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Suécia

Retranqueiro e bom de briga, técnico da Suécia usa até kart para unir time

Técnico sueco Janne Andersson discute com a arbitragem em jogo contra o México, na primeira fase da Copa - AFP PHOTO / HECTOR RETAMAL
Técnico sueco Janne Andersson discute com a arbitragem em jogo contra o México, na primeira fase da Copa
Imagem: AFP PHOTO / HECTOR RETAMAL

Arthur Sandes e Bruno Grossi

Do UOL, em São Paulo (SP)

06/07/2018 21h00

A Suécia surpreende ao chegar às quartas de final da Copa do Mundo, com duelo contra a Inglaterra neste sábado, às 11 horas (de Brasília). Primeiro, por conseguir esse feito sem o astro Zlatan Ibrahimovic. Segundo, por ter deixado pelo caminho, entre Eliminatórias e o Mundial na Rússia, camisas pesadas como de Holanda, Itália e Alemanha. Essa trajetória de sucesso e superação passa pelo trabalho enérgico, familiar e quase teimoso do técnico Janne Andersson.

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Sua carreira de treinador começou aos 25 anos. Hoje, três décadas mais tarde, mostra praticamente as mesmas ideias de jogo. A defesa tem sua linha de quatro bem definida, assim como o meio de campo. E, na frente, dois homens de área se revezam entre correr sozinho combatendo os zagueiros ou ajudar a fechar os espaços pelo centro.

"O estilo dele sempre foi exatamente este da seleção. Lateral não pode apoiar, os centroavantes correm como loucos. A ideia é jogar por um bola, jogar para não perder. E não importa se é time mais fraco ou mais forte como adversário", conta o brasileiro Bruno Santos, já aposentado, que trabalhou com Andersson em 2011 no Norrköpping, da Suécia.

Esse apego à defesa era declarado pelo técnico assim que chegava aos clubes. Na equipe de Bruno, por exemplo, havia outro brasileiro. E os dois perderam espaço justamente por não se adaptarem 100% à filosofia retranqueira. Bruno, que era centroavante, não aguentava cumprir a função tática que exigia muito fisicamente. O lateral-esquerdo Caio Mendes, hoje no Nacional, de São Paulo, passou por dificuldade semelhante.

"Ele chegou ao clube um ano depois de subirmos para a primeira divisão. E rapidamente me chamou para conversar. Disse que eu jogava bem, mas que para ele o lateral precisa marcar, acima de tudo. Perguntou se eu aceitava jogar na segunda linha e me deixou à vontade para sair se não quisesse. Falou tudo de uma forma muito legal, respeitosa. Aceitei jogar de meia e ele montou a linha de quatro como queria", relembra.

Mas também houve quem se encontrasse bem nas ideias de Andersson. O centroavante Anselmo, revelado pelo Palmeiras e que atualmente defende o Volta Redonda, trabalhou com o técnico no Halmstads, também da Suécia e lembra com carinho da parceria que durou de 2008 a 2010: "Ele me ajudou a crescer taticamente e como pessoa. Eu não entendia o posicionamento, até por não falar inglês. Ele tinha um tradutor e fez de tudo para ajudar. Era maleável quando precisava, mas firme nas decisões".

Relação com os atletas faz a diferença

Para conseguir impor seus princípios sem causar problemas com os atletas, Andersson precisou desenvolver habilidade para gerir as relações pessoais. E até quem perdeu espaço, pelas diferenças em campo, o admira pelo cuidado humano. Caio Mendes diz que eram comuns reuniões fora do horário de trabalho, para jogar boliche e andar de kart. Os períodos de pré-temporada, recorda Bruno Santos, sempre contavam com viagens para outros países e com programações diferentes, como jogar paintball.

Até os familiares dos jogadores eram convidados. Tudo em uma tentativa de integrar suecos e estrangeiros, amenizando problemas como saudades de casa ou dificuldades de adaptação a uma nova cultura. "Por mais que tenha essa cara fechada, Janne é um cara extremamente brincalhão. Foi por causa dele que comi lagosta pela primeira vez. Juntar as famílias era uma forma de conhecer mais a cultura e crescer como ser humano e serviu para unir o time. E aposto que esse lado família está sendo positivo na Copa", pondera Anselmo, que explica a razão:

"A forma como o time se dedica mostra que o grupo está muito fechado com ele. E por isso talvez não sintam falta do maior de todos os tempos da Suécia, que é o Ibrahimovic. Ele poderia fazer diferença tecnicamente, mas eles suprem essa ausência com muita união e trabalho. É um dos pontos fortes do Janne. Ele tira o máximo do lado profissional de cada atleta".

Andersson - REUTERS/Andrew Couldridge - REUTERS/Andrew Couldridge
Inquieto, Andersson ganhou fama de ranzinza pela cara fechada quando comanda a Suécia
Imagem: REUTERS/Andrew Couldridge

Elogios não impedem surpresa com feitos históricos

Os brasileiros que trabalharam com Andersson estão felizes com o sucesso na Copa. Caio Mendes, por exemplo, aposta que o jogo coletivo pode levar a Suécia até à final do Mundial. A questão é que eles não imaginavam ver o técnico chegando ao comando da seleção escandinava tão cedo. A "surpresa positiva" para Anselmo também é compartilhada pelo lateral do Nacional.

"Ele não treinou nenhum dos times de ponta da Suécia. Era elogiado, mas não estava no topo. Até que, pelo mesmo time em que joguei (Norrköping), ele ganhou o campeonato local, chegou à primeira fase da Liga dos Campeões da Europa e, assim, ganhou mais visibilidade. De repente chegou à seleção, tirou o Ibrahimovic... Não esperava! Mas ele mostra a mesma personalidade de sempre. É um cara muito convicto", exalta Caio.

Fofo em casa, esquentado com os vizinhos

Janne Andersson cuida dos jogadores como se fossem seus filhos. Isso envolve o lado carinhoso de levá-los para se distrair, mas também um instinto selvagem para defendê-los nas adversidades. O jogo contra a Alemanha na fase de grupos da Copa representa bem esta postura. Quando membros da comissão técnica rival fizeram provocações em direção ao banco sueco, assim que Toni Kroos virou o placar nos acréscimos, Andersson saiu alucinado para peitá-los.

"Ele gosta muito de academia. Malha pra caramba! Quando vi os alemães querendo encarar, já falei que eles iam sair no prejuízo. O filho da mãe é muito forte!", brinca Anselmo. Depois, ao ser informado das ofensas racistas contra Jimmy Durmaz, que cometeu a falta que originou o gol de Kroos, Andersson comandou uma ação dos atletas no centro de treinamento da Suécia. Seu posicionamento foi forte contra os torcedores racistas. O bem estar de seu grupo e o respeito ao ser humano estão sempre em primeiro lugar.

Técnico da Suécia brigando com alemães - Hannah McKay/Reuters - Hannah McKay/Reuters
Contra a Alemanha, Andersson se irritou e trocou empurrões com integrantes da comissão técnica adversária
Imagem: Hannah McKay/Reuters

Metódico até na hora de comer pizza

A convicção que beira teimosia em Janne Andersson vai do esquema tático aos gostos culinários. O técnico, por exemplo, come a mesma pizza, da mesma pizzaria, há décadas. Também decidiu fazer um ranking dos melhores cachorros-quentes dos estádios na Suécia. Ele experimenta e avalia um a um.

"Não sabia dessa parte da pizza, mas sempre percebi que era metódico. Se ele vê que algo dá certo, confia até o fim. Tanto é que o Kiese Thelin está na Copa. Ele jogou comigo, quando era bem novo, porque foi promovido pelo Janne. Ele apostava muito nele e por isso o levou", diz Caio Mendes, citando até o atacante reserva da Suécia.

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