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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Como é o plano do Cruzeiro para pagar R$ 9 mi em atrasos e operar no azul

Sérgio Santos Rodrigues sofre pressão da torcida, que agora quer impeachment do presidente - Gustavo Aleixo/Cruzeiro
Sérgio Santos Rodrigues sofre pressão da torcida, que agora quer impeachment do presidente Imagem: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

16/10/2021 04h00

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O Cruzeiro acumula R$ 9,1 milhões em salários atrasados incluídos aí valores do time de futebol e funcionários referentes a meses de 2021 e 2020. Isso ocorreu apesar de o clube ter cortado até R$ 30 milhões em despesas no futebol no ano de 2021, segundo o balancete semestral. O problema é atribuído pela diretoria a penhoras judiciais e contratos antigos. A solução de urgência vislumbrada são empréstimos privados e novas receitas até resolver a situação com a transformação em empresa no final do ano.

Os jogadores do Cruzeiro entraram em greve durante a semana por causa dos atrasos. São cerca de 350 pessoas afetadas. O maior montante da dívida é com atletas do elenco (R$ 5 milhões), principalmente referente aos meses de junho e setembro deste ano. Mas há ainda valores com funcionários da administração e do CT.

A diretoria do clube busca uma solução de urgência para levantar R$ 30 milhões para resolver as contas do clube até o final do ano. Esse dinheiro deve entrar de forma parcial.

"Temos a situação da sede, com iminente venda; investidores que nunca negaram apoio, essa parte de parceria é importante; o lançamento do NFTs. Há a possibilidade para o final do ano de venda de jogador", explicou o presidente do Cruzeiro, Sergio Rodrigues, ao blog. Ele já esteve em encontro nesta sexta com empresários. "Segunda-feira tem outras reuniões. Falei com o nosso apoiador para ter encaminhamento parcial, não quitar tudo."

A atual diretoria tem reduzido as despesas desde a chegada ao clube, além de alavancar receitas de marketing. Houve avanços nestes dois campos, em um trabalho assessorado pela consultoria Alvarez & Marsal. Mas as reduções de despesas foram em patamares insuficientes para garantir o fluxo de pagamento.

Isso porque há bloqueios judiciais —cíveis e trabalhistas— no total de R$ 10 milhões. São resultado de acordos feitos e não cumpridos por falta de fluxo de caixa. A dívida líquida do clube, que pesa sobre o caixa, é aproximadamente R$ 1 bilhão.

"A gente teve situações como bloqueios judiciais, aproximadamente de R$ 10 milhões, nos últimos 12 meses. Não pode deixar de citar o desempenho esportivo, prevíamos chegar até as oitavas de final da Copa do Brasil [como impacto]. Verbas mais diretas como sócio-torcedor também são afetadas", explicou o CEO do Cruzeiro, Paulo Assis, que também estuda medidas judiciais para unificar cobranças.

Em 2021, com a reestruturação, houve uma queda de R$ 30 milhões com os gastos com o futebol em relação a 2020 —ficaram em R$ 65,7 milhões no primeiro semestre deste ano.

Houve também um crescimento das receitas em torno de R$ 15 milhões —atingiram R$ 69 milhões, principalmente por causa de receitas de marketing. Assim, o futebol até gera recursos para pagar a folha, mas não o suficiente para manter o clube no azul.

"No regime de competência, tivemos um resultado de déficit de R$ 22 milhões. Representa uma melhora de R$ 43 milhões de resultado em relação ao ano passado. Quando olha para o caixa, o recado que a gente quer passar: Não vamos resolver o problema do Cruzeiro da noite para o dia. A principal área do clube que é o futebol é superavitária, o que é a estabilidade para pagar a dívida", analisou o CEO, Paulo Assis.

O dirigente explicou que ainda existe déficit porque não foi possível cortar mais as despesas. "Carregamos contratos de gestões anteriores. A gente tinha um elenco bastante caro, a gente está reduzindo bastante. Estamos reduzindo escritório, fornecedores, alguns hiperdimensionados", disse ele.

Na parte de receitas, o problema é que o clube não tem previsão de receber nenhuma cota de televisão até o final da gestão atual, em 2022. Explica-se: diretorias anteriores tinham antecipado R$ 92 milhões que vão sendo descontados da cota reduzida (pay-per-view) recebida na Série B.

Neste cenário de estrangulamento, o Cruzeiro precisa de cerca de R$ 30 milhões para fechar o ano de 2021. Ou seja, é o valor necessário para quitar os atrasados e pagar o restante das despesas do ano. Assim, o clube ganha fôlego para a estruturação da SAF (Sociedade Anônima de Futebol) do Cruzeiro até o final do ano.

Sergio Rodrigues entende que a crise com o elenco atual não vai afetar a imagem da empresa com potenciais investidores. "Quem vai entrar sabe que tudo é novo. Nosso problema é financeiro. Quem entrar vai entrar com dinheiro", analisou.

Segundo ele, a empresa será fundada nos próximos meses. No final do ano, está prevista a transferência dos ativos do clube para a empresa. O Conselho Deliberativo já aprovou que sejam vendidas cotas de até 49% da empresa, o restante ficaria com o Cruzeiro.

A estruturação da SAF do Cruzeiro é feita pela Alvarez & Marsal e pela XP. A primeira atua na organização dos compromissos e de gestão, enquanto a segunda capta investimentos no mercado. O objetivo é constituir a SAF nos próximos meses. A expectativa é de que isso signifique resolver os problemas de pagamentos de vez do clube. Os próximos dois meses, portanto, são decisivos para o futuro do Cruzeiro.