Fifa se confunde sobre VAR e diz que só quer tirar "grandes erros" da Copa

A pergunta pegou o suíço Massimo Bussacca de calças curtas. “E se um jogador levar amarelo por tirar a camisa comemorando um gol e esse gol for depois anulado pela arbitragem de vídeo? O amarelo é retirado?”. Bussacca, chefe do Comitê da Arbitragem da Fifa, hesitou. Sorriu. Ficou nitidamente em dúvida sobre o que responder. “Sim, claro. O amarelo é retirado”, arriscou.
E arriscou mesmo. Porque depois, questionado pela reportagem do UOL, percebeu que estava errado – ainda que não tenha ficado muito convencido quando veio a correção de Zvonimir Boban, ex-jogador croata, hoje vice Secretário Geral da Fifa.
A reportagem perguntou o que aconteceria se, no calor da partida, um jogador insultasse o árbitro e recebesse vermelho após uma jogada que posteriormente seria corrigida pelo VAR. “O que você acha? Se ele me xingar, o vermelho será mantido. Atitudes antidesportivas são sempre atitudes antidesportivas”.
“Mas então qual a diferença para o jogador que tira a camiseta?”, perguntou o UOL.
Foi aí que entrou em cena Boban. “Não, o cartão não será retirado para o jogador que tirar a camiseta na comemoração. Ele sabe que não pode fazer isso, independente de o VAR anular ou não o gol. O cartão é mantido”, falou o croata. Bussacca murmurou. “É, não lembro bem o que respondi ali”.
No dia em que a Fifa apresentou ao mundo as salas onde trabalharão os árbitros de vídeo durante o Mundial, no IBC (Centro Internacional de Transmissões, no noroeste de Moscou), a pequena confusão mostra que evitar esse tipo de debate não é a principal intenção da Fifa ao oficializar o VAR.
“O que não queremos são os grandes erros. Os lances de interpretação continuarão gerando confusão. E isso é bom! Senão não teremos mais do que falar”, seguiu Boban.
“Evitar grandes erros” foi a máxima defendida por Bussacca repetidamente para a imprensa mundial. “A chave é remover os escândalos do futebol”.
“Não podemos ter 100% de uniformização nas decisões. Sempre há uma interpretação. A tecnologia não vai decidir as coisas, é o homem com a ajuda da tecnologia. O que queremos é diminuir a importância da interpretação e evitar grandes erros. No fim do Mundial, queremos olhar para o nosso trabalho e falar. ‘Obrigado, tecnologia, mas somos melhores do que você.”
Perguntas da imprensa internacional foram recorrentes sobre o tempo que os árbitros terão para tomar decisões com a ajuda do vídeo. E também sobre quantas vezes ele poderá recorrer ao vídeo ainda no campo.
“Na Copa do Brasil, a media foi de 57 minutos de bola rolando. Se temos uma situação complicada, onde temos que buscar três ou quatro câmeras antes da decisão e vamos gastar 30 segundos, 1 minuto... se necessitamos um pouco mais, qual o problema? O que queremos é o resultado correto no fim do jogo”, falou Bussacca.
O chefe de arbitragem deixou claro que os árbitros, mesmo no campo, terão acesso a imagens tanto em velocidade real quando em super câmera lenta.
“Vamos usar as duas imagens. Na câmera lenta tudo é falta, mas aí se usa a velocidade para determinar a força. Há lances que ficaremos uma hora discutindo, cada um terá sua interpretação. Os árbitros são seres humanos”, diz.
“Mas se um árbitro precisa pedir cinco ou seis vezes ajuda do vídeo no campo, temos que nos perguntar o que estamos fazendo ali. O árbitro tem que estar convencido de suas decisões, se esquecer da tecnologia. Se ele começa a pensar que cada vez que tem uma dúvida vai chamar o VAR... não pode ser. A iniciativa de chamar tem que ser do árbitro de vídeo.”
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