Barreira histórica do Brasil, liga inglesa vira base para seleção de Tite

Gilberto Silva, em 2006, se tornou o primeiro brasileiro em atividade no futebol inglês a ser convocado para a Copa do Mundo e quebrou uma barreira histórica. Desde então, as transformações da Premier League para virar o campeonato mais atrativo do planeta coincidiram com a ascensão do Brasil na Inglaterra. Tite bebe dessa fonte como nenhum outro treinador.

Neste domingo, a partir das 11h (de Brasília), a seleção brasileira pega a Croácia em Liverpool com quatro titulares [Danilo, Fernandinho, Willian e Gabriel Jesus] e dois reservas [Ederson e Firmino] que são destaques do futebol inglês. Alguns, como Fernandinho, Willian e Firmino, estão entre os melhores da última temporada. A passagem do Brasil pela Inglaterra tem muito a ver com a história de Edu Gaspar, que jogou no país no início da década. 

"É um futebol competitivo e que mudou muito", explica o auxiliar Cléber Xavier. "Não se joga mais com a bola aérea. Se joga com a bola no chão e com muita intensidade na transição. A maioria dos grandes jogadores vem para cá. Vemos equipes como o City e o Liverpool jogando em alto nível, na Inglaterra e como no jogo nas finais da Champions. Isso nos ajuda muito. O crescimento do Gabriel é impressionante na Inglaterra, do Firmino, o Danilo como titular. Tem nos ajudado esse protagonismo", concluiu Cléber sobre a Inglaterra como base. 

O número de seis jogadores ingleses não é inédito na seleção, que em 2014 tinha exatamente essa quantidade. Entretanto, o status dos atuais convocados de Tite é superior ao que tinham quando Luiz Felipe Scolari montou o último Brasil. Alguns, como Willian, Paulinho e Fernandinho, tinham desembarcado um ano antes. David Luiz era o mais prestigiado à época, com três temporadas na Inglaterra. 

Como o mercado inglês se abriu para os jogadores brasileiros

Diferentemente de outras ligas grandes da Europa, a Inglaterra possui historicamente regras mais rígidas para a entrada de jogadores estrangeiros. Para aqueles que possuem passaporte europeu, as coisas se tornam mais simples. Mas, para os que não são comunitários, é necessário ter sido assíduo em convocações de seleções brasileiras nos últimos anos, o que se tornou fator dificultador de transferências. 

Nos últimos anos, clubes ingleses têm utilizado o expediente de solicitar a permissão de trabalho com uma licença concedida a atletas que possam ser chamados de "talentos especiais" mesmo para jogadores que não tenham tido sequência pela seleção brasileira. Em outros casos, é preciso passar anos em outros países europeus para conseguir um passaporte comunitário e, dessa forma, ficar livre para atuar na Inglaterra. 

Em termos comerciais, a atuação do empresário Kia Joorabchian e sua conexão com clubes ingleses também se tornou fundamental para muitas das transferências que envolvem jogadores brasileiros. O ex-proprietário da MSI, parceira do Corinthians em 2005 e 2006, atua em conjunto com o agente Giuliano Bertolucci e viabilizou negócios como os de Willian, por exemplo, para o Chelsea. O clube azul de Londres, aliás, é o principal anfitrião para os talentos do Brasil nessa expansão dos últimos anos.    

O que diz Juninho Paulista, um desbravador na Inglaterra

"Cheguei em 95, três anos depois de começar a Premier League [formato atual] e já dava para perceber o nível de competição e organização. Já era, naquela época, um dos melhores campeonatos do mundo, só que não tinha essa visibilidade toda no Brasil. Ao longo dos anos, foi melhorando, o nível da liga também melhorou, o interesse em jogadores mais técnicos para participar dela cresceu". 

"Quando prevaleceu a técnica sobre o físico, os clubes voltaram mais os olhos aos sul-americanos. Fico feliz em ter iniciado essa ida de brasileiros. O Mirandinha foi o primeiro [pelo Newcastle, em 1987] e fui o segundo. Fico feliz de ver os brasileiros tendo sucesso na Premier League". 

"Quando voltei [em 2002, na terceira passagem], sim, encontrei a mesma organização, o mesmo glamour, todos os estádios lotados e a organização ainda melhor. Mas percebi que jogadores mais técnicos atuavam nos grandes clubes. Foi a grande diferença de 95 para quando voltei depois da Copa". 

"Quando o Middlesbrough veio me contratar, eu vi vídeos do futebol inglês e vi muito jogo aéreo, conexão direta entre defesa e ataque. Apesar disso, olhando de fora é uma coisa, e participando é outra. Encontrei muito espaço para jogar, mesmo com bolas diretas. Hoje mudou, e a grande mudança é a questão técnica. Os clubes jogam com mais toque de bola". 

Juninho Paulista atuou por três ocasiões diferentes pelo Middlesbrough. A primeira, entre 1995 e 97. A última, entre 2002 e 04. Se tornou um dos estrangeiros mais respeitados por lá naquela época. 

BRASIL x CROÁCIA

Data/Hora: 03/06/2018, às 11h (de Brasília)
Local: Anfield Stadium, em Liverpool (Inglaterra)
Árbitro: Michael Oliver (Inglaterra)
Assistentes: Stuart Burt e Simon Bennett

CROÁCIA: Subasic; Vrsaljko, Corluka, Lovren e Strinic;  Rakitic e Badelj; Mandzukic, Modric e Perisic; Kramaric. Treinador: Zlatko Dalic.