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Rodrigo Mattos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Caldeirão no Flamengo deixa Landim como equilibrista na corda

Rodolfo Landim  - Jorge Adorno / Reuters
Rodolfo Landim Imagem: Jorge Adorno / Reuters

Rodrigo mattos

25/06/2022 04h00

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No período de apenas uma semana, o Flamengo perdeu duas vezes do Atlético-MG, um dos principais membros da diretoria deixou cargo no futebol e um grupo político de peso cobrou publicamente em carta por mudanças no clube. O presidente Rodolfo Landim é alvo de pressão de todos os lados por mudanças no departamento de futebol. É um incógnita se esse o movimento vai leva-lo a fazer alterações.

Após 13 rodadas realizadas no Brasileirão, o Flamengo soma 15 pontos, 13 pontos atrás do líder Palmeiras, e enfrenta o América-MG neste sábado. Já foi obrigado a demitir o técnico Paulo Sousa e contratar Dorival Jr. Trata-se do sexto da gestão de Rodolfo Landim.

Esses sintomas geraram questionamentos sobre os motivos do baixo rendimento do futebol rubro-negro. Lembremos que falamos do clube com receita de R$ 1 bilhão e dono do maior investimento em elenco.

Diferentemente de outras crises, o foco não está apenas no técnico. Há questionamentos sobre a forma de gerir o futebol por meio de um vice-presidente, Marcos Braz, a formação do elenco atual com veteranos e a estrutura e staff no departamento de futebol.

A oposição já tinha enviado um projeto ao Conselho Deliberativo para "profissionalizar" o futebol do clube. O objetivo era acabar com o cargo de vice-presidente de futebol - e outros VPs temáticos. Um diretor deveria se reportar diretamente ao Conselho de Administração. Foi barrada pelo presidente do Conselho Deliberativo, Antônio Alcides.

Mas essa certeza de que há problemas na gestão do futebol rubro-negro se alastrou além da oposição. Durante a semana, Luiz Eduardo Baptista, presidente do Conselho de Administração, deixou seu cargo no Conselho de Futebol, juntamente com outros dois. Motivo: divergências na condução do futebol.

Há um problema de relacionamento entre Bap e Braz antigo. Mas há também uma visão diferente de como deve ser conduzido o futebol. Aos poucos, Landim foi optando por dar força ao vice de Futebol e deixar o outro aliado de lado. Não há uma ruptura política definitiva, mas está claro que o movimento afasta Bap da atual gestão.

Bap não é o único na diretoria insatisfeito com a condução o futebol neste ano. Reunião de diretoria na segunda-feira também expôs outros questionamentos sobre o departamento, em encontro em que Braz não estava presente. As contratações de jogadores são vistas como mal sucedidas por parte dos cartolas.

Na sequência, um grupo composto por dirigentes e grupos importantes no clube - três ex-presidentes Márcio Braga, Eduardo Bandeira de Mello e Kléber Leite - tornou pública uma carta fazendo críticas à gestão e pedindo uma série de mudanças no clube. Sobre o futebol, foram feitas reivindicações para redução do papel dos amadores no futebol, contratação de um novo diretor de alto nível e constituição de uma comissão técnica permanente. As críticas são diretas a Braz, mas também a Bap. E a intenção final é provocar mudanças na forma de gerir de Landim.

Landim é pouco afeito a mudanças radicais por pressão. Além disso, sua diretoria foi composta por uma complexa rede de alianças em que cargos foram distribuídos a grupos políticos. Tirar dirigentes amadores e profissionais de seus postos significa abrir mão de apoios que garantiram sua reeleição com sobras. Há quem aposte que ele vai ignorar solenemente a pressão por mudanças.

Ao mesmo tempo, a manutenção da atual estrutura está lhe rendendo cada vez mais oposição e debandadas. Para não falar no efeito externo, são constantes os gritos de protestos da torcida rubro-negra no Maracanã com hostilidades a Landim.

O dirigente está portanto em uma corda de equilibrista. Uma mudança pode joga-lo na frigideira, mas se manter parado pode faze-lo cair no caldeirão. Sua salvação é se a bola do Flamengo começar a entrar de novo apesar de todos os erros de gestão.

PS A carta de ex-presidentes, sócios e conselheiros tem a assinatura do ex-dirigente Kléber Leite, responsável por boa parte da dívida que levou o time ao buraco nos anos 2000. Não é alguém que possa falar em profissionalismo.

PS Após a publicação da coluna, Kléber Leite ligou para o blog e ressaltou que o profissionalismo foi "introduzido pela primeira no Flamengo em 1994 a 1998." Acrescentou que pagou em dia os compromissos e salários de toda a sua gestão, além de quitar atrasados de período anterior.