Sem estrelas, técnica e eficiente, Alemanha é tudo que Tite quer do Brasil
Desde que Fritz Walter era o capitão e Helmut Rahn decidiu a final da Copa de 1954 a favor da Alemanha, o futebol germânico se caracteriza por uma tradição que passa de geração em geração: não há estrelas que despontem muito acima dos demais ou heróis isolados. A força da equipe é sempre o principal aspecto e não mudou. O raciocínio alemão tem muito a ver com o que Tite, em seu jogo mentalmente mais emblemático desde que assumiu, espera colocar em prática na seleção brasileira.
Nesta terça-feira (27) em Berlim, o Brasil vai a campo no Estádio Olímpico contra uma Alemanha que, quatro anos após o título mundial e a saída de destaques como Lahm, Schweinsteiger e Klose, mantém a essência. A força do conjunto está acima de qualquer aspecto individual. É o que Tite, em quase dois anos no cargo, tenta disseminar em seus atletas e principalmente Neymar, desfalque desta vez.
A convivência do treinador brasileiro com os grandes destaques, coincidência ou não, chegou a ser problema em momentos de sua carreira. Tite se considera desrespeitado por Ronaldinho quando dirigiu o Grêmio; evitou uma volta ao Internacional em 2015, entre outros motivos, pela excessiva liderança de D’Alessandro; e, no Corinthians, fracassou na missão de tornar Adriano, em 2011, e Pato, em 2013, nas estrelas que a direção do clube e a torcida gostariam.
Seja na montagem de uma comissão técnica em que as decisões são discutidas, em uma divisão de responsabilidades entre vários capitães ou mesmo na ideia de um time em que todos os jogadores trabalham muito sem a bola, Tite pensa o futebol sob os preceitos históricos de várias seleções europeias, mas em especial da Alemanha. Seu desafio, neste momento, é conseguir o mesmo de Neymar. Não por acaso, ele insiste para que o principal jogador evite os lances pessoais quando não está no ataque e seja menos intempestivo.
Em sua entrevista pré-jogo, Joachim Löw reconheceu justamente que Tite tem tido êxito na tentativa de montar um time com essa face. “Nos últimos dois anos, o Brasil é a equipe onde cada um sabe sua posição. Não tem só uma estrela, como Neymar ou Coutinho. Eles estão dentro da filosofia da equipe. (...) Ao final, se vermos, o desempenho do time é mais importante que uma estrela. Se uma estrela não se integrar a uma equipe, será super difícil independente da nacionalidade”, declarou.
O Brasil é melhor individualmente? Löw discorda
O treinador alemão também foi questionado sobre o pensamento médio que existe no Brasil sobre a relação entre as duas seleções com mais títulos na história dos Mundiais ao lado da Itália. Segundo esse raciocínio, a seleção brasileira tem os melhores jogadores. Os alemães, por outro lado, o melhor conjunto. Coincidência ou não, o Brasil tem oito prêmios de melhor do mundo na história. A Alemanha, apesar de quatro títulos mundiais, ganhou somente um, em 1990, com Matthäus.
“Não acho que o Brasil seja melhor individualmente. Temos também jogadores melhores individualmente. Cada jogador é diferente, cada talento é diferente em cada equipe”, avaliou Löw, que abriu mão de Thomas Müller e Özil, entre outros titulares, para o amistoso desta terça.
Responsável por acompanhar a seleção alemã pela tradicional revista Kicker, o jornalista Oliver Hartmann acredita que o treinador é o protagonista no projeto que tornou a Alemanha novamente a maior potência do futebol internacional. “Desde a Euro 2000, quando a Alemanha foi eliminada precocemente, os clubes passaram a educar melhor os talentos. Cada clube teve que construir um centro de performance para novos jogadores. O resultado é um grande desenvolvimento de talentos. O maior responsável por esse modelo é, com certeza, Joachim Löw e sua continuidade é a principal razão de sucesso”, disse.
Outra tradição histórica da seleção alemã que se mantém até os dias atuais é a grande longevidade dos treinadores que dirigem a seleção. Löw, auxiliar de Jürgen Klinsmann de 2004 a 2006, e treinador há 12 anos, é apenas o décimo a ocupar o cargo na história. E apesar de ser cobiçado por grandes equipes da Europa, é difícil que saia. “Seu contrato vai até 2020, e não acho que ele tem planos de dirigir um clube, disse Hartmann.
Força quase máxima do Brasil x Alemanha com time modificado
Com a ideia de fortalecer o espírito coletivo e a força mental do Brasil, Tite colocará tudo que tem de melhor para o jogo em Berlim. Os testes ficaram para segundo plano, exceto pela entrada de Fernandinho no time como armador, em função que normalmente é de Renato Augusto. Sem Neymar, que só volta em maio, recorreu mais uma vez à regularidade de Willian como homem importante do ataque.
Com um trabalho consolidado, Löw quer aproveitar o duelo com o Brasil para dar mais peso a jogadores jovens como Sané, Rüdiger, Goretzka, Werner e Kimmich, por exemplo. Por isso, abre mão de praticamente toda sua base titular que empatou com a Espanha na última sexta-feira.
FICHA TÉCNICA
ALEMANHA x BRASIL
Data: 27 de março de 2018, terça-feira
Horário: 15h45 (de Brasília) e 20h45 (de Berlim)
Competição: Amistoso
Local: Estádio Olímpico, em Berlim (Alemanha)
Árbitro: Jonas Eriksson (Suécia)
Assistentes: Mathias Klasenius e Daniel Wärnmark (Suécia)
ALEMANHA: Leno; Rüdiger, Boateng e Ginter; Kimmich, Rudy, Gündogan e Plattenhardt; Goretzka e Sané; Werner. Treinador: Joachim Low.
BRASIL: Alisson; Dani Alves, Thiago Silva, Miranda e Marcelo; Casemiro; Willian, Paulinho, Fernandinho e Coutinho; Gabriel Jesus. Treinador: Tite.
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