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Semelhanças com LeBron afetam passado, presente e talvez o futuro de CR7

Cristiano Ronaldo é marcado por Piqué no empate por 3 a 3 entre Portugal e Espanha - Stu Forster/Getty Images
Cristiano Ronaldo é marcado por Piqué no empate por 3 a 3 entre Portugal e Espanha
Imagem: Stu Forster/Getty Images

Dassler Marques e Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo e Sochi

16/06/2018 04h00

Ele tem 33 anos e já é um atleta veterano, mas se ainda existe alguém no mundo que não o conhece, esta pessoa dificilmente adivinhará sua idade. Os músculos são saltados e definidos e o percentual de gordura está abaixo de qualquer número que possa ser atingido por um reles mortal. Quando a bola entra em cena, então, ele poderia muito muito bem se passar por alguém de 20 e poucos anos, no auge da sua capacidade física, mas com técnica que não deve nada à potência e uma dose grande de frieza. Não há dúvida de que se trata de uma lenda do esporte, com habilidades lapidadas por anos de carreira em alto nível. 

A descrição acima poderia ser usada tanto para Cristiano Ronaldo quanto para LeBron James, astro do basquete internacional. A diferença, além de alguns muitos centímetros de altura, é a cor da bola, branca ou laranja, e se ela é conduzida pelos pés ou pelas mãos. Ambos acumulam mais de 15 anos de carreira com números que os colocam entre os maiores da história em seus esportes, técnica para lidar com todas as situações ofensivas de jogo, físicos de desafiar o tempo e títulos inéditos, capazes de alçar um elenco de coadjuvantes a um novo patamar histórico.

O paralelo acompanha a dupla desde que ambos se estabeleceram na elite. Na última sexta, quando Cristiano Ronaldo carregou um Portugal esforçado, mas bastante falho, rumo a um 3 a 3 heróico contra a poderosa Espanha, as comparações voltaram com tudo. Seria o atacante do Real Madrid a versão futebolística de Lebron James, que há poucas semanas levou um desacreditado Cleveland Cavaliers à final da concorrida NBA?

A comparação começa no nível mais visível a olho nu, o físico. Cristiano é conhecido por ser o primeiro a chegar e último a sair dos treinamentos desde os tempos de categorias de base, no Sporting, na sua terra natal. Dispensa bebidas alcoólicas e pratica natação em uma gigantesca piscina particular. James é adepto de pilates, escalada e spin, atividades registradas de maneira repetitiva nas redes sociais. Às vezes o esforço na academia é tanto que é quase o caso de se perguntar: quando sobra o tempo para o basquete?

A força e explosão do americano nas suas tradicionais infiltrações, vencendo a marcação e levando a bola à cesta, são reflexo disso, e encontram semelhança nas arrancadas de Ronaldo; Na sexta, por exemplo, o português cruzou o gramado com uma velocidade impressionante para auxiliar Gonçalo Guedes em contra-ataque, mas o companheiro acabou desperdiçando uma bela chance quando recebeu passe açucarado do atual melhor do mundo.

E o físico não é tudo. LeBron pontua, pega rebotes, dá assistências e está na elite da NBA em todas as fases ofensivas do jogo. Ronaldo, por sua vez, finaliza com as duas pernas, é excelente no jogo aéreo e cobra faltas. Quem acompanha basquete vai se lembrar da performance do americano no jogo 2 da série contra o Toronto Raptors, pelos playoffs deste ano: foram oito arremessos de alta dificuldade, pulando para trás para fugir da marcação, daqueles que foram eternizados por Michael Jordan e que requerem precisão total. Desempenho não muito diferente da magistral cobrança de falta de Cristiano para empatar o confronto com a Espanha nesta sexta em Sochi.

Conquistas inéditas com azarões e renovações em andamento

Cristiano Ronaldo carrega Portugal nas costas, assim como LeBron James faz com o Cleveland Cavaliers - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Imagem: Reprodução/Twitter

Com James, o Cleveland Cavaliers venceu o primeiro título da NBA da história da cidade, em 2016. Com Ronaldo, a seleção portuguesa venceu o grande título de sua história, também em 2016. Ambos tinham times respeitáveis, mas não favoritos ao título. Nas finais, despacharam adversários poderosos e cotados para vencer: Golden  State  Warriors e a seleção francesa, respectivamente.

Carregar elencos com limitações é algo natural para os dois. Nos playoffs deste ano, LeBron, já sem seu fiel escudeiro Kyrie Irving, que se transferiu para o Boston Celtics, carregou um Cavs em transformação, com jovens que não se firmaram, até a final. Foi o líder em pontos dentre todos os jogadores na fase mata-mata (34 pontos por jogo), liderou sua equipe em assistências e foi o segundo do time a pegar mais rebotes.

Nas trocas realizadas durante a temporada, o time de Cleveland apostou em jovens talentosos, que vinham mostrando potencial em suas franquias: Rodney Hood, do Utah Jazz, e Jordan Clarkson, do Los Angeles Lakers. Ambos tiveram queda em todas as estatísticas na temporada, e acabaram sendo pouco utilizados por um receoso técnico Tyronn Lue. Nos playoffs, não passaram de cinco pontos por partida.

A seleção portuguesa passa também por um momento de apostas e renovação. Nomes como Bernardo Silva, Gonçalo Guedes e Bruno Fernandes, que não participaram da conquista da Euro e se firmaram na Europa na última temporada, são os responsáveis por dar suporte ofensivo a seu astro. Na estreia no Mundial, entretanto, a responsabilidade caiu sobre os ombros de Ronaldo, que a exemplo de James, não hesitou em carregá-la, marcando três gols em um épico empate contra uma das seleções favoritas da competição.

Se aproximando dos 34 anos, nenhum dos dois dá sinais de diminuir o ritmo. James vem de seus melhores playoffs em números desde 2009, e atuou por todos os 82 da temporada regular e mais os 22 da pós-temporada. No caso de Cristiano, desconsiderar seus números pela constelação de estrelas que é o Real Madrid em nada diminui seu impacto: desde 2016, são 29 gols em 28 jogos só com a camisa de Portugal.

Em 2018, os Cavs de LeBron só vieram a sucumbir na final, diante do Golden State Warriors, um dos melhores times da história do basquete, algo semelhante ao Barcelona de Guardiola. Portugal fez frente à Espanha, mas terá pela frente vários potenciais Warriors em seleções como Brasil, Alemanha, Argentina e França. Se conseguir emular Lebron e, com ou sem ajuda, levar os portugueses até a final, Cristiano Ronaldo poderá manter a impressionante série de semelhanças e, quem sabe, entrar para a história.

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