Rodrigo Mattos

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OpiniãoEsporte

Críticas europeias ao Mundial de Clubes defendem futebol colonizador

Há uma corrente na Europa de oposição ao Mundial de Clubes, seja de ligas nacionais, 'entidade de jogadores' e de parte da imprensa.

Trata-se de uma disputa de ligas como a Premier League e a La Liga com a Fifa relacionada ao calendário mundial. Já foi motivo até de um processo pelas ligas para questionar à autoridade da federação internacional de estabelecer o cronograma de jogos no globo.

Maior opositor do Mundial, o presidente da La Liga, Javier Tebas, disse que seu objetivo é acabar com a competição. Deixa claro que seu temor é pelos efeitos econômicos na sua competição, embora também fale sobre cansaço dos jogadores.

A intenção deste grupo de ligas é manter o status quo. E qual o status quo? Um modelo colonizador igual ao estabelecido na chegada ao 'novo continente' em que os europeus exploram matéria primas das Américas e da África e vendem de volta produtos mais caros após uma industrialização.

É assim que funciona a ordem atual do futebol mundial. Os clubes europeus compram jogadores baratos da América do Sul e da África, alguns da Ásia. Com eles, são capazes de montar os campeonatos de maior qualidade futebolística do mundo, seja na Inglaterra, na Espanha, na Itália, ou na Champions.

O produto premium é vendido para o mundo por muitos milhares de euros a mais do que o investimento feito em jogadores. A Premier League atualmente arrecada mais da metade da sua receita de televisão com outros países, fora do Reino Unido. A La Liga também é fortíssima na venda do exterior. Ambos miram o próprio mercado dos EUA com torneios por lá.

Aliás, o tal Javier Tebas fala em cansaço de jogadores, mas a La Liga quer realizar jogos nos EUA. E a federação espanhola levou seus principais times para jogar a Supercopa na Arábia Saudita em troca de contratos vultuosos.

O Mundial da Fifa certamente não vai derrubar esse sistema. Mas traz um período mínimo de exposição mundial para todos os clubes do mundo, não só os europeus.

O campeonato, por sinal, coloca em sério risco a reputação de NBA das ligas europeias e da Champions. Os quatro clubes brasileiros, por exemplo, Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras, são líderes de seus grupos batendo europeus. Com o mundo todo vendo, não parece mais que o patamar europeus seja inatingível, embora certamente superior.

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Há ainda o elemento de receitas maiores para alguns clubes sul-americanos, africanos, asiáticos e norte-americanos.

Não é o suficiente para construir uma realidade financeira diferente no futebol. Mas e se o mundo começar a olhar diferente para os clubes brasileiros e argentinos com suas festas e quiser comprar seus eventos? E se esses clubes tiverem capacidade de reter por mais tempo seus talentos e produzir no continente campeonatos que rivalizem com os europeus? O Brasileiro já é a quinta ou sexta liga do mundo.

Há um mercado limitado para compra de direitos. Se novos campeonatos entrarem, a La Liga de Tebas perde, a Premier League também.

Por trás do discurso de defesa dos jogadores, o que os dirigentes europeus das ligas querem é proteger o seu dinheiro, seu mercado e seu modelo colonialista.

O Mundial da Fifa não é uma competição perfeita. Não se sustenta ainda em receitas orgânicas. Foi essencial que a DAZN e o PIF (fundo soberano da Arábia Saudita) injetassem dinheiro saudita para a competição ficar de pé.

Tampouco Gianni Infantino, presidente da Fifa, é um santo arauto da democratização do futebol mundial. Tem interesses comerciais e políticos de desafiar a UEFA com 'sua Champions League'.

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Mas o novo Mundial tem o mérito de colocar em questão a construção eurocêntrica do futebol mundial, do modelo que trata todo o restante do mundo como uma grande colônia do grande futebol europeu. E é isso que incomoda de fato as ligas e parte da mídia do continente.

Opinião

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