Blatter (foto) enfrenta denúncia de corrupção formulada por seu ex-vice, Jack Warner
É grande a tensão entre os membros do Comitê Executivo da Fifa diante da possibilidade de o presidente da entidade Sepp Blatter apresentar nesta sexta (21) mudanças no estatuto que amenizariam a corrupção interna do órgão que controla o futebol mundial. As novidades esperadas incluem a liberação dos documentos contra três dirigentes acusados de receber propina, na venda de direitos de transmissão pela televisão.
Os nomes de Ricardo Teixeira e João Havelange são mencionados pela imprensa europeia como principais na investigação criminal feita pela Justiça suíça, de 2008 a 2010. Há um ano, a Fifa vem tentando bloquear a divulgação dos nomes dos envolvidos. Agora, Blatter estaria disposto a surpreender a todos, divulgando as mudanças nesta sexta-feira (22).
As mudanças do estatuto e conduta devem ser aprovadas pelo Comitê Executivo da entidade. Ricardo Teixeira e outros suspeitos fazem parte deste grupo de dirigentes.
Esta semana o clima ganhou requinte de suspense policial inglês com a divulgação de uma carta, onde o ex-vice-presidente da Fifa, Jack Warner, ameaça contar tudo o que sabe sobre corrupção e propinas, incluindo o que houve na eleição de Blatter em 1998 e 2002.
Warner renunciou em junho deste ano, acusado de venda de voto por U$ 40 mil em apoio a um candidato de oposição a Blatter. Warner, que era presidente da Concacaf, convenceu outros dirigentes caribenhos “a aceitar presentes” do candidato Mohammed Bin Hammann (Catar) para vencer a eleição de junho último.
Em reunião filmada, Warner faz campanha por Bin Hammann, em maio deste ano, em Trinidad y Tobago. Ele defende a venda de votos e consegue convencer 16 eleitores. Todos estão sob investigação, oito já foram suspensos semana passada.
Esta semana, em carta de 1300 palavras publicada no Guardian de Tobago, o ex-homem de confiança da Fifa ameaça rechear o Congresso de Genebra com informações bombásticas sobre duas eleições anteriores de Blatter: “o que prometi será cumprido e terá força de um tsunami, mas virá na hora certa”, escreveu o dirigente. “Estou esperando o resultado do julgamento do banimento definitivo de Bin Hammann”.
A julgar pelas palavras gravadas e escritas de Jack Warner, Sepp Blatter sabe o que teve de fazer para ganhar as eleições de 1998 e 2002. Até a Copa da França, Blatter era secretário geral da Fifa, desde a eleição de João Havelange, em 1974.
O eixo das propinas investigado pela Justiça suíça se estende dos anos 1980 até 2001, quando a empresa ISL, que controlava a vendas dos direitos de transmissão dos eventos da Fifa, declarou falência, com um rombo de US$ 156 milhões. O dinheiro de suborno saiu dos cofres da ISL para garantir negociações com emissoras de televisão do mundo todo, interessadas em exclusividade nas transmissões das copas e outras jogos.
Na lista dos subornados aparecem empresas como a Sanud, Beleza, Wando, Sicuretta e Nunca. A primeira delas é dirigida por Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol e chefe do Comitê Organizador Local da Copa 2014.
A Sanud operou na Fifa no tempo em que João Havelange era presidente da entidade e Sepp Blatter, seu secretário geral. As outras empresas batizadas com nomes em Português também receberam milhões de dólares do caixa 2 da ISL. Em dez anos, a Sicuretta abocanhou quase R$ 50 milhões.
Sanud | US$ 8,5 mihões | de 16/02/93 a 28/11/97 |
Beleza | US$ 1,5 milhão | de 27/03/91 a 01/11/91 |
Ovada | US$ 820 mil | 22/01/1992 |
Wando | US$ 1,8 mihão | de 06/07/89 a 22/01/93 |
Sicuretta | US$ 42,4 mihões | de 25/09/89 a 24/03/99 |
São esses documentos que Sepp Blatter estaria disposto a liberar para salvar a reputação e os negócios do futebol mundial. Desde 2010, advogados da Fifa vêm mantendo esses documentos sob sigilo judicial.
Jornalistas dos diários ingleses The Independent e Telegraph analisam o cenário com detalhes curiosos. Os dois veículos revelam a importância da investigação feita por Andrew Jennings, da BBC, na coleta e publicação de documentos secretos do caixa 2 da ISL. Esses documentos fazem parte do processo suíço que investigou a falência da empresa.
“Blatter enfrenta outra denúncia por propina”, escreveu o correspondente do Independent, Robin Scott-Elliot. “Warner ameaça o chefe do futebol com tsunami de segredos”, enfatiza o jornalista.
Sepp Blatter já conseguiu um aliado importante para forçar uma mudança no estatuto: o presidente da Uefa, Michel Platini, escreve Martyn Ziegler: “Platini teve um encontro com dirigentes europeus que têm direito a voto no Comitê Executivo da Fifa, tentando forçar as mudanças no estatuto”, revela Ziegler, também do Independent.
Segundo o diário, Platini é visto como um candidato natural à sucessão de Blatter. Uma limpeza ética na Fifa poderia excluir outro candidato virtual: Ricardo Teixeira.
Paul Kelso, do Telegraph, abre seu artigo de quarta-feira (18) com o envolvimento de Ricardo Teixeira nos subornos da Fifa. Ele também menciona João Havelange com o sendo parceiro de Ricardo na Sanud, listada pela Justiça suíça.
Os repórteres falam do processo que o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro está movendo contra Teixeira, seu irmão Guilherme Teixeira, sócios e familiares.