Conheça Thor, o guaxinim mais popular do que Copa em São Petersburgo

Thor parecia mais popular que a Copa nas ruas de São Petersburgo. Até os russos, que não estão muito animados com o Mundial, abriam sorrisos para o guaxinim que fazia cara de prazer enquanto recebia carinho do dono. A felicidade do animal aumentava porque logo eram quatro, seis mãos afofando seu pelo.
Uma cena que não deveria estar acontecendo na opinião da dona do animal. Polina tem 21 anos, é ativista ambiental e não fala o sobrenome ou tira fotos com medo de retaliação do governo. O temor se explica porque ela não economiza nas críticas ao presidente da Rússia, Vladimir Putin. Está mais pistola com ele do que um certo canarinho...
“É um absurdo Putin gastar uma fortuna (R$ 40,5 bilhões) e uma energia imensa num estádio e ignorar os animais. Os guaxinins são retirados da natureza em Sochi para serem vendidos e acabam abandonados. Ninguém faz nada”.
O namorado para de fazer carinho em Thor para contextualizar. Yuriy, 27 anos, também esconde o sobrenome e o rosto e explica que as pessoas compram os animais quando eles são filhotes. Mas os guaxinins se tornam agressivos ao completarem nove meses e entrarem na adolescência. A maioria é abandonada sem ter aprendido a viver na natureza.
“Eles mordem, arranham as pessoas, quebram tudo em casa. Nós recolhemos os animais e tratamos. Já fizemos isto com 15 e destes ficamos com seis deles por falta de ter a quem entregar”.
Polina tira a luva direita e mostra as marcas de dentes na parte fofinha da palma da mão, entre o polegar e o indicador. Os russos têm um apreço por ter animais silvestres. Pesquisa da revista National Geographic divulgada em 2013 colocava o país como maior comprador mundial de aves selvagens. O destino eram zoológicos, casas (para virar animal de estimação) e ateliês (para fazer chapéu).
O casal de ativistas conhece esta realidade e fala que Thor também foi retirado da natureza para virar pet. Quando cresceu foi abandonado. Chegou até eles tão magro que não andava direito. Polina protesta porque o governo não se importa com esta realidade, mas está muito preocupado em se vender para o mundo sediando uma Copa. "Querer parecer forte é um comportamento típico do nosso presidente".
Ela reclama que a sociedade é conivente porque os russos não têm consciência ambiental. “Não estão comprando um gato”, compara. O desapego do país a causas ambientais remete aos tempos da União Soviética. Quando a cortina de ferro caiu, o mundo descobriu que a nação se industrializou usando a natureza como atalho.
O modelo de crescimento foi pouco alterado e, conforme a ONG Instituto Blacksmith, hoje a Rússia tem duas das 10 cidades mais poluídas do mundo: Dzerzhins e Norilsk. Até poluição radioativa foi detectada em 2017 próximo aos Montes Urais, uma cordilheira na Rússia que serve de limite geográfico entre Europa e Ásia.
O quartinho da bagunça guaxinins
Com um cenário tão grave, o casal sabe que a preservação da fauna não é uma causa que comove a sociedade. Mas por serem militantes, foram envolvidos numa situação que levou a ter meia dúzia de guaxinins em casa. A realidade se impôs novamente e eles desistiram de sonhar com móveis intactos.
Mas conseguiram amenizar o problema montando um espaço para diversão dos guaxinins. Uma sala do apartamento que moram teve toda a mobília substituída por construções em madeira que servem de brinquedos para os bichos subirem, se esconderem e brincarem.
A manutenção, higiene e alimentação fica por conta deles. Polina diz que poderiam até lucrar: há pessoas que oferecem um bom dinheiro para comprar um dos guaxinins. Thor recebeu oferta de 40 mil rublos (R$ 2,3 mil).
Yuriy afirma que não aceitam as propostas por princípio. Não quer incentivar o comércio de animais selvagens na Rússia. Ele acredita que situação seria diferente se a Rússia tivesse uma política de preservação da fauna.
“O órgão de governo não protege os animais selvagens. Se o presidente quisesse, rapidamente acabava com esta desordem. Mas as autoridades não sabem de nada e a população não entende a importância de preservar”.
Sucesso entre torcedores
Polina não tem esperanças que a Copa mude alguma coisa. Avalia que cada país está preocupado com seus problemas. Diz ainda que os torcedores estão na Rússia para torcer e se divertir. O foco está desviado deste tipo de realidade.
Mesmo contrariados com o mundial e céticos de que o torneio traga qualquer avanço, os dois não negam fotos ou impedem que Thor receba carinho dos torcedores. Sabem que o guaxinim gosta dos agrados e ficam felizes em ver as pessoas tratando bem o animal.
Polina relata que o comportamento dos torcedores é o mesmo que os russos adotam quando os guaxinins são levados para passear. O casal aproveita para tirar fotos divertidas e fofas. Agiram assim quando a mascote da Copa cruzou o caminho de Thor.
A garota fala que se a necessidade de levar os animais para passear ainda faz adultos e crianças contentes, melhor. Mesmo que seja consequência de algo que ela considera um erro grave que tira guaxinins, ursos e tigres de seu habitat natural na Rússia.
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