Rodrigo Mattos

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OpiniãoEsporte

Estratégia de Filipe Luís expôs ataque e narrativa frágeis do Palmeiras

Para quem cobrava uma nova forma de jogar, Filipe Luís apresentou de fato um Flamengo diferente no Allianz Parque.

Seu time foi armado para tentar controlar o ritmo do jogo, evitar acelerações, priorizar a manutenção da linha defensiva. Não havia a marcação pressão em Weverton, nem a linha alta de zaga, nem o frenesi que caracteriza o seu jogo.

Desta forma, o Flamengo impôs enormes dificuldades a um Palmeiras que vai bem de fato quando é reativo. E por isso pena em casa, e leva vantagem fora dela. Lembremos que é um time que ganhou os três jogos anteriores atuando mal, criando pouco e vencendo em uma bola. Havia muitos pontos e pouca bola.

Pois Filipe Luís fez questão de tentar não dar essa única bola ao Palmeiras. E aí faltam ideias a Abel Ferreira.

O time alviverde até tentou impor marcação pressão e obteve um pênalti duvidoso em mão de Varela. Pela imagem do VAR, impossível dizer se estava dentro ou fora - a infração é clara. Rossi, em época de futebol brilhante, pegou a batida fraca de Piquerez.

O Flamengo passou a dominar bola sem criar nada também. Houve depois alternância com o Palmeiras que também pouco gerava chance com seu modelo conservador. Era um jogo estéril.

Destacava-se só a lição de bola que Alex Sandro dava no talentoso Estêvão. O garoto não ganhava uma bola e chegou a parar na placa.

Negativamente, chamava a atenção o árbitro Ramon Abatti Abel. Diante de um Gustavo Gomez já amarelado, decidiu ignorar uma entrada com a sola no pé em Luiz Araújo que era clara para uma segunda sanção e expulsão. Não será um lance muito lembrado nas narrativas pós-jogo.

Na volta para o segundo tempo, Filipe Luís trocou Cebolinha (sem conseguir dominar a bola) por Michael. Mas, logo aos 15min, o Flamengo perdia Gerson. Depauperado, sem meio de campo, o Rubro-negro teria Varela de volante. Outro acerto do técnico rubro-negro diante da escassez.

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E o Palmeiras entrava com Maurício, e depois Paulinho, depois Flaco. Havia elenco de sobra do lado alviverde. Abel enfim se lançava porque o adversário parecia fragilizado, o jogo pendia para o Palmeiras. Faltava mesmo é um técnico com predicados ofensivos.

Foi justamente saindo de uma pressão do Palmeiras que o Flamengo superou e achou seu gol de pé em pé. De Danilo rente à linha para Léo Ortiz, que dá em Luiz Araújo, que gira, dribla e vira. E acha Arrascaeta. Murilo põe a mão na sua frente em bloqueio e Ramon Abatti Abel marca pênalti.

Um pênalti marcado só para quem acha que todo contato é falta. Tão discutível quanto o primeiro. Melhor seria não marcar ambos, embora assinalar os dois também não seja nenhum absurdo - são lances difíceis para o árbitro. Arrascaeta deslocou Weverton e fez.

Daí, o Palmeiras se lançou com tudo. Conseguiu três ou quatro lances perigosos na área rubro-negra. O time alviverde sabe atacar só se houver exposição total, desorganização. O mundo de Abel funciona melhor no conservadorismo mesmo. Fora dele, tem custo.

O custo foi a troca de passes entre Pedro, Wallace Yan e Ayrton Lucas para o último fazer o segundo gol rubro-negro.

O Flamengo, que só arrematou sete vezes no gol, fazia o segundo. O Palmeiras, que costuma ganhar em uma bola e concluiu 13 vezes, perdia em jogadas pontuais. Uma ironia do Brasileiro.

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Se fosse uma vitória alviverde, diriam que heroica, fruto da resiliência. Como foi rubro-negra, haverá sempre um João ou um Martins para construir narrativas sobre jeitinhos brasileiros.

Talvez os Joãos e os Martins possam nos explicar se esse tal jeitinho brasileiro a que se referem é algo desonesto, irregular, só visto por aqui e nunca na tão proba terra d'além mar de onde infelizmente nada herdamos como se sabe nesses 500 e tantos anos. Talvez os Joãos e os Martins possam até nos apresentar provas dessa eterna grande conspiração contra a sua grande Nau de que tanto falam ano a ano sempre que perdem, Brasileiro após Brasileiro. Estamos todos a esperar como a um Dom Sebastião.

PS O diretor de futebol do Flamengo, José Boto, foi igualmente preconceituoso ao falar de arbitragem de 'terceiro mundo' em sua crítica à atuação de Ramon Abatti Abel e do VAR.

Opinião

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