Fla quer mudar divisão da Globo e cogita sair da Libra se não for atendido
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O Flamengo já fez uma proposta para a Libra para mudança na divisão do bolo do contrato do Brasileiro com a Globo. A intenção especificamente é alterar o critério de audiência pois há uma avaliação de que o clube perde quase R$ 100 milhões - há outros pleitos rubro-negros na mesa.
A diretoria do clube da Gávea cogita uma saída da Libra caso não tenha nenhuma das suas demandas atendidas pelo grupo.
Após assumir o clube, o presidente Luiz Eduardo Baptista decidiu fazer uma revisão geral do contrato com a Globo e das regras da Libra. Contratou inclusive um especialista — Marcelo Campos Pinto, ex-executivo da Globo — para tratar do tema.
Após extenso estudo, a diretoria do Flamengo constatou que as perdas podem ser ainda maiores do que esperado inicialmente na assinatura do contrato. Isso foi expresso por Bap em reunião do Conselho Deliberativo, na semana passada.
Durante o encontro, o dirigente fez críticas à negociação da Libra. E explicou pontos do acordo que considera problemáticos. O clube, diga-se, já se conformou que terá uma perda em relação ao contrato anterior de 2024, quando recebeu R$ 292 milhões por ter o mínimo garantido de PPV. Não é mais essa a discussão.
A questão é que a projeção do que a Libra entende que o clube vai ganhar e o que o Flamengo calculou que vai ganhar são bem diferentes. Na Libra, havia a estimativa de um ganho de R$ 220 milhões por ano para o Rubro-Negro.
Mas o Flamengo já estima que pode ficar com apenas R$ 150/160 milhões em um cenário mais pessimista, menos do que o Palmeiras - isso em uma posição de 3º no campeonato. E isso deve-se ao critério de audiência que teoricamente deveria ter como objetivo valorizar a marca dos clubes, isto é, a força de sua torcida.
Mas há dois problemas na visão rubro-negra: 1) o cálculo é feito com a audiência contando dividida igualmente entre time visitante e mandante 2) o Flamengo tem menos jogos em TV aberta por estratégia da Globo para bombar o pay-per-view. E a Globo tem poder total para escolher jogos na TV aberta e fechada.
Com isso, o clube estima que só teve 4% de audiência entre todos os times da Série A em 2024. Isso se refletiria em apenas 10/11% do bolo da fatia de audiência da Libra (cálculo proporcional). É um ganho de algo como R$ 30 milhões. É praticamente uma divisão igualitária considerando que são nove clubes e esse bolo é R$ 290 milhões.
Esse critério é bem pior para o Flamengo do que o anterior que levava em conta base de assinantes de TV (PPV), pesquisa de torcida e público em estádio.
Por isso, o Flamengo propôs a alteração do critério para cadastro de torcida no PPV que mede a força comercial de cada público. A torcida rubro-negra tem 21,5% do PPV da Globo. Com a proporção dentro da Libra, o ganho do clube neste item saltaria para 37%.
Assim, o clube ganharia R$ 108 milhões em suas contas. Considerando mudanças também no PPV, que são reivindicadas pelo clube, o Flamengo entende que sua receita total do contrato saltaria para R$ 250 milhões. E aí seria um valor considerado justo na visão rubro-negra.
As mudanças no pay-per-view pedidas têm relação com a fatia a que todos os clubes da Libra terão em relação à Globo. Pelo contrato, têm direito a uma fatia de 40% dentro dos 40% destinados aos clubes, isto é, menos de R$ 200 milhões. Isso considerando a receita atual de R$ 1 bilhão do PPV.
O que o Flamengo defende é que os clubes da Libra tenham direito a 57% dos 40%. Sua tese é simples: os clubes do grupo entregam 57,8% do público do pay-per-view da Globo. Assim, ganhariam mais de R$ 200 milhões. A diferença é entre R$ 30 e 40 milhões para todos os clubes.
Essas demandas, até agora, têm encontrado pouco eco na Libra. O clube precisaria de uma aprovação de todos os outros membros para conseguir a mudança. O Flamengo vai insistir na alteração, mas há certo pessimismo.
Mas, se todos os clubes rejeitarem o pleito, Bap já tem como plano alternativo se retirar da Libra e não participar de mais nenhum negócio da associação. A visão rubro-negra é que não vai ficar em um grupo só gerando dinheiro para o bolo, perdendo dinheiro e sem ter poder de decisão.
Inclusive já existem uma aproximação do Flamengo com membros da Liga Forte União. Mas uma adesão a outra Liga também não é fácil porque o critério de divisão prevê apenas 25% para audiência, isto é, seria ainda pior para o clube da Gávea. Mas a relação do clube com a LFU atualmente é boa.
Bap elogiou a LFU por sua negociação de TV considerada por ele mais eficiente do que a da Libra. Ao Conselho Deliberativo, afirmou: "A Libra vendeu o boi para a Globo. A LFU separou o filé mignon e a picanha e vendeu separadamente".
Tanto que outra demanda do Flamengo é que o contrato da LFU seja mostrado na Libra para se obter as mesmas condições, embora não os mesmos valores. Uma das cláusulas criticadas pelo clube, por exemplo, é fato de que o aumento do número de clubes na Série A, são nove atualmente, não geraria ganho nenhum extra, diminuindo a fatia de cada um.
Obviamente, uma saída da Libra não mudaria o fato de que o Flamengo terá de cumprir o contrato assinado com a Globo, assim como as regras atuais da associação de divisão. Mas o clube estaria fora de qualquer outro negócio ou movimento político da Libra.
A ausência de assinatura no manifestou contra a Conmebol na questão de racismo já foi um primeiro passo nessa direção. E essa ruptura deve se acentuar nas próximas semanas se não houver nenhuma resposta positiva às demandas do clube.
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