Topo

Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Clubes de elite devem mais de R$ 100 milhões a dois superagentes

André Cury e Raul Sanllehi - Marcus Leoni/Folhapress
André Cury e Raul Sanllehi Imagem: Marcus Leoni/Folhapress

21/05/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Clubes de elite da Série A - como Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Atlético-MG e Inter - devem mais de R$ 100 milhões para dois superagentes de jogadores. São eles: André Cury e Giuliano Bertolucci. Os dados foram levantados pelo blog em balanços de times e fontes envolvidas com as negociações.

André Cury já foi representante do Barcelona e responsável pela ida de Neymar do Santos para o clube espanhol. No Brasil, tem atuação ampla, tendo participado de negócios como as transferências de Arrascaeta para o Flamengo e de Pratto para o São Paulo, entre outros.

Já Giuliano Bertolluci atuou na intermediação da compra de Gabigol pelo Flamengo, e da venda de Militão para a Europa. De perfil discreto, tem influência na maior parte dos grandes clubes brasileiros. Além de intermediarem negócios, esses superagentes emprestam dinheiro para os clubes.

Nos balanços, são três clubes que registram com transparência seus débitos com os agentes: Flamengo, São Paulo e Corinthians. No total, há uma dívida de R$ 76,5 milhões desses clubes com André Cury e Bertolucci.

É o time são-paulino que acumula a maior dívida com os superagentes, um total de R$ 47 milhões. André Cury emprestou dinheiro ao clube que lhe deve R$ 16,5 milhões, além de outros R$ 6 milhões por negociações de jogadores. Entre elas, estão as vendas de Pratto e Ganso, operações antigas.

O Corinthians recorreu a empréstimo de Bertolucci: deve um total de R$ 9,6 milhões ao empresário. Detalhe: os juros são de 1,5% ao mês. Há outros R$ 3,2 milhões devidos a André Cury.

Já o Flamengo tem que quitar as operações de Arrascaeta (André Cury) e Gabigol (Bertolluci). Não houve atraso nos pagamentos já que as negociações foram parceladas. O clube deverá pagar R$ 16,6 milhões aos dois superagentes.

Há dívidas bem maiores, no entanto, que não estão no balanço dos clubes. O agente André Cury move 14 ações contra o Atlético-MG que somam cobranças de R$ 40 milhões por intermediações não pagas. Houve uma rusga entre o empresário e o clube por conta dessas cobranças - Cury reclamou publicamente, já que o Galo recebeu R$ 350 milhões de investimento de mecenas e não pagou seus credores. No total, o Atlético-MG registra dívidas de R$ 100 milhões com agentes.

Cury também acionou judicialmente o Internacional com cobranças de R$ 30 milhões não pagos em intermediações. Esse débito não está registrado no passivo com empresários do colorado, que contabiliza R$ 17,7 milhões em pendências.

Há ainda dívidas do Cruzeiro e do Palmeiras com o empresário, segundo apurou o blog. No caso do time paulista, o débito em torno de R$ 15 milhões está parcelado e sendo quitado. Já a dívida com o Cruzeiro - R$ 10 milhões - está em aberto.

No total, as dívidas dos clubes com os dois superagentes atingem pelo menos R$ 171 milhões, entre valores registrados em balanços, montantes cobrados judicialmente e acordos não detalhados nos documentos financeiros.

Esses débitos se acumulam porque os clubes não costumam tratar as pendências com os agentes como prioridade. Acertam contratações acima do orçamento e depois protelam pagamentos. É uma prática do futebol brasileiro. As pendências não impedem novos negócios dos agentes com os clubes, a não ser quando há uma ruptura.

Procurado, o empresário André Cury reconheceu que é credor de vários clubes, mas não quis entrar em detalhes. "Espero uma solução boa para todas as partes", disse.

Já o agente Giuliano Bertolucci respondeu por meio de sua assessoria de imprensa: "A maior parte das dívidas que os clubes têm com minha empresa é de recursos que nós trouxemos de vendas de jogadores para o exterior. São valores devidos pelas intermediações que a minha empresa fez e que não foram pagos como deveriam ser, tudo consta nos contratos. Sobre recursos que emprestei a clubes, valores menores, são para que os clubes paguem salários e compromissos por extrema necessidade dos clubes", disse o empresário.