Haitianos tentam emprego no Itaquerão para ajudar famílias após terremoto

Alexandre Sinato

Em São Paulo

Eles moram há dois meses no Brasil. Deixaram o Haiti em busca de emprego e sonhando com dias melhores. Hoje, a maior esperança desse trio de haitianos é poder trabalhar na construção do estádio do Corinthians, cujas obras seriam iniciadas nesta terça-feira e foram novamente adiadas.

Rene Pierre, Joscely Jeune e Jean Macdony Ermilus vivem num abrigo na Praça da Sé com mais dois amigos vindos do país da América Central. Desanimados com a situação econômica do Haiti, apostaram na vinda para o Brasil mesmo sem nenhuma garantia.

Fotos de Alexandre Sinato/UOL

“As coisas lá estão muito difíceis. A pobreza é muito grande. Há muitos desempregados e não tem trabalho para ninguém”, contou Rene Pierre.

Além de falar francês e crioulo, idiomas oficiais do Haiti, ele também se arrisca no espanhol e fala poucas palavras em português. Com isso, espera não ter dificuldade para conseguir uma vaga nas obras do Itaquerão.

"Queremos ganhar algum dinheiro aqui e mandar para nossas famílias. Também seria bom se desse para trazer nossas famílias para cá", disse Joscely Jeune.

Até torcedor do Palmeiras foi a Itaquera em busca de emprego nas obras do estádio do Corinthians

Tímidos e um pouco desconfiados, eles lembram a tristeza causada pelo terremoto que devastou o Haiti em 12 de janeiro de 2010. Segundo as autoridades locais, 316 mil pessoas morreram. Exatamente um ano após a tragédia, a Organização das Nações Unidas declarou que a "prioridade absoluta" das agências humanitárias em 2011 era acelerar a recuperação do país.

O tema, obviamente, incomoda os aspirantes a uma vaga no Itaquerão e tem relação direta com a viagem deles ao Brasil. "Muita gente perdeu suas casas. Ficou tudo destruído. Ninguém tem dinheiro para construir novas casas. Por isso viemos ao Brasil", explicou Pierre.

O trio haitiano chegou cedo ao terreno do Corinthians na manhã desta terça-feira e promete voltar nos próximos dias. "Ficamos sabendo do estádio e viemos para cá às 5h da manhã", afirmou Jeune.

Munidos de documentos, eles se juntaram às dezenas de pessoas que também sonham com uma vaga no Itaquerão. A construção do estádio pode gerar mais de mil postos de trabalho. Rene, Joscely e Jean passaram a manhã toda na calçada do terreno corintiano e asseguram que tentarão uma oportunidade até o final, como resumiu Pierre. “Seria um recomeço para nós.”