Afinal, quem é de esquerda vai usar a camisa amarela da seleção?

Usar ou não a camisa da seleção brasileira nesta Copa do Mundo? Talvez nunca antes na história deste país a pergunta causou tanto debate.
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O uso em massa do uniforme canarinho, e das cores verde e amarela, nos protestos pelo impeachment da presidente Dilma em 2015 e 2016, transformou a camisa do Brasil no símbolo involuntário de um dos espectros políticos.
Para muita gente que se identifica com a esquerda, ficou difícil desassociar uma coisa da outra. O resultado prático deste fenômeno, porém, ainda é difícil de avaliar. A Netshoes, por exemplo, informou que suas lojas virtuais registraram um crescimento de 80% nas vendas da camisa da seleção em maio, na comparação com abril.
Já a Nike informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a venda de camisas dobrou nos dias logo após o lançamento do uniforme, quando comparada ao mesmo período de 2014.
Se esses números mostram que o apelo comercial da camisa não foi afetado pela polarização política, dados mais detalhados podem levantar alguma dúvida sobre isso. O uniforme azul, menos associado à crise política, representa até o momento cerca de 30% do total vendido pela Netshoes. Em 2014, a parcela era de apenas 10%.
A Nike confirma o sucesso da camisa azul. De acordo com a fabricante, o modelo, inclusive, já esgotou em algumas lojas.
Independente do que digam os números, parece inquestionável que a discussão está presente nas mesas de bar, reuniões de amigos e afins. Afinal, quem se considera de esquerda vai vestir amarelo? O UOL Esporte lançou a questão.
Militante do PSOL e apaixonado por futebol, o palmeirense Arilton Soares tem uma posição firme: se quiser, vai sim vestir amarelo. “Acho pouco razoável transformar a camisa de um time de futebol num símbolo do golpe”, diz ele. Há uma subestimação da esquerda que se pretende bem pensante a respeito do povo, que seria manipulado através da paixão do futebol. Ninguém nesse país tem dúvida de que a CBF é corrupta, que o futebol serve para negociatas milionárias”.
Também militante do PSOL e fã de futebol, Juliana Carvalho já não se sente tão à vontade assim com a “canarinho”. “Assisto todos os jogos, acompanho e torço de coração pela seleção. O grande problema é que a camisa da CBF virou o símbolo dessa gente que saiu às ruas apoiando o golpe, então não vou usar a camisa pelo símbolo que ela se tornou”, argumenta ela.
Juliana diz que tem procurado alternativas à camisa tradicional da seleção. “Eu nem sou tão exigente, só não quero usar o símbolo da CBF. Não precisa nem ter foice e martelo, pode ser um meio-termo”, brinca.
Apesar de se considerar “muito de esquerda”, Paulo Wolfenson diz que “sabe separar as coisas”. Como Soares, ele não vê muito sentido nesta história de não usar a camisa por questões políticas. “Eu acho que, em época de Copa, isso é bobagem. Transcende essas disputas políticas”, diz ele.
“A camisa da CBF só foi usada porque futebol é muito popular. Como ideologia para se contrapor ao petismo. O nacionalismo como tática de convencimento”, acredita o professor de filosofia. Para ele, uma prova disso é que a classe trabalhadora irá usar a camisa, “inclusive seus intregrantes que votarão no Lula”.
Danilo Wallid revela que sua birra com a camisa amarela não começou agora. Ele diz ter perdido a “fissura” de torcer pelo Brasil já há muito tempo, mas “não permitiria que tal escória cooptasse a indumentária com exclusividade” caso ainda quisesse fazê-lo.
“Esse ano eu até queria botar novamente a camisa da seleção. Não com a mesma fissura de antes, mas pelo menos para tentar resgatar o lado bom da infância, quando se pintava a rua e tal”, diz Wallid. Mas ele não o fará, e neste caso o motivo não é a polarização política. “A presença do Neymar foi decisiva para me fazer mudar de ideia. Um time que tem como referência uma figura como ele, para mim não é exemplo de nada.”
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