Topo

Mulheres em alta e Bolsonaro em baixa: camisa azul toma lugar da amarelinha

Camisa azul da Seleção "substituiu" a amarelinha no gosto dos torcedores na Copa do Mundo de 2022 - Caio Blois/UOL
Camisa azul da Seleção 'substituiu' a amarelinha no gosto dos torcedores na Copa do Mundo de 2022 Imagem: Caio Blois/UOL

Caio Blois

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

26/11/2022 04h00

Classificação e Jogos

Principal ponto de comércio popular do Rio de Janeiro, o camelódromo da Uruguaiana vive dias de ebulição de vendas por causa da Copa do Mundo. Um símbolo, entretanto, está em baixa: a amarelinha, que na opinião dos vendedores é menos procurada pela associação com o presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições. Por outro lado, a azul faz sucesso, e as mulheres se destacam na busca por uma camisa da seleção.

Se a camisa oficial chega a custar R$ 699,90, no mercado popular, em diferentes preços e tipos, as peças são comercializadas de R$ 20 a R$ 150, com as usuais tentativas de "pechincha" pelos consumidores. Das mais simples às "réplicas" tailandesas, mais próximas das originais, as camisas falsificadas seguem um sucesso de vendas no mercado popular do Rio.

Derrotado nas urnas em 30 de outubro por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o atual presidente é considerado culpado pelos vendedores pela queda nas vendas das camisas amarelas. "A cada 50 camisas que vendemos, só 10 são amarelas. Não tem como não ligar isso ao Bolsonaro", afirmou Patrícia, de 42 anos.

Vendedora na Uruguaiana, Patrícia vê influência de Bolsonaro em queda de venda de camisas amarelas da Seleção - Caio Blois/UOL - Caio Blois/UOL
Vendedora na Uruguaiana, Patrícia vê influência de Bolsonaro em queda de venda de camisas amarelas da Seleção
Imagem: Caio Blois/UOL

"A camisa do Brasil é nossa muito antes do presidente. Inclusive, deveria ser proibido ele usar a camisa em eleições. Nascemos brasileiros antes, mas agora, está muito ligado a ele, e precisamos explicar às pessoas que é um símbolo da nossa cultura, do nosso futebol. Mesmo assim, a azul vende mais, muita gente evitou o amarelo em 2022. Ficou mais claro depois das eleições, porque aí sim a camisa amarela passou a vender um pouco mais", afirmou.

Em outra quadra do mercado popular, o vendedor Renan foi outro a criticar Bolsonaro. Para ele, as vendas estão melhores que em 2018, quando o Brasil foi para a Rússia "com menos empolgação da torcida", segundo ele. O bom momento do time de Tite impulsionou o comércio, mas a camisa azul é a preferida dos torcedores.

"Está vendendo bem, apesar das eleições. A amarela demorou a engrenar as vendas, enquanto a azul falta até estoque. Vendemos mais em 2022 que em 2018, o time é melhor e acho que empolga mais o torcedor. A camisa também é diferente, bonita, mas a amarela vende menos, ficou ligada ao [Jair] Bolsonaro. Quem diz o contrário ou é eleitor dele, ou é exceção, porque as pessoas chegavam aqui e diziam que não queriam a amarela por causa dele, infelizmente", opinou.

Vendedor na Uruguaiana, Renan vê sucesso da camisa azul da Seleção: 'A amarela ficou ligada ao Bolsonaro' - Caio Blois/UOL - Caio Blois/UOL
Vendedor na Uruguaiana, Renan vê sucesso da camisa azul da Seleção: 'A amarela ficou ligada ao Bolsonaro'
Imagem: Caio Blois/UOL

Aos 27 anos, Wallace começou a trabalhar em um box da Uruguaiana no início de 2022. Durante as eleições, ele reparou na procura pelas peças nas cores branca e preta, "mais neutras", em sua opinião. Ao ser questionado sobre a camisa mais vendida, não titubeou: "A azul tomou o lugar da amarela. Já havia uma busca por ela em outras Copas do Mundo, mas em 2022, foi claramente uma motivação política".

Em quase duas horas de caminhada entre os boxes do camelódromo, o UOL flagrou poucas camisas azuis, e muita correria dos vendedores para tentar encontrar modelos femininos, infantis e acima do GG. Quem tentou ir à Uruguaiana se deparou com um mar de camisas amarelas, que fazem menos sucesso hoje.

Venda de camisas da Seleção segue em alta durante a Copa do Mundo em comércio popular do Rio de Janeiro - Caio Blois/UOL - Caio Blois/UOL
Venda de camisas da Seleção segue em alta durante a Copa do Mundo em comércio popular do Rio de Janeiro
Imagem: Caio Blois/UOL

Alguns, entretanto, não viram relação entre o sucesso da nova camisa alternativa com as eleições, e acreditam que o novo design e a proximidade da Copa do Mundo são os fatores mais importantes.

"Realmente a azul está vendendo mais. Mas não vejo tanta relação com as eleições. Acho que na verdade todas as camisas demoraram a engrenar as vendas, mas estão vendendo bem. A última semana, antes da estreia, foi de ótimas vendas. E hoje, depois da vitória contra a Sérvia, estamos faturando bem. Acho que os torcedores estão bem confiantes", disse o vendedor Italo, de 28 anos.

Camisas femininas são as mais vendidas

Nas quatro quadras do camelódromo, muita gente ainda procurava a sua camisa para torcer para o Brasil no Qatar. Uma delas era Maria do Carmo, de 53 anos, que buscava uniformes da seleção para quatro filhos e uma neta. "Lá em casa, as mulheres gostam mais de futebol que os homens. Quero levar três femininas, mas está difícil achar", afirmou.

Camisas da Seleção vendem bem no camelódromo da Uruguaiana, principalmente os modelos femininos, já em falta - Caio Blois/UOL - Caio Blois/UOL
Camisas da Seleção vendem bem no camelódromo da Uruguaiana, principalmente os modelos femininos, já em falta
Imagem: Caio Blois/UOL

A dificuldade vivida por Maria do Carmo têm explicação: o grande destaque para a maioria dos 32 ambulantes entrevistados pelo UOL no camelódromo é a procura das mulheres por modelos femininos da camisa da seleção. "A que mais sai é a feminina. Mais do que em 2018. As vendas aumentaram bastante", contou a vendedora Luana Silva.

Outros vendedores da Uruguaiana também exaltaram a busca feminina por produtos relacionados ao futebol, não só por causa da Copa do Mundo. O crescimento do interesse das mulheres pelo esporte nos últimos anos é constante, e atingiu seu ápice em 2022. Ontem (25), as camisas femininas estavam em falta na Uruguaiana.

'Tailandesas' vendem como água

O sucesso das réplicas tailandesas no Rio de Janeiro foi muito grande para a Copa do Qatar. O fenômeno de vendas em sites asiáticos como AliExpress, Shopee e Shein é recente, mas em parte, já existia em 2018. Com maior facilidade durante a pandemia, quando as compras online aumentaram muito, as camisas cairam nas graças dos torcedores.

Réplicas 'tailandesas' de camisas da Seleção são sucesso de vendas no Rio de Janeiro - Caio Blois/UOL - Caio Blois/UOL
Réplicas 'tailandesas' de camisas da Seleção são sucesso de vendas no Rio de Janeiro
Imagem: Caio Blois/UOL

Mesmo com um preço um pouco mais "salgado" (R$ 150, a mais cara no mercado popular), a qualidade das peças impressiona, e a olho nu, apenas colecionadores e especialistas conseguem diferenciar o tecido e principalmente os detalhes.

"A tailandesa passa por original com tranquilidade. Vendeu que nem água, mesmo sendo mais cara, porque a camisa original está muito cara. Vendemos todas as azuis, mas também recebemos bem menos do que as amarelas. Acho que saiu muita amarela também", declarou Fernando.