexo de tal exigência foi notável. A comitiva nacional era a única, entre as 16 concorrentes à taça Jules Rimet, a empregar um psicólogo (João Carvalhaes) e um dentista (Mário Trigo), além do administrador José de Almeida, o tesoureiro Adolpho Marques, o doutor Hilton Gosling, que também era tradutor para inglês e francês, entre outros, mais a comissão técnica.

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"O nosso estafe era realmente muito bom. Acho que foi a primeira vez que os diretores influíram no desempenho de um time", afirmou o ex-atacante Mazzola, que depois se consagrou no futebol italiano. "Tudo foi organizado muito bem para nós. Eles afastaram os problemas e nos blindaram. Todo o estafe da seleção era excelente e fez a diferença."

Fora esse aparato, a equipe de Machado também contribuiu para um planejamento que abordava as mínimas etapas, ou "neuroticamente detalhista", como descreveu Castro. Entre os dias 7 de abril e 29 de junho, os passos foram previstos, com organograma de viagens, hospedagens e treinos e o controle de cada refeição.

"O plano tinha tudo o que se possa imaginar. Todos os erros cometidos nas Copas de 1950 e 54 foram corrigidos", confirmou o jornalista Paulo Planet Buarque, que acompanhou o Mundial de perto.

Naturalmente, as ações do dirigente não se limitaram à fase de preparação. Sua liderança também foi importante na condução do grupo, com o auxílio de Carlos Nascimento. "Ele precisava ser juiz e amigo ao mesmo tempo. Sabia perfeitamente bem quando era necessário ter momento de lazer, brincadeira e conversa. Praticava isso bastante. Era a pessoa ideal, certa para o cargo e sabia muito de futebol", disse Buarque.

Essa abordagem sistemática, contudo, não afastou completamente elementos que, no futuro, contribuiriam para causos e folclore. Carvalho usou o mesmo terno marrom a Copa inteira - quando os jogadores não o viam com ele, tinham medo de perder -, e levou à Suécia uma estátua de Nossa Senhora de Aparecida.

A mesma imagem da santa foi evocada também para justificar o uniforme azul ("o manto") usado na decisão do torneio contra os anfitriões, que jogaram de amarelo. A equipe nacional não teria interesse em jogar de branco, para afastar lembranças da derrota de 1950.

A combinação da dedicação profissional com a superstição se provou irresistível para a delegação, cujos integrantes cultivaram o contato com o empresário durante o resto de sua vida. Eles o chamavam de "Dr. Paulo".

Seu tratamento era especial, o dirigente deveria ser respeitado. Logo após a conquista da Copa, os brasileiros foram cumprimentados no gramado pelo rei Gustavo Adolfo 6º. Até o dentista Mário Trigo partir em busca da majestade para pedir para uma correção. O sueco havia passado por Machado sem dar os parabéns. E, nesse caso, não podia. Afinal, ele já era o "Marechal da Vitória".

Colaboraram Renan Prates e Rodrigo Farah

Hospedagem: UOL Host