Melancolia e frustração marcam Itaquera 4 anos depois da "Copa das Copas"
Lá se vão quatro anos desde a abertura da Copa do Mundo em Itaquera, e parece que até o tempo colabora para um certo ar de melancolia no bairro.
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Se a capital paulista tinha céu claro e luminoso no dia de Brasil x Croácia, nesta quinta-feira o cinza e o vento gelado davam à Zona Leste de São Paulo um ar de inverno inglês. Em uma cidade industrial.
Claro que o contexto é muito diferente: a Copa agora é em um país longínquo e o jogo de abertura não é dos mais atraentes. Mesmo assim, fica difícil não lembrar de 2014 ao entrar na Linha 3-Vermelha do metrô rumo à estação Corinthians-Itaquera.
Hordas barulhentas e entusiasmadas lotavam os vagões desta mesma linha há quatro anos. Rumavam para um dos maiores momentos da história do país. Assistiriam ao início de um evento que prometia ser um marco simbólico do “Brasil grande”, mas não apenas: teoricamente, traria benefícios concretos ao país. Deixaria o famoso “legado”, talvez a mais gasta palavra do vocabulário nacional em anos recentes. Em suma, seria a "Copa das Copas" (o que até foi no âmbito puramente esportivo-festeiro).
Uma hora antes da abertura oficial da Copa 2018, e a três dias da estreia do Brasil na competição, porém, nada ao redor lembra nem remotamente aquela euforia generalizada. Vendedores ambulantes entram e saem dos vagões tentando empurrar artigos que nada têm a ver com futebol ou seleção brasileira.
“Olha a carteira de couro sintético e linha de sapateiro! Tem preta, vermelha, marrom, caramelo. Era dez, agora tá cinco reais”, grita um deles. Bate na carteira enquanto fala, aparentemente em um esforço para comprovar a qualidade da mercadoria. “Só não pode colocar moeda, senão cai”, avisa em seguida.
Em todo o longo percurso da Linha Vermelha, que liga o oeste ao leste de São Paulo, quase nada no mar de edifícios que margeia a via sugere uma Copa do Mundo a caminho. Uma bandeira do Brasil pendurada na sacada de um prédio próximo à estação Carrão parece ser o único sinal realmente visível deste momento. Isso, claro, considerando que a bandeira faz mesmo alusão à Copa.
O metrô se aproxima de Itaquera e a Arena Corinthians, à direita de quem vem do centro, lembra que, a não ser pelo estádio, quase nada do prometido ao bairro foi entregue. Até porque, convenhamos, só faltava nem o estádio ser entregue.
No centro de Itaquera (sim, Itaquera é tão grande que tem um “centro”), três carros, além de uma van escolar, passam decorados com bandeiras do Brasil. É a única decoração para a Copa que a reportagem do UOL Esporte vê em três horas na região.
Melhorias na saúde, segurança, habitação e infraestrutura, além de empreendimentos que impulsionariam a economia do bairro. Muito foi prometido à Itaquera, pouquíssimo virou realidade.
Como o UOL Esporte já revelou em reportagens anteriores, é constrangedora a lista de melhorias que ainda não saíram do papel: fórum, centro de convenções, parque tecnológico, realocação de moradores da Comunidade da Paz, reforço na infraestrutura policial, canalização do córrego Rio Verde.
Para não dizermos que absolutamente nada foi entregue, o córrego Laranja-Azeda teve 250 metros canalizados e pelo menos seis obras viárias estão prontas. Os personagens ouvidos pelo UOL Esporte no bairro, porém, deixam claro que as expectativas criadas em 2014 ainda estão longe de serem atendidas.
Pior, o mercado imobiliário parece acreditar no contrário. Apesar de pouco ter efetivamente melhorado, a especulação imobiliária corre solta. Entre 2009 e 2017, o valor médio do aluguel no bairro subiu nada menos que 97,4%.
Alex Paulo era integrante do conselho do bairro em 2014. Mantém a página Leste Online e continua extremamente ativo no que se refere a denunciar as mazelas da região e reclamar providências.
Edmilson dos Santos Souza tem uma loja em uma das principais avenidas da região há dezoito anos, e também já fez parte do conselho. Reclama do aumento galopante do preço do aluguel do espaço.
A reportagem do UOL Esporte assistiu ao início do jogo de abertura em um típico boteco “pé-sujo”. Três pessoas no canto do balcão de inox assistiam, com desinteresse quase total, ao jogo que passava em uma pequena TV de tubo com imagem tremida ao estilo anos 80.
Quem quisesse alguma qualidade na imagem tinha outra opção de TV, de tela plana, nos fundos do boteco. Duas pessoas "assistem" ao jogo pelo aparelho e não parecem demonstrar um pingo de interesse a mais.
Sai o primeiro gol da Rússia, alguém grita gol. Ninguém acompanha.
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