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'Oliverrá' preferiu Bélgica por Copa, mas afirma: "Torcerei para o Brasil"

Oliveira é brasileiro e jogou pela seleção da Bélgica entre 1992 e 1999 - Mark Thompson /Allsport
Oliveira é brasileiro e jogou pela seleção da Bélgica entre 1992 e 1999 Imagem: Mark Thompson /Allsport

Vanderson Pimentel

Do UOL, em São Paulo

05/07/2018 04h00

Luís Oliveira nasceu no Maranhão, mas fez fama na Europa com o seu sobrenome adaptado ao idioma francês. Como 'Oliverrá', o atacante chegou até mesmo a defender a seleção da Bélgica na Copa do Mundo de 1998.

Após 20 anos, o ex-jogador de 49 anos estará de coração balançado no duelo entre Brasil e Bélgica pelas quartas de final da Copa do Mundo. Mesmo assim, ele fez questão de deixar claro que seu coração será verde e amarelo na próxima sexta-feira (6).

"Minha torcida é pelo Brasil. É o meu país. Em 2002, eu torci pelo Brasil e neste ano também. Claro que tenho um grande carinho pela Bélgica, mas eu sou brasileiro", revelou em entrevista ao UOL Esporte.

Filho de Zezico, ex-ponta direita do Moto Club, Oliveira se destacou nas categorias de base do Tupan, e aceitou uma proposta ainda aos 16 anos de um empresário para jogar nas categorias de base do Anderlecht. Ainda menor de idade e em um país completamente diferente das ruas de São Luis, o ex-jogador sofreu no início. "Foi muito difícil no começo. Não só com a língua, mas também senti muita saudade da minha família, com quem eu era muito ligado. Mas ao mesmo tempo eu queria dar uma condição melhor a eles e isso me motivou."

"Não" ao Brasil

Após três anos, o jogador estreou como ponta direita pelo time profissional em 1988 e nunca mais saiu deixou a equipe titular. Seu desempenho em Bruxelas fez tanto sucesso que após ajudar o Anderlecht a conquistar o Campeonato Belga de 1991, o então técnico da seleção brasileira Paulo Roberto Falcão o telefonou para falar sobre uma possível convocação. Entretanto, a escolha de Oliveira já estava tomada.

"Eu preferi a seleção da Bélgica porque teria mais chances de jogar. Era melhor de atuar aqui do que ser jogar só uma vez pelo Brasil". A opção por não esperar um chamado do Brasil fez com que o atleta arranjasse problemas do outro lado do continente. "Meu pai ficou bravo comigo. Ele disse que tinha certeza de que eu jogaria pela seleção brasileira."

Em 1992, o jogador não só estreou pela seleção belga como também ficou conhecido pelo continente europeu. Oliveira foi contratado pelo Cagliari, e sua passagem de sucesso pelo time da Sardenha fez com ele fosse contratado pela Fiorentina, quatro anos depois.

Sucesso e Copa do Mundo

Municiado por Rui Costa, Oliveira fez trio ofensivo com Enrico Chiesa e Gabriel Batistuta, ajudando a Viola a conquistar a Supercopa Italiana em 1996. Seu desempenho na equipe o ajudou a ser convocado para a Copa do Mundo de 1998. Mesmo sendo titular em todos os jogos ao lado de Luc Nilis, Enzo Scifo e Marc Wilmots, o jogador não conseguiu ajudar a Bélgica a passar ao mata-mata do Mundial. Os empates contra Holanda (0 a 0), México (2 a 2) e Coreia do Sul (1 a 1) fizeram sua seleção terminar na terceira posição do Grupo E.

Depois de deixar a Fiorentina, em 1999, o jogador deixou de ser convocado e encerrou sua participação pela Bélgica com 7 gols em 31 partidas. O jogador voltou ao Cagliari e passou por diversos clubes de divisões menores da Itália e de Malta antes de se aposentar em 2011, aos 42 anos.

Mesmo sem ter atuado pela Copa de 2002, em que a Bélgica foi eliminada para o Brasil por 2 a 0, Oliveira disse que também torceu para o Brasil no duelo das oitavas de final, mas fez um alerta para que a seleção sul-americana saia com a vitória no jogo de sexta-feira (6).

"Acho que o Brasil tem de ganhar essa Copa. Não só tem grandes jogadores, mas também pelo trabalho do Tite. O time teve alguma dificuldade para jogar contra os europeus, mas fez um grande jogo contra o México. Se jogar do mesmo jeito, poderá vencer?, afirmou o ex-jogador, que carrega traços dos idiomas francês e italiano em seu sotaque.

A relação com a Bélgica deixa Oliveira atento à seleção pela qual jogou. Treinador do Muravera, da quarta divisão italiana, o ex-jogador reconhece as qualidades de Roberto Martínez, mas não o vê como o nome ideal para comandar a equipe. "Acho que a Bélgica possui grandes jogadores, mas falta um técnico do mesmo nível."

Vida na Europa

Oliveira - Reprodução/YouTube/Diario Sportivo - Reprodução/YouTube/Diario Sportivo
Oliveira virou treinador em 2012
Imagem: Reprodução/YouTube/Diario Sportivo

Morando desde o fim dos anos 1980 na Europa, Oliveira não cogita retornar ao seu país de origem para treinar uma equipe local. "Não tenho vontade de voltar ao Brasil. Minha família ainda mora no Maranhão, mas a Europa me deu tudo. Tenho uma vida, trabalho na Sardenha e quero continuar aqui mesmo."

Além da qualidade de vida, o treinador fala que nunca sofreu com racismo na Europa, e que inclusive sua origem sempre o ajudou. "Nunca tive problemas lá com racismo. Eu ser brasileiro fazia com que eu fosse respeitado no futebol da Bélgica."

Apesar de estar longe do Brasil há quase 30 anos e com o sotaque diferente do adquirido nas ruas do Maranhão, Oliveira não esqueceu suas raízes. Ao fim da entrevista, o ex-atacante se desculpou várias vezes "por não falar mais português com frequência", e antes de desligar o telefone fez questão de gritar "vai Brasil".

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