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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Suspeição de Moro pode impactar investigação sobre Andrés e Odebrecht

Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians - Rodrigo Coca/Corinthians
Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians Imagem: Rodrigo Coca/Corinthians

16/03/2021 04h00

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Em meio à investigação da Lava Jato, surgiram indícios de que a Odebrecht tinha dado contribuições de caixa 2 para a eleição do ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez a deputado em meio à construção da Neoquímica Arena. Mas o processo de suspeição do ex-juiz Sergio Moro ao julgar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está em curso no STF, pode afetar a base dessa investigação que corre na Justiça Eleitoral. Isso depende, no entanto, de a defesa do ex-dirigente demonstrar que Andrés sofreu procedimentos similares aos do ex-presidente.

Houve dois elementos que deram base para o início de um inquérito no STF contra Andrés: uma planilha da Odebrecht que indicava pagamentos para ele, e delações dos ex-executivos da construtora Benedicto Jr e Luiz Bueno. Apontaram o pagamento de R$ 3 milhões em Caixa 2 para sua campanha, e um total de R$ 4,1 milhões relacionados à Arena.

Andrés depôs na Polícia Federal em 2016 e sempre negou qualquer irregularidade relacionada à arena ou o recebimento de dinheiro da Odebrecht para eleição. Seu advogado João dos Santos Gomes Filho diz que procuradores investigaram, mas nunca conseguiram achar elementos que provassem qualquer irregularidade relacionada à arena. "Fizeram tudo para achar um link. Queriam muito. Mas Andrés sempre disse que não botou dinheiro da Odebrecht no bolso", afirmou o advogado.

Agora, Gomes Filho conta que aquelas provas poderiam ser invalidadas se ficar configurada a suspeição de Moro na atuação na Lava Jato.

"Com julgamento de suspeição de Moro, lavrando isso no STF, não deve ser isolado na figura do Lula. Temos que ver o que vai aparecer no acórdão. Se o Andrés fosse denunciado, aí naturalmente seria esse o caminho [de levantar para o processo a suspeição]. Mas hoje não tem nem elementos indiciários contra ele", disse o advogado de Andrés, Gomes Filho.

Em entrevista nesta segunda-feira à Band, o ministro do STF Gilmar Mendes indicou que uma suspeição de Moro só teria efeito para Lula na esfera penal. A questão é que a defesa de Lula demonstrou sete fatos específicos para justificar a suspeição, como apontou o advogado Thiago Bottino. Ele entende que, em princípio, a decisão só valeria para Lula a não ser que outros investigadores tenham os mesmos elementos em seus processos. Mas ressaltou que, por outro lado, todos os investigados ou acusados ganham força para alegar suspeição, embora tenham que especificar condições similares.

O procedimento contra Andrés está parado há três anos na Justiça Eleitoral. Foi iniciado no STF quando ele era deputado federal, pelo foro privilegiado. Depois, foi transferido para a Justiça Federal de São Paulo e, enfim, deslocado para a Justiça Eleitoral. Lá, não foi nem arquivado nem foi oferecida denúncia. Seu advogado entende ser improvável que o caso vá adiante, mas usa a questão da suspeição como prevenção.

Além da questão de invalidar as provas, Gomes Filho disse que poderia entrar com um pedido para acesso aos diálogos de procuradores da Lava Jato pelo aplicativo Telegram para ver se há menções a Andrés. "Acesso daquilo é o que todo advogado que atuou na Lava Jato está querendo e, por enquanto, só o do Lula teve. Deve ter alguma conversa lá dos procuradores sobre o Andrés", contou Gomes Filho. Ele ressaltou que o acesso depende dos termos de um acórdão do STF.