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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Crise financeira de gigantes europeus desencadeou projeto da Superliga

Laporta, do Barça, enfrenta uma das maiores dívidas de clubes - GettyImages
Laporta, do Barça, enfrenta uma das maiores dívidas de clubes Imagem: GettyImages

22/04/2021 04h00

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Clubes europeus discutem projetos de emancipação de entidades esportivas há anos. O ponto-chave para decidirem tentar iniciar o projeto de uma Superliga foi a crise financeira enfrentada pelas agremiações pela pandemia de coronavírus. Havia necessidade de um aumento de receita e injeção imediata de dinheiro para resolver o problema das dívidas das agremiações.

O plano da Superliga deixa claro que os recursos iniciais, que seriam obtidos com o banco JP Morgan, seriam também para amenizar os efeitos da pandemia nas contas. Havia uma previsão de entrada entre 100 e 350 milhões de euros no caixa de cada clube.

Os efeitos da pandemia não são conhecimento com exatidão porque os balanços só serão divulgados após o meio do ano, final de temporada da Europa. É certo, no entanto, que o mercado do futebol inflacionou a partir do meio de 2017 com a venda de Neymar. Os gastos dos clubes gigantes subiram e não foram acompanhados pelas receitas da Champions League e campeonatos nacionais.

Quando a crise da pandemia se instalou, os clubes se viram sem as receitas de bilheteria e com ameaça sobre a arrecadação de televisão. Houve devolução de direitos ou ajustes com os detentores de direitos da Ligue 1, Série A e Bundesliga.

"A ideia não surgiu agora, mas a necessidade sim. E os ingleses abriram mão por pressão política, mas também porque tinham de onde conseguir o dinheiro. Espanhóis e italianos estão mais estrangulados. O Milan menos porque o fundo zerou as dívidas de curto prazo", explicou o consultor financeiro César Graffietti, que mora na Europa.

"Eles gastam muito. Real está há quase 2 anos sem contratações, Barcelona liberou muita gente, o Milan apela para garotos, a Inter contratou e está estrangulada, assim como a Juventus, que viu seu aumento de capital ser consumido pela pandemia", contou. "Parte da grandeza deles está associada a viver no limite, muitas vezes custeado por dívidas. Quando a vida era normal, o dinheiro entrava, pagava, as receitas cresciam. Quando parou tudo arrebentaram."

Sua observação é exemplificada pela posição do presidente do Bayern de Munich, Karl-Heinz Rummenigge, que não quis aderir à Superliga. Em entrevista ao Corriere della Sera, o dirigente reconheceu que a crise da pandemia acelerou o movimento pela Superliga e que os clubes gastam demais.

"A solução é reduzir custo. Com a Superliga, os clubes buscam resolver o problema das dívidas que pioraram com a pandemia. Mas o caminho não pode ser sempre lucrar mais e sempre pagar mais para jogadores e agentes", analisou o alemão. Admitiu que o descontrole ocorreu após a negociação de Neymar.

Antes do anúncio da Superliga, havia uma discussão na associação de clubes sobre estabelecer regras para a contenção de gastos. Houve até uma proposta sobre proibir transferência de jogadores entre os maiores clubes que disputam a Champions.

A UEFA tentava compensar os clubes com aumento da Champions que geraria mais receitas. A nova fórmula foi anunciada na segunda-feira, um dia depois da Superliga. Mas esse dinheiro, teoricamente, vai demorar a entrar porque a mudança seria para 2023.

Enquanto os planos da Superliga se desenrolavam, a própria UEFA buscava financiamento com bancos internacionais para auxílios aos clubes. Foi o que noticiou a agência Bloomberg.

Certo é que, com o fracasso da nova liga diante da pressão pública, os gigantes europeus terão de achar outra solução para seus problemas financeiros. Um impacto em todo o mercado de futebol, inclusive no Brasil, é bem previsível já que esses clubes compõem o topo da cadeia do futebol.