20/06/2011 - 20h55

Para abrir Copa de 2014, Corinthians terá de gastar R$300 milhões a mais

Roberto Pereira de Souza

Em São Paulo

Alta tensão: contrato ainda não foi assinado

Kassab defende isenção ao Corinthians e projeta lucro bilionário com abertura

Serpal apresenta orçamento R$300 milhões mais barato

Corinthians tem duas semanas para viabilizar arena para Copa

Projeto de Kassab abre brecha para Itaquerão ter isenção mesmo sem abertura

Correndo contra o relógio, Odebrecht e Corinthians aceleram a agenda para tentar resolver o impasse do orçamento final da arena de Itaquera, que deverá ser construída com requinte de uma grande mansão de luxo, para atender às exigências da Fifa. Técnicos da construtora passaram a última semana confrontando os números apresentados pela construtora Serpal, que barateariam as obras em cerca de R$300 milhões. A semana é decisiva para que o contrato possa se assinado no máximo, nos próximos nove dias.

Até mesmo a isenção fiscal proposta pelo prefeito Gilberto Kassab, gerada com os tais certificados de incentivo e desenvolvimento (CID), que podem deduzir até 60% do imposto devido sobre serviços (ISS) e predial urbano (IPTU), contempla o luxo exigido pela Fifa. Os incentivos de Kassab só serão concedidos se a arena corintiana estiver “apta para a abertura da Copa”

“Não exige milagre nessa conta”, afirmou uma pessoa que domina todos os dados dessa negociação, mas que pediu para não ter seu nome revelado. “Foi apresentado um orçamento ao Corinthians que não atende a algumas exigências. A Serpal não considerou custos com terraplanagem e nem com esgotos”.

A questão de esgotos é crítica na região do novo estádio. “Não existe ramal sanitário para esgoto onde será construída arena. O orçamento básico precisa incluir esse custo, criar uma solução para esse problema”, garantiu a fonte.

O orçamento da Serpal é visto como “impreciso e é criticado por não corresponder à obra acabada “, garantiu outra fonte que teve acessos aos documentos. A estimativa da construtora deixa de considerar fatores inflacionários e o aquecimento do mercado construtivo, de hoje para os próximos anos.

Defendendo seu orçamento que varia entre R$950 milhões a R$1,07 bilhão, a Odebrecht passou a semana desenhando o que alguns técnicos chamam de engenharia financeira, tendo do lado oposto da mesa o presidente corintiano, Andrés Sanchez.

A construtora montou um roteiro financeiro que inclui o chamado “target price”, terminologia do mercado internacional para grandes obras patrocinadas pela iniciativa privada em co-gestão.

“Na prática, o que está sendo apresentado é um cálculo de captação de dinheiro no mercado, tendo um preço –base. A Odebrecht fala, digamos, em valor entre R$950 milhões e R$1,07 bilhão. Como funcionaria a co-gestão? O Corinthians teria acesso a todas as planilhas de custo, atualizadas em tempo real e fiscalizaria cada centavo gasto.

Pela engenharia proposta pela Odebrecht, o que faltar para a conclusão da obra será captado no mercado financeiro seguindo a seguinte operação: a prefeitura emitiria os Certificados de Investimento e Desenvolvimento (CID) até o limite de R$420 milhôes. O BNDES vai liberar o empréstimo-padrão a todas as sedes, no valor de mais R$400 milhões. O que faltar, a Odebrecht buscará no sistema financeiro, até o limite de R$300 milhões. O pagamento desse residual sairia da receita do estádio, a partir de 2.014.

“Somando tudo, teremos o necessário para a conclusão da obra no padrão exigido pela Fifa, para a abertura do Mundial, com capacidade para 65 mil pessoas, incluindo os camarotes blindados, elevadores, etc. “, explicou a mesma fonte.

Um estádio de padrão internacional para 45 mil pessoas custa R$300 milhões a menos que um estádio de abertura de Mundial.

Curiosamente, até mesmo a isenção fiscal da Prefeitura, gerada com os tais certificados de incentivo e desenvolvimento (CID), que podem deduzir até 60% do imposto devido sobre serviços (ISS) e predial urbano (IPTU), contempla o luxo exigido pela Fifa. Os incentivos só serão concedidos se a arena corintiana estiver “apta para a abertura da Copa”

“Trabalhamos com um preço-referência entre R$10 e R$11 mil por assento. As exigências da Fifa elevam o custo em cerca de R$300 milhões para um estádio abrir uma Copa do Mundo”

Se tudo der certo, uma terceira empresa será criada para construir a nova arena corintiana.