Topo

Figurinhas da Copa

Luta de gerações e "herança": Pacaembu recebe colecionadores de figurinhas

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

01/04/2018 16h23

O Museu do Futebol, localizado no estádio do Pacaembu, recebeu aproximadamente 1.500 pessoas em dois dias neste fim de semana. Não se trata de alguma exposição nova ou visita de jogador de futebol, mas sim de um evento marcado para colecionadores de figurinhas do álbum da Copa do Mundo trocarem seus cromos e interagirem a céu aberto na capital paulista.

O UOL Esporte esteve no local e descobriu uma série de curiosidades, como um conflito de gerações em relação ao modo de organizar as figurinhas, a hereditariedade do hábito de colecionar e o uso deste produto editorial como uma forma de tirar as crianças da frente das telas de seus smartphones.

"Eu acho que é uma proposta muito interessante, porque estamos ao ar livre, nos divertindo juntos. Não estamos no videogame ou no celular, e mesmo assim as crianças estão muito motivadas. Colecionar álbum é importante porque as crianças aprendem geografia, história, colam, veem os números, interagem, então acrescenta muito. É gostoso ver as crianças envolvidas com coisas desse tipo", conta a fonoaudióloga Mônica Sadi, que esteve no Museu do Futebol com o marido e dois filhos na manhã deste domingo.

O evento realizado neste fim de semana contava com mesas e cadeiras espalhadas na frente do estádio do Pacaembu para as pessoas se acomodarem para as trocas, além de uma espécie de arena com cinco campinhos para quem quisesse baterem bafo (para a geração conectada, é uma brincadeira em que você tenta virar as figurinhas batendo com a mão em forma de concha), além de um telão digital com reproduções de álbuns antigos e um animador que fazia perguntas sobre a história das Copas ou desafios de embaixadinhas em troca de pacotinhos de figurinhas. 

Beatriz, de sete anos, foi uma das principais competidoras do jogo do bafo neste domingo. Apesar da pouca idade e aparente falta de experiência na competição, sua mão pequena e suas técnicas a fizeram ganhar de meninos e meninas mais velhos, para orgulho do pai, Anderson Jamas. O administrador foi ao evento no Museu do Futebol pelo segundo dia seguido. No sábado, ajudou um amigo a completar seu álbum, e no domingo levou a filha simplesmente para brincar. E também "rapelar" as outras crianças, como se diz quando alguém ganha muitas vezes no bafo.

"Lembro da época do meu pai, que eu colecionava o álbum com ele. Então agora estou tentando passar isso adiante também, porque se fica em casa é televisão, computador, internet, mas com figurinha você dá uma espairecida, uma amenizada no dia a dia, uma esfriada na cabeça, tem contato com pessoas, conhece famílias. Trouxe a Bia para se divertir, curtir o dia", conta.

Álbum da Copa - Gabriel Carneiro/UOL Esporte - Gabriel Carneiro/UOL Esporte
Anderson observa Beatriz cultivar a arte do jogo do bafo durante o evento
Imagem: Gabriel Carneiro/UOL Esporte

Geração papel x geração app

As trocas de figurinhas duram o tempo que for necessário. Em parceria com a Panini, o Museu do Futebol permaneceu aberto entre 10h e 17h nos dois dias do fim de semana de Páscoa.

Há algumas trocas feitas rapidamente, especialmente de quem está quase completando, mas também há aquelas que duram um tempão. Outra diferença facilmente notada é o modo que as pessoas usam para organizar suas figurinhas: tem quem fique folheando página a página do álbum para ver os cromos que não possui entre as repetidas do outro, tem quem leve aquela folha de papel toda rabiscada com as figurinhas faltantes em branco e tem também quem use aplicativos de celular e rode com o dedo entre as seleções.

Mas o conflito entre a "geração papel" e a "geração app" fica só na teoria mesmo. Francisco Corrêa, aposentado de 69 anos, conferia as repetidas do neto Benjamin pelo celular durante o evento deste domingo. "Estamos sofrendo com as brilhantes. Eu sei porque é a primeira que aparece aqui no aplicativo, olha: logotipo, time, que é o time posado, aí vem as figurinhas dos jogadores. Irã não tem, França não tem...", conta o dedicado (e preocupado) avô.

De acordo com os organizadores do evento, o sábado foi um dia mais de "profissionais" da figurinha, com trocas grandes e vários álbuns completados, enquanto o domingo foi um dia mais familiar, que teve menos gente, trocas em menor número e mais diversão entre adultos e crianças. 

Uma das jovens que estava se divertindo por lá era Débora, de oito anos. Ela é filha de Mônica e achou tão legal a mãe dar entrevista ao UOL que abordou a reportagem para também dar suas declarações sobre o evento. Ela disse que falta metade das figurinhas para completar o álbum e que a mãe está "mais ou menos" na busca pelas trocas. Débora também revelou, com exclusividade, que gosta muito de futebol e tem hábitos inusitados como torcedora: "Torço pelo Santos, pelo Corinthians e pelo São Paulo. Só o Palmeiras que não".

Segundo a Panini, editora responsável pelo álbum da Copa do Mundo, o Brasil é o país com maior número de colecionadores de figurinhas do mundo. Inclusive este repórter, que ficou 38 cromos mais perto de completar seu álbum após o evento no Museu do Futebol.