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Polêmica de racismo com Blanc abriu caminho para gerações de Pogba e Mbappé

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Imagem: Getty Images

Dassler Marques, Felipe Pereira, Julio Gomes, Marcel Rizzo e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em São Petersburgo (Rússia)

11/07/2018 04h00

A discussão em torno da origem dos jogadores marca a seleção francesa desde que a equipe de Zinedine Zidane, em meio a uma crise de identidade nacional, uniu o país com o lema “negro, branco e árabe” no título de 1998. Volta e meia turbulências do gênero aparecem em uma nação tão plural que retornou à final de Copa do Mundo na noite da última terça-feira (10) ao bater a Bélgica em São Petersburgo.

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O guineense Pogba e o camaronês Umtiti, campeões mundiais sub-20 em 2013 e destaques na vitória sobre os belgas, são apenas dois dos vários exemplos de gerações que cresceram a partir de uma grande polêmica com Laurent Blanc na seleção principal em torno do tema ascendência e cor de pele. Uma França que hoje é representada por atletas de diferentes etnias.

Em 2011, porém, o plano da Federação Francesa de Futebol descoberto pela imprensa era de limitar a quantidade de jogadores com dupla nacionalidade nas divisões de base. Uma gravação de reunião entre dirigentes, com participação de Blanc, vazou e causou uma discussão nacional forte que, na visão dos mais radicais, teve conotação de racismo.

Dois aspectos envolviam essa espécie de cota discutida por Blanc, um dos ídolos do time de 1998 e que assumiu a seleção após os anos turbulentos de Raymond Domenech:

- A seleção francesa discutia se deveria limitar a quantidade de jogadores com outras nacionalidades, que poderiam ocupar suas divisões de base e, quando se tornassem profissionais, optarem por outros países. 

- Ainda se discutia na Federação, com a participação de Blanc, a presença de muitos jogadores negros nas divisões de base sob o argumento de que nas idades menores aqueles que são mais fortes fisicamente têm vantagem física.

Com um desempenho médio na Eurocopa 2012, eliminado nas quartas de final, Blanc deixou o cargo como o segundo treinador mais breve desde 1975. Ele chegou a se desculpar publicamente pelo episódio e negou haver racismo em torno das discussões. O fato é que as gerações seguintes da seleção francesa, que unidas colocam o time na final da Copa, mostram que a teoria do ex-zagueiro e da Federação não estavam tão certas assim.

França -  AFP PHOTO / FRANCK FIFE -  AFP PHOTO / FRANCK FIFE
Imagem: AFP PHOTO / FRANCK FIFE

Seleção de diversas nacionalidades quebra teoria defendida por Blanc

Pogba (Guiné), Umtiti (Camarões), Griezmann (Portugal e Alemanha), Mbappé (Argélia e Camarões) e Kanté (Mali) são titulares de Deschamps com raízes fortes de outros países em suas origens. Em 2015, por exemplo, a seleção malinense tentou recrutar o volante francês, que optou pelo país onde nasceu e se formou como atleta.

Se havia a preocupação de um time apenas baseado em velocidade e força, a explosão de Mbappé em arrancadas e o controle físico de Pogba no meio-campo provam que aquelas características podem ser muito úteis à seleção que jogará mais uma grande final desde que árabes, brancos e negros se uniram em torno da seleção em 98.

Pogba, perguntado sobre o antigo ídolo Ronaldinho, deu uma resposta que se tornou simbólica. "Eu não sou Ronaldinho, nunca serei. Mas sou Paul Pogba, de Roissy-en-Brie (região a 1h de Paris de carro), e eu vou jogar uma final de Copa do Mundo", destacou.

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