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TV aberta, digital, a cabo...Quem verá antes o gol nesta Copa do Mundo?

Pouca coisa irrita mais um torcedor que pessoas gritando gol antes da hora; tecnologias têm "delays" diferentes - iStock
Pouca coisa irrita mais um torcedor que pessoas gritando gol antes da hora; tecnologias têm "delays" diferentes Imagem: iStock

Daniel Lisboa e Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

16/06/2018 04h00

Você já passou por isto, você conhece esta história: sai o gol e você fica sabendo pelos gritos dos vizinhos. É o temido “delay”, o atraso na chegada da imagem da TV que varia de acordo com uma série de fatores.  

O tempo de “delay” é, na prática, o quanto demora para dados de imagem e áudio chegarem até você. E aí não necessariamente as tecnologias mais avançadas e procuradas têm um atraso menor. Aliás, é o contrário.

As TVs analógicas, hoje consideradas peças de museu por muita gente, têm uma qualidade de imagem bem inferior que as digitais. Disso já sabemos, mas aquela partida cheia de jogadores duplicados chegava mais rápido até você. 

Isso acontecia porque os dados eram transmitidos via ondas de rádio. Na TV digital, áudio e imagens passam por um processo de codificação, compressão e decodificação antes de finalmente surgirem no seu aparelho.

Lógica parecida vale também para as diferentes modalidades de transmissão: na TV aberta, por exemplo, os gols chegam antes. É o que explica Guido Stolfi, professor do Departamento de Engenharia de Telecomunicações e Controle da USP. O “delay”, no caso, é mínimo, podendo ser de apenas 0,3 segundo. Só as transmissões via rádio conseguem ser tão rápidas.

Canais de TV a cabo não-digitais são os próximos no ranking de menor atraso. Na sequência, vêm os digitais, e em último lugar estão as transmissões via streaming, com “delays” de, em média, seis segundos. Quem usa essa última tecnologia para ver jogos, porém, sabe que pode demorar bem mais do que isto.

Stolfi esclarece o que contribui com o “delay” em cada etapa pela qual passa o pacote de dados. “Na compressão, pesa a codificação do vídeo, em MPEG ou H.264, que impõe um atraso de no mínimo algumas dezenas de milissegundos, uma parte disso no transmissor e outra no receptor”, explica.

“Já na transmissão, os processos digitais espalham os bits de informação ao longo de um certo intervalo de tempo para tornar a transmissão mais robusta contra interferências. No sistema ISDB-T, da televisão aberta, esse atraso pode chegar a meio segundo. Nos casos em que o sinal é transmitido a longas distâncias, às vezes tem que subir e descer por satélite, várias vezes, cada enlace introduz novo atraso.” E há ainda, lembra Stolfi, atrasos advindos da produção das imagens.

“Tratamento das imagens, inserção de legendas, mixagem de câmeras, podem acrescentar atrasos variáveis e indeterminados. Podem haver atrasos de alguns segundos para ajustar a exibição de legendas em tempo real, ou para dar a chance de bloquear palavrões ou cenas problemáticas em transmissões ao vivo”, explica.

Outra questão que torcedores provavelmente já notaram é que há, sim, diferenças no “delay” entre uma operadora e outra. Aqui é difícil determinar qual está na frente de qual, mas Stolfi explica que, para o bem ou para o mal, boa parte da responsabilidade recai nas escolhas técnicas de cada operadora.

“A velocidade depende da decisão da operadora em balancear qualidade e agilidade na recepção do sinal”, explica o professor. “As empresas podem, por exemplo, fazer ajustes durante a Copa para privilegiar a velocidade da transmissão.”

Em suma, a demora do sinal digital depende de como a operadora escolhe mandar o sinal. Transmitir áudio e imagem de alta qualidade pode significar um pacote de dados mais pesado e, consequentemente, um maior atraso na recepção. Ou seja, por enquanto não há muito como escapar do dilema: o que você prefere, assistir a um gol em altíssima definição ou vê-lo antes de todo mundo?

Outra dúvida esclarecida por Stolfi é sobre as transmissões via streaming. Se, na hora de fazer um download, é significativa a diferença entre uma conexão via cabo e uma via fibra óptica, esta questão não é importante em um jogo ao vivo. “O que a internet a cabo faz é garantir que o sinal chegue até você de uma maneira contínua. Não se trata de passar dados que estão armazenados em um lugar para outro lugar. A questão é gerar e entregar os dados, pouco importa a tecnologia.”

A operadora Sky costuma divulgar que seus assinantes assistirão aos gols antes de todo mundo. De acordo com o professor, isso é possível porque transmissões via satélite têm mesmo uma pequena vantagem em relação à TV aberta. 

“O delay ocorre geralmente por falta de planejamento. É possível, tomando cuidado na configuração dos equipamentos, reduzir esse atraso”, diz Stolfi.

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