Estratégia de Filipe Luís expôs ataque e narrativa frágeis do Palmeiras
Ler resumo da notícia

Para quem cobrava uma nova forma de jogar, Filipe Luís apresentou de fato um Flamengo diferente no Allianz Parque.
Seu time foi armado para tentar controlar o ritmo do jogo, evitar acelerações, priorizar a manutenção da linha defensiva. Não havia a marcação pressão em Weverton, nem a linha alta de zaga, nem o frenesi que caracteriza o seu jogo.
Desta forma, o Flamengo impôs enormes dificuldades a um Palmeiras que vai bem de fato quando é reativo. E por isso pena em casa, e leva vantagem fora dela. Lembremos que é um time que ganhou os três jogos anteriores atuando mal, criando pouco e vencendo em uma bola. Havia muitos pontos e pouca bola.
Pois Filipe Luís fez questão de tentar não dar essa única bola ao Palmeiras. E aí faltam ideias a Abel Ferreira.
O time alviverde até tentou impor marcação pressão e obteve um pênalti duvidoso em mão de Varela. Pela imagem do VAR, impossível dizer se estava dentro ou fora - a infração é clara. Rossi, em época de futebol brilhante, pegou a batida fraca de Piquerez.
O Flamengo passou a dominar bola sem criar nada também. Houve depois alternância com o Palmeiras que também pouco gerava chance com seu modelo conservador. Era um jogo estéril.
Destacava-se só a lição de bola que Alex Sandro dava no talentoso Estêvão. O garoto não ganhava uma bola e chegou a parar na placa.
Negativamente, chamava a atenção o árbitro Ramon Abatti Abel. Diante de um Gustavo Gomez já amarelado, decidiu ignorar uma entrada com a sola no pé em Luiz Araújo que era clara para uma segunda sanção e expulsão. Não será um lance muito lembrado nas narrativas pós-jogo.
Na volta para o segundo tempo, Filipe Luís trocou Cebolinha (sem conseguir dominar a bola) por Michael. Mas, logo aos 15min, o Flamengo perdia Gerson. Depauperado, sem meio de campo, o Rubro-negro teria Varela de volante. Outro acerto do técnico rubro-negro diante da escassez.
E o Palmeiras entrava com Maurício, e depois Paulinho, depois Flaco. Havia elenco de sobra do lado alviverde. Abel enfim se lançava porque o adversário parecia fragilizado, o jogo pendia para o Palmeiras. Faltava mesmo é um técnico com predicados ofensivos.
Foi justamente saindo de uma pressão do Palmeiras que o Flamengo superou e achou seu gol de pé em pé. De Danilo rente à linha para Léo Ortiz, que dá em Luiz Araújo, que gira, dribla e vira. E acha Arrascaeta. Murilo põe a mão na sua frente em bloqueio e Ramon Abatti Abel marca pênalti.
Um pênalti marcado só para quem acha que todo contato é falta. Tão discutível quanto o primeiro. Melhor seria não marcar ambos, embora assinalar os dois também não seja nenhum absurdo - são lances difíceis para o árbitro. Arrascaeta deslocou Weverton e fez.
Daí, o Palmeiras se lançou com tudo. Conseguiu três ou quatro lances perigosos na área rubro-negra. O time alviverde sabe atacar só se houver exposição total, desorganização. O mundo de Abel funciona melhor no conservadorismo mesmo. Fora dele, tem custo.
O custo foi a troca de passes entre Pedro, Wallace Yan e Ayrton Lucas para o último fazer o segundo gol rubro-negro.
O Flamengo, que só arrematou sete vezes no gol, fazia o segundo. O Palmeiras, que costuma ganhar em uma bola e concluiu 13 vezes, perdia em jogadas pontuais. Uma ironia do Brasileiro.
Se fosse uma vitória alviverde, diriam que heroica, fruto da resiliência. Como foi rubro-negra, haverá sempre um João ou um Martins para construir narrativas sobre jeitinhos brasileiros.
Talvez os Joãos e os Martins possam nos explicar se esse tal jeitinho brasileiro a que se referem é algo desonesto, irregular, só visto por aqui e nunca na tão proba terra d'além mar de onde infelizmente nada herdamos como se sabe nesses 500 e tantos anos. Talvez os Joãos e os Martins possam até nos apresentar provas dessa eterna grande conspiração contra a sua grande Nau de que tanto falam ano a ano sempre que perdem, Brasileiro após Brasileiro. Estamos todos a esperar como a um Dom Sebastião.
PS O diretor de futebol do Flamengo, José Boto, foi igualmente preconceituoso ao falar de arbitragem de 'terceiro mundo' em sua crítica à atuação de Ramon Abatti Abel e do VAR.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.