Titular "surpresa", Danilo reforça tradição brasileira na lateral direita

Dia 8 de maio de 2018. Seis dias antes da convocação da seleção brasileira que disputaria a Copa do Mundo na Rússia. Danilo, do Manchester City, tinha poucas chances de ser parte do grupo, mas viu sua sorte mudar quando Daniel Alves levou a mão ao joelho durante a disputa da final da Copa da França pelo PSG. De surpresa na lista de Tite, o ex-santista chega na estreia do Brasil diante da Suíça, neste domingo, às 15h, como o titular da lateral direita.
Daniel Alves foi absoluto sob o comando de Tite, titular em 18 jogos no biênio 2016-2017 e primeira opção para levantar a taça em caso de hexa. No mesmo período, Fagner, o segundo “colocado”, saiu jogando três vezes, contra uma cada de Danilo e Rafinha. O lateral corintiano sofreu uma lesão muscular na coxa direita no dia 30 de abril deste ano, mas não chegou a ter suas chances de ir à Rússia afetadas diante da expectativa da comissão técnica de que se recuperaria a tempo de compor o banco de reservas.
Com o anúncio, dias depois da lesão, de que Daniel não teria condições de disputar o Mundial, formou-se a tempestade perfeita de Danilo. Fagner foi convocado, dentro do esperado, mas largou atrás física e clinicamente por causa do problema muscular, abrindo caminho para a titularidade do companheiro. Trata-se de um drama antigo para a seleção, que de novo aposta em um jogador até então desacreditado como titular em uma Copa do Mundo. Na verdade, não é nem a primeira, nem a segunda vez que isso acontece especificamente com um lateral direito.
Lesão do reserva e peripécia de titular deu vaga a Josimar
Às vésperas da Copa de 86, Telê Santana tinha as vagas na lateral direita praticamente definidas. Leandro, do Flamengo, era a primeira opção, com Edson Boaro, do Corinthians, firme na reserva. O titular, entretanto, pulou o muro da concentração com o amigo Renato Gaúcho para curtir a noite e voltou atrasado. Apenas Renato foi cortado pelo exigente Telê, mas o companheiro de aventura, em solidariedade, se retirou da seleção. Josimar, do Botafogo, foi o substituto.
Foi Edson, conhecido como Abobrão, quem começou o torneio como titular, mas durou pouco mais de 90 minutos, deixando o gramado lesionado aos dez do primeiro tempo da segunda partida da fase de grupos, diante da Argélia. No terceiro jogo, contra Irlanda do Norte, Josimar ganhou a vaga, marcou um golaço na vitória por 3 a 0 e não saiu mais do time.
“Agradeço ao falecido Telê Santana e a todos do grupo na época, que me apoiaram, porque eu fui o último jogador a chegar. Os jogadores deram uma força muito grande para que eu pudesse desenvolver o meu futebol. Eu só tenho a agradecer ao Zico, Sócrates, que procuravam me orientar, e graças a Deus as coisas deram certo”, disse o lateral, em maio, ao UOL Esporte.
Com o apoio dos mais experientes, Josimar ainda marcou seu segundo gol nas oitavas de final, ajudando na goleada por 4 a 0 sobre a Polônia. O Brasil viria a ser eliminado nas quartas pela França de Platini, em uma traumática disputa de pênaltis que terminou 4 a 3 para os franceses.
Zé Carlos foi da Matonense a uma semifinal de Copa do Mundo
Zé Carlos defendia a Matonense em 1997 quando, já com 28 anos, recebeu uma proposta do São Paulo. No Morumbi, viveu a melhor fase da carreira durante o primeiro semestre do ano seguinte, e acabou ganhando de Zagallo a vaga como reserva de Cafu na Copa que seria disputada na França.
Campeão em 94, o Brasil não disputou Eliminatórias no caminho para 98. Zé Carlos chegou ao Mundial com zero partidas disputadas vestindo a camisa amarela e com expectativa de sequer entrar em campo, já que Cafu era absoluto na posição. Quando o titular recebeu cartões amarelos nas oitavas, diante do Chile, e nas quartas, diante da Dinamarca, o impensável aconteceu.
Zé Carlos estreou pelo Brasil em uma semifinal de Copa do Mundo, contra a então poderosa Holanda de Davids, Seedorf, Bergkamp e Kluivert. Nervoso, apareceu pouco no ataque, mas não chegou a comprometer. A seleção passou nos pênaltis e, com Cafu de volta, caiu para a França de Zidane na final. Aposentado, o lateral tem conselhos para Danilo, adquiridos com a experiência.
“O Danilo tem de saber que está lá porque tem condição. No meu caso, eu sabia, porque eu vivia um bom momento no São Paulo na época. O pessoal até cogitava que o Cafu não estava em um bom momento lá fora, mas o Cafu era uma pessoa de confiança do Zagallo e um cara tarimbado. No caso do Danilo ele tem que ter confiança. Não é porque ele veio de um corte [que ele não teria condições], ele também tem condições de jogar, de ser titular. Não era a primeira opção e entrou no corte, mas isso no meio do futebol é normal. Por exemplo, na França, no início da Copa, quem saiu como titular no meio campo foi o Giovanni [ex Santos e Barcelona]. Ele acabou saindo do time, isso é normal”.
Danilo, diga-se, tem perfil diferente de Josimar e Zé Carlos. Aos 26 anos, defende o Manchester City de Pep Guardiola, disputou 37 partidas na temporada e também acumula uma passagem pelo Real Madrid. Na Rússia, a partir de domingo, terá oportunidade de fazer o que nem Josimar nem Zé Carlos conseguiram: começar e terminar uma Copa do Mundo como titular e, quem sabe, campeão.
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