Ela manda na seleção croata e faz história ao ficar no banco na Copa

Você pode não ter percebido durante o jogo entre Croácia e Nigéria. Talvez não tenha reparado nem mesmo na foto que abre esta matéria. Mas na Copa do Mundo da Rússia, marcada por seguidos episódios machistas, uma mulher age nos bastidores para garantir que uma seleção de astros como Luka Modric e Ivan Rakitic funcione de maneira impecável. Iva Olivari faz história no esporte.
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Tenista na juventude, ela conquistou resultados expressivos no país e em competições na Europa, até se lesionar e abandonar a carreira. Hoje, aos 49 anos, ocupa um dos cargos mais altos na federação croata de futebol, fruto de uma trajetória de mais de duas décadas trabalhando na entidade. Olivari é a gerente da seleção da Croácia. Para ficar mais claro, tem papel equivalente ao de Edu Gaspar na seleção brasileira.
O posto foi alcançado em 2016, temporada também marcada por sua primeira aparição no banco de reservas dos croatas. Foi na edição da Eurocopa disputada na França. Depois de dois anos, Olivari segue firme no cargo e é apontada pela imprensa local como uma das responsáveis pelo crescimento recente do time. Seu trabalho de bastidores, que envolve questões logísticas e infraestrutura, permitiu aos jogadores e ao técnico Zlatko Dalic um foco maior no que acontece no campo.
"Se há 30 anos me dissessem que eu pararia no futebol, eu diria que era algo impossível. Você nunca sabe para onde a vida te levará. Amo fazer meu trabalho, estar com o time e sempre farei meu melhor. Meus colegas são um grande apoio. Somos uma grande família", exaltou Olivari em 2016, quando se tornou a primeira mulher a ficar no banco na história da seleção croata.
A trajetória até assumir o cargo de gerente passa por experiências mais ligadas à área administrativa e segue em constante evolução. Olivari é cada vez mais ativa na Croácia, inclusive com participação em trabalhos de campo. Só que tudo ainda parece às sombras. Por mais que seja uma figura destoante durante os jogos, cercada de homens no banco reserva, ela é pouco notada para o mundo externo.
No Twitter, por exemplo, foram apenas três menções a seu nome desde o jogo do último sábado, vencido pelos croatas por 2 a 0 diante da Nigéria. Uma matéria para um site do próprio país e outra em um veículo argentino. Um outro jornalista da Argentina, rival dos europeus nesta quinta-feira, às 15h, a citou com foco na curta e vitoriosa carreira no tênis. Se alguém mais reparou na presença de Olivari durante a transmissão da vitória sobre os nigerianos, certamente teve muito trabalho para saber mais informações sobre ela na internet.
Mas na Croácia, principalmente no meio empresarial, a gerente virou referência para ascensão das mulheres no mercado de trabalho. Em março deste ano, Olivari foi entrevistada pela revista Manager e contou detalhes de sua função e de sua carreira. Em 2016, após a surpresa por sua presença na Eurocopa, foi personagem em Glória, uma revista ligada a celebridades, entretenimento e fofocas.
"Com a independência da República da Croácia (em 1995) e a criação da Federação Croata de Futebol, foi necessário o estabelecimento de serviços profissionais. Comecei a trabalhar no Departamento Internacional, desde o início. Novos processos foram lançados e não havia muitas pessoas que pudessem ser ensinadas. Havia uma necessidade de estabelecer um sistema para registro e transferência de jogadores que operava ainda na Sérvia, iniciar relações com Fifa e Uefa e também organizar amistosos. E não apenas do time principal, mas também de jovens, mulheres e futsal. Eu tive várias funções", contou Olivari.
O fato de ter sido uma das primeiras funcionárias da federação e de ter acumulado conhecimento em quase todas as atividades da entidade não impediu que Olivari fosse mais uma vítima de ambientes machistas. Hoje, ela já se vê tratada de forma igualitária. E isso inclui a convivência com os jogadores, que a conhecem desde as categorias de base, quando a chamavam de "Tia Iva".
"O fato é que vivemos em uma comunidade bastante tradicional, onde o futebol é considerado um esporte predominantemente masculino. Mas eu há muito tempo percebi que a única maneira de mudar isso era arregaçar as mangas e provar com trabalho. Acho que hoje, no ambiente em que estou, sinto-me totalmente igual, embora o caminho para isso tenha tido muitos espinhos", alertou.
Entre os obstáculos está sobreviver à desconfiança de se afastar do trabalho no nascimento dos filhos. Depois, encarar horas infinitas entre os cuidados com as crianças e a pressa para retornar às atividades na federação croata: "Com eles crescidos se tornou mais fácil, só que não teria conseguido sem o apoio familiar. O tempo de trabalho no sentido clássico da palavra não existe nesse caso".
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