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Rodrigo Mattos

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Como PSG poderá pagar 14% de sua renda a Messi sem ser punido pela UEFA

Lionel Messi, atacante do PSG - Divulgação/Site oficial do PSG
Lionel Messi, atacante do PSG Imagem: Divulgação/Site oficial do PSG

12/08/2021 04h00

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Ao contratar Messi, o CEO do PSG, Nasser Al-Khelaifi, afirmou que as pessoas ficariam "chocadas" com a renda que pode ser gerada para seu clube com a contratação. Era uma forma de assegurar que o clube se manterá dentro das regras de Fair Play da UEFA em relação a gastos.

Primeiro, lembremos que o salário de Messi vai girar em torno de 64 milhões de euros no bruto, segundo a Forbes. Isso representa 12% da renda total do PSG no último ano divulgado de 2020: 540 milhões de euros. O clube foi apenas o sétimo que mais arrecadou no mundo, de acordo com a lista da Deloitte. O contrato é por dois anos.

Some-se a isso salários igualmente altos de Neymar e Mbappé, a crise da Liga Francesa relacionada a direitos de TV, a pandemia, e é uma carga alta. O dinheiro da Autoridade do Qatar, dona do PSG, é sim, ilimitado. Mas, teoricamente, há regras de Fair Play na França e na Europa para restringir gastos dentro dos limites das receitas dos times.

Só que o PSG tem condições extremamente favoráveis no momento. Primeiro, as regras de Fair Play foram flexibilizadas pela Ligue 1 e a UEFA por conta da pandemia de coronavírus. Na França, estão suspensas até 2023/2024.

Na Europa, a UEFA juntou dois anos fiscais - 2020 e 2021 - para analisar os parâmetros financeiros. Mais, permitiu um déficit de 30 milhões de euros. E, principalmente, possibilitou a investidores - leia-se a Autoridade do Qatar - a botar dinheiro em seus clubes. As regras só voltariam ao normal na temporada de 2022/2023. Além disso, Nasser Al-Khelaifi, se tornou membro da UEFA e aliado do presidente, Alexander Ceferin.

Assim, o PSG tem uma temporada inteira já com Messi no time para se estruturar e cumprir as regras no futuro. Basta estruturar um plano convincente empacotado que a UEFA deve ter boa vontade. E qual o plano mais provável?

Na primeira fiscalização da entidade europeia, o clube francês tirou o dinheiro da Autoridade do Qatar como patrocínio. Era um montante significativo. Mas, com Neymar no time, o clube aumentou suas receitas comerciais em outros itens para compensar: acordos com Nike, Air Jordan, Accord.

Nos últimos cinco anos, as receitas comerciais são a principal fonte de renda do PSG: ficaram em 298 milhões de euros em 2020. É o mesmo patamar de quando a Autoridade do Qatar injetava patrocínio inflado. A chegada de Neymar - popular em mercados como a Ásia - é um dos fatores. Messi incrementa essa estratégia. Não, uma contratação não se paga com venda de camisa, isso é balela. Mas astros deste patamar aumentam o valor comercial de acordos feitos pelo clube.

Na outra ponta, o PSG tem receitas baixas de televisão porque a Ligue 1 vive uma crise. Durante a pandemia, a Mediapro abandonou os direitos adquiridos da liga por um preço recordo. Foram feitos novos acordos com a Amazon e o Canal Plus por valores menores, um total de 690 milhões de euros. Para se ter ideia, é apenas 40% a menos do que o contrato da Série A, que é o quarto maior da Europa. Não dá para comparar com Espanha, Alemanha e Premier League.

Na outra ponta, uma boa campanha na Champions League - possível com esse time - infla de novo seus ganhos do PSG. Há aí um pouco do elemento all Inn tão típico de clubes brasileiros.

A venda de alguns jogadores caros é outra estratégia que será usada pelo PSG. Atletas como Icardi podem sair. E até a permanência de Mbappé no futuro é uma dúvida. No ano passado, o PSG, depois de anos de gastança, teve mais receita do que despesa com contratações. Messi, lembremos, gerou 30 milhões de bônus de assinatura, mas não houve pagamento por direitos.

A conta do PSG por Messi, portanto, pode fechar por circunstâncias bem específicas surgidas na pandemia. É um cenário que permite a quem tem dinheiro se alavancar com um contratação que pode se pagar com ganhos futuros. Pelo menos se todas as apostas se confirmarem como calcularam os dirigentes do time.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL