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Copa 2018

Copa tem 1º jogo decidido pelo VAR e mostra novos hábitos até para reclamar

Árbitro confere imagens da jogada. Ele não havia dado penalidade, mas mudou a decisão com o VAR - Michael Regan - FIFA/FIFA via Getty Images
Árbitro confere imagens da jogada. Ele não havia dado penalidade, mas mudou a decisão com o VAR Imagem: Michael Regan - FIFA/FIFA via Getty Images

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

16/06/2018 04h00

Foram necessários apenas três dias para a Copa do Mundo da Rússia mostrar que tipo de inovação traz para o futebol: o árbitro de vídeo para auxiliar em decisões importantes e o chip de deslocamento e posição da bola foram recursos cobrados ou utilizados em dois jogos, com destaque para a vitória da França por 2 a 1 sobre a Austrália, que abriu o Grupo C neste sábado.

Aos nove minutos do segundo tempo da partida em Kazan, Paul Pogba lançou Antoine Griezmann, que invadiu a área e caiu. O árbitro uruguaio Andrés Cunha mandou seguir, a bola foi afastada pela lateral e, de repente, o jogo foi paralisado. Cunha correu para o monitor na beira do campo e acionou seus assistentes de vídeo para rever o lance. Rapidamente, foi indicado que Griezmann, sim, havia sofrido pênalti.

Os australianos esboçaram revolta, mas rapidamente se calaram. Era como se percebessem que, com tanta tecnologia, seria difícil que a arbitragem tivesse errado - embora o pênalti possa ser considerado duvidoso. Só que essa timidez da equipe da Oceania desapareceu sete minutos mais tarde, quando sete jogadores correram em direção a Cunha, gritando de forma desesperada para que o juiz recorresse novamente aos assistentes de vídeo para observar ação do zagueiro Samuel Umtiti.

VAR em jogo França x Austrália - AFP - AFP
Telão no estádio de Kazan avisa os torcedores que os assistentes de vídeo estavam trabalhando
Imagem: AFP

Cunha esperou pouquíssimos segundos, nem sequer foi ao monitor e apontou pênalti. No primeiro replay a marcação foi comprovada: Umtiti cortou cruzamento com a mão de forma inexplicável. Os franceses, assim como os adversários, pareciam encabulados demais para reclamar. E a cena se repetiria mais para o fim do jogo, com o segundo gol europeu. Em dividida, Pogba tentou chutar e conseguiu encobrir o goleiro. A bola quicou próxima à linha e voltou para campo, mas o chip, sincronizado com sensores nas traves e no relógio do árbitro indicaram o gol. Por milímetros.

A tecnologia do chip já havia sido utilizada na última sexta-feira, quando Espanha e Portugal empataram por 3 a 3, pelo Grupo B. O lance que deixa mais evidentes as novas dinâmicas e hábitos do futebol ocorreu aos 25 minutos do primeiro tempo. Isco aproveitou uma bola mal afastada pela defesa portuguesa e chutou forte, de fora da área. A bola explodiu no travessão e desceu direto na linha do gol, gerando dúvida sobre ter entrado ou não. Antes de concluírem a jogada que terminou com defesa de Rui Patrício, os jogadores da Espanha reclamaram com a arbitragem pedindo gol.

Isco dirigiu-se ao árbitro Gianluca Rocchi fazendo a mímica de um aparelho de TV, com os dedos desenhando uma tela como sugestão para ele consultar o árbitro de vídeo. O juiz apontou para o seu relógio no pulso, mostrando que o aparelho não deu alarme, ou seja, a bola não entrou. Isco não rebateu o árbitro, aceitou a indicação e seguiu o jogo.

A instituição do árbitro de vídeo e do chip na bola para a Copa do Mundo evita, assim, um grande número de decisões erradas ao longo de uma partida e consequentemente o excesso de reclamações e chiliques dos jogadores - no Brasil, a mania de fazer rodinhas em torno de árbitros e contestar ostensivamente a postura de árbitros motivou uma reportagem no UOL Esporte.

Bola na trave de Portugal - Simon Hofmann/FIFA/FIFA via Getty Images - Simon Hofmann/FIFA/FIFA via Getty Images
Imagem: Simon Hofmann/FIFA/FIFA via Getty Images

O árbitro de vídeo também foi utilizado de maneira evidente na mesma partida. No primeiro gol da Espanha no empate contra Portugal, Diego Costa dividiu pelo alto com o português Pepe, ficou com a bola e estufou as redes. Na TV, o árbitro Rocchi é flagrado tentando ouvir os assistentes de vídeo e decide confirmar o gol. Nenhum jogador português ficou esbravejando com a polêmica marcação.

O uso do árbitro de vídeo durante as partidas da Copa do Mundo pode ocorrer em lances de gol, jogadas de pênalti, cartões vermelhos ou momentos em que exista dificuldade na identificação de um jogador. Em cada jogo são oito profissionais responsáveis pelo mecanismo, sendo um árbitro de vídeo principal, três assistentes e técnicos de operação dos equipamentos. A equipe do VAR (sigla em inglês para o árbitro de vídeo) analisa lances de gol e, se entenderem que é clara e óbvia a infração, podem convidar o árbitro a ver o lance. Em lance de interpretação do profissional não há o mesmo tipo de comunicação.

De mesma proporção, outro grande passo da Copa do Mundo é a bola equipada com chip e monitorada em tempo real pela equipe de arbitragem. A tecnologia utilizada nela é NFC (Near  Field  Communication), que permite a comunicação por meio de um aplicativo, o que difere da Goal-Line  Technology, GLT, já utilizada na Copa do Mundo de 2014 para saber simplesmente se a bola passou da linha do gol. A própria França, "beneficiada" neste sábado, já havia tirado proveito da tecnologia em jogo contra Honduras há quatro anos.

A aceitação por parte dos jogadores de uma indicação da tecnologia, não passível de erros, e a cobrança por uso desta tecnologia são discursos iniciados na Copa do Mundo de 2018, que evidenciam o futebol como agente de constantes mudanças de linguagem.

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