Ricardo Teixeira, presidente da CBF, é alvo de críticas de revista por "gols contra"
Sede da Copa do Mundo 2014, o Brasil recebeu atenção da revista The Economist. Com relatos sobre as investigações de corrupção que Ricardo Teixeira enfrenta, a publicação comentou sobre o início de trabalho complicado para que o país receba a competição. O presidente da CBF é criticado pelas "manchas" acumuladas ao longo dos anos e pelos “gols contra” que comete, o que poderá atrapalhar o Brasil no objetivo de melhorar a sua imagem com a Copa.
Conselho Nacional de Justiça vai apurar relações de juízes federais com Teixeira
Oficialmente, os 15 desembargadores que compõem o Conselho Nacional de Justiça não quiseram comentar a denúncia de que juízes federais usam a Granja Comari, da CBF, para jogar futebol, conforme denunciou o jornal Lance! nesta quinta-feira. Mesmo mantendo o chamado silêncio tático, um desembargador falou ao UOL Esporte, na condição de anonimato: "O caso será analisado pela corregedoria assim que chegar ao CNJ uma denúncia formal ou o fato ser publicado pela mídia", explicou o juiz.
Um outro assessor do CNJ foi mais categórico: "é um caso emblemático para ação do Conselho Nacional de Justiça". Normalmente, a corregedoria dos desembargadores investiga denúncias a partir de sua oficialização, ou, no jargão jurídico, "o CNJ precisa ser provocado por uma simples publicação da denúncia em qualquer veículo de comunicação. O caso dos juízes que usam o campo da Granja Comari será analisado, sim", garantiu uma fonte ligada ao CNJ.
Por outro lado, a revista destaca o papel da presidente Dilma Rousseff, que “preocupa os dirigentes da Fifa”. As últimas ações da política definem uma posição de briga contra a corrupção no Brasil. A sua relação com Teixeira não é das mais próximas.
De acordo com a reportagem, o presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa 2014 é “uma das figuras com as maiores manchas no futebol” e é o "protegido" de João Havelange. Teixeira aparece como o homem mais forte do Mundial justamente no momento em que a presidente tenta acabar com os casos de corrupção que atrapalham o desenvolvimento do país.
A polêmica entrevista que o cartola concedeu à revista Piauí foram repercutidas pela The Economist. Ricardo Teixeira classificou a imprensa brasileira como “vagabunda” e ameaçou. “Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Por que eu saio em 2015. E aí, acabou”, concluiu o cartola, referindo-se à sua tentativa de migrar para a presidência da Fifa após a Copa do Mundo.
O cerco contra Teixeira parece estar se fechando. Nesta segunda-feira, o procurador da República Marcelo Freire confirmou ao UOL Esporte que enviará à Polícia Federal pedido de investigação contra o cartola por remessa ilegal de dinheiro. Como parte da apuração, todos os documentos mantidos pela Justiça suíça contra Teixeira, por suposto suborno, poderão ser requisitados pelos investigadores brasileiros para ajudar a esclarecer as denúncias contra o dirigente e agente oficial da Fifa.
Marcelo Freire conhece bem Ricardo Teixeira desde as investigações realizadas durante a CPI do futebol entre 2000 e 2002. O procurador da República chegou a abrir processo contra Teixeira, mas os casos pararam na Justiça Federal do Rio de Janeiro. Na apuração feita pelo Senado, aparecem empréstimos contraídos pela CBF, no valor de U$ 36 milhões.
Parte desse dinheiro veio do Delta Bank, que era dirigido por empresários brasileiros ligados a Teixeira, no Brasil. O empréstimo à CBF trouxe também o nome do homem que aceitou o desafio de ser o avalista da operação internacional: era o mesmo Ricardo Teixeira, que assinava como tomador, fiador e pagador de supostos juros de cerca de 50% ao ano. Nos anos 2000, a taxa de juro básica não chegava a 2% por cento ao ano, nos Estados Unidos.
Revista "The Economist" traz uma reportagem demolidora |
O pedido de investigação criminal de 2001 foi feito junto à Procuradoria Geral da República, em Brasília, em julho. Depois de análise feita pelo Grupo de Trabalho, que reúne procuradores federais e representantes das 12 sedes da Copa 2014, decidiu-se pelo envio da petição ao Rio de Janeiro, cidade onde reside o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira.
A petição é assinada pelo presidente do Partido Republicano Brasileiro, Marcos Pereira. A bancada do PRB é formada majoritariamente por evangélicos. O partido usou a série de denúncias que a Rede Record levou ao ar contra os negócios de Teixeira dentro e fora do Brasil.
No Rio de Janeiro, foi tomada outra decisão para agilizar o processo: distribuir o caso para uma vara criminal e o contemplado acabou sendo o procurador Marcelo Freire. As denúnicas contra Teixeira são antigas. Há quase dez anos, foi formada no Senado uma Comissão Parlamentar de Inquérito para levantar as piores denúncias contra Teixeira e a CBF.
Interrogado pelos senadores, o presidente da CBF foi simplista: "Faço a mesma coisa que João Havelange fazia enquanto dirigia o o futebol brasileiro".
Havelange deixou de dirigir o futebol brasileiro em 1974, quando assumiu a Fifa. Recentemente, a BBC de Londres fez uma série de reportagens sobre corrupção no futebol internacional. Parte das denúncias, segundo o jornalista escocês Andrew Jennings, atingiram Ricardo Teixeira e João Havelange.
Em visita ao Brasil, Jennings afirmou que os dois brasileiros teriam feito um acordo com a Justiça suíça para não serem incriminados. O jornalista diz que Havelange e Teixeira teriam devolvido cerca de US$ 9 milhões, recebidos supostamente como proprinas eleitorais e negócios ilícitos.
Na lista de empresas que teriam recebido dinheiro ilegal por para da International Sports Leasure (ISL), parceira da Fifa desde os anos 80, com João Havelange na presidência, estão nomes bem conhecidos das pessoas que falam português: Beleza, Wando, Sanud (Dunas), Sicuretta e Seprocom. Sanud e Sicuretta têm remessas de mais de US$ 15 milhões entre 1980 e 1999.
A Justiça suíça trabalha com valores de caixa 2 que chegam a perto de U$$ 150 milhões, envolvendo vários digentes e ex-dirigentes da Fifa, em 20 anos. A investigação europeia começou com a falência da ISL, especializada em vendas de direitos para transmissão dos jogos das Copas do Mundo.
Por trás das operações estavam a Adidas (50%) e a japonesa Dentsu (50%), em um joint venture formado em 1982. Um oficial do grupo japonês também foi investigado pelos promotores europeus: Haruyuki Takahashi seria o chefe de um grupo financeiro, com sede em Hong Kong, por onde transitou parte da dinheirama. Takahashi esteve no Brasil em 2011. Ainda está ligado à Fifa, organizando festas do clube de cartolas e convidados VVIP. ( very, very important people ou pessoas muito, muito importantes).