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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Como o Botafogo SAF receberá investimento de R$ 350 milhões em três anos

John Textor posa com a camisa do Botafogo em visita ao Estádio Nilton Santos - Vitor Silva/Botafogo
John Textor posa com a camisa do Botafogo em visita ao Estádio Nilton Santos Imagem: Vitor Silva/Botafogo

12/01/2022 03h59

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O Botafogo SAF terá um investimento de R$ 350 milhões da Eagle Holdings em três anos. A empresa ainda assumirá as dívidas esportivas (cobranças na Fifa, CBF e Ferj), além de destinar um percentual das receitas para os pagamentos dos outros débitos. Há ainda regras sobre orçamento mínimo para o futebol para se manter competitivo na Série A.

Essas informações constam dos documentos publicados pelo Botafogo sobre sua venda para a Eagle Holdings, do investidor norte-americano John Textor. O acordo vinculante entre as partes —assinado nos últimos dias— será votado pelos poderes do clube na quinta-feira e sexta-feira, Conselho Deliberativo e assembleia geral.

Foi disponibilizado um documento com o ponto a ponto do acordo, e o clube ainda colocou perguntas e respostas para conselheiros. Nem todos os termos são conhecidos por conta de sigilo. Mas vamos explicar ponto a ponto:

Investimento

Há previsão da Eagle Holdings investir R$ 350 milhões no Botafogo SAF em três anos. O cronograma é o seguinte: 1) R$ 100 milhões seriam aportados na assinatura do acordo definitivo. 2) R$ 100 milhões investidos até 12 meses do acordo. 3) R$ 100 milhões até 24 meses de acordo. 4) R$ 50 milhões até 36 meses do acordo.

Não está explicitado o uso deste dinheiro. Mas John Textor já indicou em entrevistas que quer incrementar a infraestrutura do Botafogo, incluindo seu CT e o Estádio Nilton Santos. Haverá necessidade ainda de aporte para o futebol para manter o time na Série A.

Empréstimo

Outros R$ 50 milhões serão emprestados pela empresa de Textor para o clube associação. Este dinheiro pode ser pago de volta ou pode ser convertido em 10% de ações da SAF. Ou seja, se pagar, o Botafogo fica com 20% da empresa. Se não quitar os valores, o clube retém apenas 10% das ações.

Pela resposta do clube a conselheiros, a destinação do dinheiro ainda será definida, mas poderá ser usada em despesas correntes do clube.

Dívidas

As dívidas esportivas do Botafogo (CBF, Ferj e CNRD —tribunal da CBF) serão assumidas pelo Botafogo SAF. Assim, se houver cobranças de clubes que poderão impedir as contratações do Botafogo, essas serão quitadas, o que, aparentemente, também ocorrerá com empréstimos feitos pela confederação e pela federação do Rio.

O documento ainda explica que o Botafogo SAF tem de destinar um valor para pagamento de dívidas tributárias e ato trabalhista. É detalhado no papel que seriam usados royalties recebidos pelo clube pelos seus direitos. Em resposta a conselheiros, o Botafogo indicou que não necessariamente são os royalties, mas que haverá obrigação de verba para este fim.

Além disso, o Botafogo SAF tem de destinar 20% das receitas para pagar as dívidas do regime centralizado de execuções, isto é, ações trabalhistas e cíveis. Esses débitos ficam com o clube associativo. Após dez anos, se os débitos não forem integralmente quitados, o Botafogo SAF se torna solidário na dívida. O débito alvinegro é próximo de R$ 1 bilhão, segundo o balanço de 2020.

Dinheiro para o futebol

O acordo prevê uma obrigação de um orçamento "compatível com as melhores práticas da Série A". Há uma imposição de investimento de pelo menos 50% da receita no futebol. Mas o Botafogo não detalhou os parâmetros para determinar o que são as melhores práticas da Série A: alegou sigilo contratual.

No projeto inicial do Botafogo, havia previsão de que a parceria poderia ser cancelada em caso de dois rebaixamentos em cinco anos ou caso a SAF não ganhasse um título de expressão nacional ou internacional em dez anos (Brasileiro, Copa do Brasil, Sul-Americana ou Libertadores). Mas isso não foi incluído no acordo com Textor.

Gestão

Há previsão de um Conselho de Administração do Botafogo SAF com cinco membros, sendo um do clube associação e outros quatro do investidor norte-americano. A composição minoritária também é verificada no Conselho Fiscal.

Em resposta a conselheiros, o Botafogo informou que há restrições para a revenda da SAF, mas não detalhou quais são os limites por sigilo. Por fim, ainda explicou que há uma cláusula de preferência de recompra da SAF pelo clube.