Ucranianos tentaram até Neymar e foram de "cota Shakhtar" a base da seleção

Na última terça-feira (5), em meio à preparação para a Copa do Mundo, Fred foi anunciado como reforço de R$ 240 milhões no Manchester United e repetiu o mesmo roteiro de outros compatriotas: saída ainda jovem do Brasil, uma passagem consistente pelo Shakhtar Donetsk, oportunidades na seleção e depois uma mudança de clube por dezenas de milhões de euros.
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Fred chega à Inglaterra disputado por Pep Guardiola e José Mourinho e indica o crescimento que já tiveram outros convocados de Tite para a Copa do Mundo da Rússia. Antes do ex-meia do Inter, Willian, Douglas Costa e Fernandinho seguiram o mesmo caminho que, quem sabe no futuro, também poderá ser de Taison, que permanece no Shakhtar. Para o novo jogador do Manchester United, atuar no clube ucraniano gera desenvolvimento.
"Teve essa situação da guerra civil da Ucrânia com a Rússia. Era um campeonato que estava crescendo, mas deu um passo para trás por conta da situação política. É um clube que leva jogadores novos. Chegam com 19, 20 anos, ficam seis anos e depois vão para outro clube, como Fernandinho, Willian, Douglas. A gente aprende muito, disputa a Champions, Europa League. Isso nos dá o direito de amadurecer, de crescer dentro e fora de campo por ser uma cultura diferente, ser distante. A gente amadurece em todos os sentidos", opinou Fred.
Guru do Shakhtar e principal mentor desse processo, o técnico romeno Mircea Lucescu detalhou, em entrevista em março ao UOL, a ascensão do meio-campista, recuado por ele para ser volante. "Vi em Fred um jogador com grande personalidade. De início a mudança foi difícil, porque todos os jovens de 18, 19 anos... é encrenca [risos]. Depois, no aspecto profissional, Fred aprendeu muito rápido e se comportou muito bem. Eu sabia que ele seria um jogador assim. Fred aproveitou a saída de Fernandinho para se colocar", contou.
Há dois anos, depois de ver Lucescu ir embora, o Shakhtar buscou outro treinador que falasse português e tivesse relação boa com brasileiros, Paulo Fonseca. "O Mircea apostou muito em mim, me valorizou muito. Me deu uma confiança sensacional e com ele eu conseguia jogar. Com Paulo, eu aprendi demais. Ele é português que veio com outra ideia de jogo. Eu amadureci demais com ele, aprendi coisas. E tenho certeza que minha temporada no comando do Paulo foi a melhor", explica.
A ascensão de Fred mostra como o Shakhtar criou uma espécie de ciclo com os jogadores brasileiros. Quando Fred deixou o Internacional, em junho de 2013, foi anunciado pelo então treinador Mircea Lucescu como a reposição de Fernandinho, que acabara de ser vendido ao Manchester City. Agora, o clube ucraniano acabou de faturar uma bolada com a venda para o United e já assegurou o corintiano Maycon, que chega até o fim do mês à Ucrânia para trabalhar com Paulo Fonseca.
"A Ucrânia ajudou muito os jogadores a crescerem em sua educação profissional, em condição difícil de temperatura, em um campeonato físico e duro, de grande dificuldade. Vencer esses campeonatos cria uma mentalidade vencedora. Depois, esses jogadores querem sempre vencer, isso é muito importante. Eu trabalhei muito a educação profissional com eles. Todos jogaram anos comigo, e depois é mais fácil crescer profissionalmente", resumiu Lucescu.
Shakhtar não levou Neymar, mas ajudou a mudar a vida dele
Logo depois de levar Willian e antes de buscar Douglas Costa, o Shakhtar também foi com tudo para cima de Neymar. Com pouco tempo de profissional do Santos, poderia ter se mudado à Ucrânia. Na época, o então presidente Marcelo Teixeira só não vendeu o atacante porque estava em fim de mandato.
"Começamos com uma oferta de 15 milhões de euros e logo subimos para 25, mas o Santos recusou", disse Rinat Akhmetov, presidente do Shakhtar, ao programa 'Football 1'. "O presidente queria Neymar. Ele já era consagrado. Era jovem, mas era consagrado", explicou Lucescu ao UOL.
Embora a transferência não tenha acontecido, a investida do Shakhtar foi ótima para Neymar. Para mantê-lo, o Santos reformulou seu contrato, e o grupo DIS adquiriu direitos econômicos que pertenciam ao jovem e seu pai. Foi a primeira quantia financeira importante e ajudou a começar a mudar a família da então promessa santista.
Antônio Carlos Zago foi auxiliar do Shakhtar por dois anos
"No campo, o Lucescu é um dos melhores com quem já trabalhei e conheço. Fora do campo, ele procura educar. É como se os jogadores fossem filhos. Ele sempre gosta de contratar os jogadores novos para educar, ensinar o que acontecia na Ucrânia. Ele também educava taticamente, porque o jogador brasileiro ao ir à Europa precisa de uma adaptação até em termos táticos, porque não se trabalha tanto isso no Brasil. É uma política em contratar jovens e depois vender por um preço estratosférico", conta Zago ao UOL Esporte.
"Ele ensina o posicionamento em campo, em ter a bola como referência, em jogar mais agrupado, em jogar com a linha da defesa mais alta, o momento certo de recompor. Os jogadores acabam aprendendo tudo isso. O que tem no Shakhtar é um fator positivo de não se ter cobrança de torcida, de diretoria e menos ainda de presidência. Há paciência em formar os jogadores", acrescenta.
"Lucescu teve toda a paciência com o Fred. Na maioria das vezes, o brasileiro pensa que vai chegar e jogar na Ucrânia. Pensa que os caras são caneludos e 'vou deitar e rolar'. Não é assim. Pratica-se um bom futebol lá, os ucranianos são educados taticamente e [quem chega] tem que entrar no ritmo. Mesmo sem jogar muito no início, o crescimento do Fred foi impressionante. principalmente no posicionamento. É um volante canhoto que defende, é agressivo na marcação e aprendeu a ser ainda mais. Ele merece o Manchester", disse.
"Não sei por que o Taison não saiu de lá ainda. Ele teve várias ofertas. A Inter de Milão chegou a fazer proposta há um ano, a Roma há dois anos também. Ele joga em qualquer clube europeu. Sofreu um pouco mais que os outros, porque jogou no Metalist [outro ucraniano] e se virou sem a ajuda dos brasileiros no início. Teve um crescimento mais rápido que os outros e taticamente cumpre à risca o que pedem", analisou Zago.
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