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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Suspensão de Brasil e Argentina tem contradições entre cartolas e Anvisa

Messi e Neymar durante a paralisação de Brasil x Argentina, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022 - REUTERS
Messi e Neymar durante a paralisação de Brasil x Argentina, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022 Imagem: REUTERS

06/09/2021 04h00

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Após poucos minutos, o jogo entre Brasil e Argentina foi interrompido por funcionários da Anvisa: alegavam que jogadores argentinos descumpriram regras sanitárias do país em meio à pandemia de coronavírus. O goleiro Emiliano Martínez, o zagueiro Cristian Romero, o volante Lo Celso e o meia Emiliano Buendía tinham como país de origem a Inglaterra, o que exigiria uma quarentena de 14 dias. O que aconteceu até aquela paralisação é contado em uma série de versões contraditórias.

Os jogadores argentinos chegaram ao país na manhã de sexta-feira. De acordo com a Anvisa, prestaram declarações falsas em sua chegada. Ou seja, não informaram que tinham estado na Inglaterra no prazo anterior de 14 dias. É esse o ponto inicial do episódio.

Havia um protocolo aprovado pela Conmebol com governos para que jogadores desfrutassem de uma exceção às regras sanitárias. Mas esse acordo é de 2020. Lembremos que não houve nenhuma questão com atletas estrangeiros durante a Copa América, apoiada e patrocinada pelo governo federal.

Em 23 de junho de 2021, o governo federal editou uma portaria com restrições de quarentena para quem viesse de alguns países como a Inglaterra, que tinha estabelecido o mesmo com o Brasil. O texto diz que só se refere a estrangeiros, e não a brasileiros. Mas é ambíguo no seu artigo 7 ao afirmar que inclusive brasileiros que viessem destes países teriam de se submeter à quarentena.

A CBF pediu ao governo exceção para seus atletas que viriam da Inglaterra para jogos de maio e junho. Demorou para obter um aval do governo federal para que fossem isentos da quarentena, segundo informações da entidade.

A Conmebol também reivindicou a exceção para os atletas da Argentina quando esses já estavam no Brasil, segundo apurou o blog. Recebeu uma negativa da Anvisa.

A questão é que, para os cartolas da Conmebol e da CBF, não havia um veto da participação dos quatro atletas no jogo. Houve uma reunião entre as duas confederações e a Anvisa no sábado.

"No dia 4/9, às 17h, foi realizada a reunião com as instituições envolvidas, na qual a Anvisa e autoridade saúde de São Paulo informaram a contingência de quarentena. No entanto, mesmo depois da reunião e da comunicação das autoridades, os jogadores participaram de treinamento na noite do sábado", diz a nota da Anvisa.

Na versão da Conmebol e da CBF, não houve um veto claro. Argumentam que, na manhã e tarde de domingo, funcionários da Anvisa e da Polícia Federal acompanhavam a delegação argentina e não fizeram menção a impedi-los de ir para o jogo. O entendimento da Conmebol é de que havia um acordo com o governo brasileiro para seguir a partida, com autorização do Ministério da Saúde.

Em nota, a posição da Anvisa é contrária: diz que suas "tentativas foram frustradas" de exigir a quarentena dos jogadores. Uma nota do órgão, às 12h43, três horas antes do jogo, dizia que os quatro atletas estavam irregulares sob o ponto de vista sanitário. Não fica claro como policiais federais se mostraram incapazes de cumprir a lei no território nacional. O técnico argentino Scaloni afirmou que não houve notificação em nenhum momento de que os quatro atletas não poderiam atuar.

Quando foi interrompido o jogo, houve iniciativas para tentar retoma-lo com a saída dos jogadores irregulares pelas regras sanitárias, os argentinos não toparam. A partir daí, a AFA (Associação Argentina) e a CBF passam a ter posições divergentes.

Dentro da confederação, o entendimento jurídico é de que poderia haver jogo pois apenas quatro jogadores estavam impedidos de atuar. Ou seja, havia condições de jogo. Oficialmente, a CBF lamentou por que a Anvisa poderia ter atuado nos momentos ou dias antes do jogo. E afirmou não ter interferido nos protocolos sanitários.

Do lado da AFA, há o entendimento de que havia um acordo nos países do Mercosul para se jogar. Portanto, houve uma interrupção indevida na partida. Não houve chance de adiar o jogo para o dia seguinte porque os argentinos recusaram.

A Comissão Disciplinar da Fifa vai decidir a questão já que a competição é de eliminatórias da Copa. Na CBF, apostam que, quando sair a decisão, é possível que o jogo já não tenha importância na tabela pois Brasil e Argentina lideram a competição e podem já estar classificados para o Mundial do Qatar.