Eliminatórias da Copa preservam raiz e fogem de pasteurização da Fifa

Um jardim de infância ao lado do hotel em Barranquilha estava na hora do recreio: havia seis, sete crianças brincando no parque externo. Todas vestiam a camisa da Colômbia, mais o inspetor, mais a professora. Uma olhada em volta mostra que não eram exceção: a febre amarela se alastrava.
A forma como os colombianos caribenhos viveram o jogo diante do Brasil é uma demonstração da realidade das Eliminatórias da Copa-2026. Um cenário bem diferente do que se vê na fase final da Copa, no Qatar, na qual a força e originalidade das torcidas pelo mundo eram submetidas a uma série de regras.
A Copa do Qatar é controlada pela Fifa e seu processo de pasteurização. As Eliminatórias ainda têm os jogos organizados pelas federações locais.
A Copa da Fifa no Qatar é uma música do Cold Play com luzes apagadas no estádio para o público usar seus celulares para repetir shows pop (também rolou em Colômbia x Brasil, sem música).
A partida em Barranquilha é salsa no último volume, dentro e fora do estádio. Nos arredores, há disputa de caixa de som. Dentro, a única artista internacional permitida é Shakira, que, na real, é local.
A Copa da Fifa é hambúrguer, comida internacional com gosto de plástico, água por preço de cerveja. Aliás, não houve cerveja na Copa da Fifa, só se bebia álcool nos setores vips.
A "Copa da América do Sul" é arepa, sandwich cubano e choripán. Há guerra de anúncios de cerveja nas redondezas. No estádio, quem manda e a Águila, patrocinadora da seleção.
A grande inovação da Copa da Fifa foram os aparelhos de ar-condicionado em todos os estádios, que garantiam uma temperatura viável ao futebol no calor do Oriente Médio. Não era incomum sentar em um assento que tinha um jato de ar nos seus pés ou costas.
Em Barranquilla é o calor que gruda todos as peças no corpo de tanto suor. Para refrescar? Abanadores, gelo e água fria na testa.
É inegável que a fase final da Copa tem uma organização bem superior ao que se vê nas Eliminatórias. Mas também é irrefutável que essa pasteurização a que a Fifa tem submetido o campeonato o afasta cada vez mais do que é a essência do futebol.
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