UOL Esporte Futebol
 
03/06/2011 - 07h00

Diretor corintiano diz que Lula ensinou clube a ter estádio para Copa e Odebrecht foi atraída por viadutos

Alexandre Sinato e Ricardo Perrone
Em São Paulo
  • Rosenberg comentou a exclusão do Morumbi no plano para sediar Copa: iam dar mais um aplique

    Rosenberg comentou a exclusão do Morumbi no plano para sediar Copa: "iam dar mais um aplique"

O UOL Esporte teve acesso às atas das duas reuniões em que a diretoria do Corinthians apresentou o projeto do estádio de Itaquera ao seu Conselho de Orientação, o Cori. Os documentos revelam o passo a passo do plano corintiano. Sem filtros, as declarações de Luís Paulo Rosenberg desvendam a importância do então presidente Lula para o projeto, a real motivação da Odebrecht, segundo ele, e como o clube pretendia “enfiar” na Petrobras os custos da remoção dos famosos dutos.

Na noite de 9 de setembro do ano passado, o Cori se reuniu para escolher qual seria o projeto abraçado. Rosenberg apresentou o plano defendido pela diretoria: a arena de Itaquera. Logo explicou porque o clube trocou o esboço de um estádio simples por um que pudesse abrigar jogos do Mundial de 2014.

“Depois que o presidente [Lula] ensinou a gente, a gente até quer um estádio de Copa. Só que nós não temos grana para bancar isso, nós não vamos fazer gracinha com o dinheiro do Corinthians”, afirmou o dirigente na ocasião, sem dar detalhes sobre o ensinamento presidencial. Questionado pela reportagem sobre o que quis dizer ao falar da “aula” de Lula, Rosenberg afirmou: “Nós pagamos nosso estádio, os demais beneficiários o levarão a preencher os requisitos Fifa. Lembra, o estudo da Monitor que identificou um ganho para a cidade de R$ 1 bilhão pela realização da abertura da Copa em São Paulo?”.

Ou seja, Lula teria feito o Corinthians perceber que poderia deixar a conta da ampliação do Itaquerão para a prefeitura e o governo estadual em troca das receitas que receberiam com o jogo inaugural.

Rosenberg foi mais didático ao explicar como a Odebrecht acabou seduzida a aceitar o modelo proposto pelo Corinthians, após várias negativas: “...tenho que levar o piniquinho para o presidente [do clube] porque o Andrés estava comandando a reunião. Nós chegamos à ruptura quando, de repente, surgiu esse movimento, de que a única opção viável para a Copa seria o nosso estádio. Aí a Odebrecht se curvou a todas as exigências porque disse: ´Tá bom, eu vou fazer esse estádio no talo, mas vou fazer viaduto, vou fazer não sei o que. Quando virar estádio de Copa tem mais dinheiro´”.

Sobre a remoção dos dutos da Petrobras, outro ponto polêmico, Rosenberg disse que os gastos estavam embutidos no orçamento inicial do estádio. E emendou: “Eu estou com R$ 10 milhões para fazer a obra, mas é óbvio que vou tentar enfiar isso na Petrobras”. Questionado pela reportagem, ele afirmou apenas que não está decidido quem bancará a operação. Hoje o custo é de R$ 30 milhões e a Petrobras anunciou que não pagará.

Numa reunião anterior, no dia 27 de julho de 2010, também no Cori, o cartola escolheu palavras fortes para convencer os conselheiros de que o estádio seria rentável. “Tem uma taxa de retorno de cocaína e de prostituição. Nada mais tem uma taxa de retorno de 40%”, declarou.

Ele adotou o mesmo estilo bombástico ao falar da exclusão do estádio do São Paulo do Mundial. “O Morumbi é exatamente o que o presidente [Andrés] diz... iriam dar mais um aplique. Não grudou”.

A metralhadora verbal de Rosenberg atingiu ainda os dirigentes palmeirenses. “A jogada do Palmeiras  é muito absurda...ele está defendendo que a abertura e o fechamento sejam no Rio e, depois, São Paulo fica a sede no estádio dele, se é que algum dia a Wtorre vai construir...”

Minutos depois, o diretor declarou a independência do Itaquerão ao falar que “não vamos pedir bênção para sacana nenhum, à exigência da Fifa, nada, nada.”

Rosenberg também afirmou que não estava fazendo nenhuma loucura de R$ 500 milhões, ao detalhar o orçamento do estádio. Só que hoje a obra para a abertura da Copa é orçada em R$ 1 bilhão pela Odebrecht. O valor é contestado pelo clube. “O estádio grandão pode esbarrar em R$ 700 milhões, mas desde que haja apoio da cidade, através do incentivo à região. E ele foi criado em 2004, muito antes de o estádio ser cogitado.”

Antes de qualquer uma das frases de efeito lapidadas pelo dirigente nos dois encontros, os conselheiros devem lembrar dessa promessa, feita para o caso de uma arena com capacidade para 50 mil pessoas: “R$ 335 milhões é o teto. E eu garanto para vocês que ele vai custar menos do que isso.”

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