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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Flamengo usa modelo de TV do Carioca como laboratório para Brasileiro

Equipe do Flamengo antes da decisão do Campeonato Carioca - Marcelo Cortes/Flamengo
Equipe do Flamengo antes da decisão do Campeonato Carioca Imagem: Marcelo Cortes/Flamengo

02/03/2021 04h00

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A diretoria do Flamengo usará o novo modelo de transmissão do Carioca como um teste para o que poderá ser o futuro do Brasileiro. A principal experiência é o pay-per-view negociado em múltiplas plataformas em operadoras de TV e em canais próprios. Será possível observar o potencial e seus ganhos em relação ao que ocorre na Série A.

O contrato do Flamengo com a Globo pelo PPV do Brasileiro vai até 2024. Pelo acordo, por conta de reajustes, o clube receberá um mínimo de R$ 144 milhões para a próxima temporada de 2021. Mas a emissora só distribui 38% do valor arrecadado com o premiere para os clubes —o dinheiro rubro-negro sai desse bolo que gira entre R$ 500 milhões e R$ 600 milhões.

Pois bem, no Carioca, Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense rejeitaram uma proposta similar da Globo para levar todos os direitos. Em vez disso, venderam os direitos de TV Aberta por menos para a Record, R$ 11 milhões, e vão explorar os direitos de PPV por conta própria.

Primeiro, os custos de produção e filmagem dos jogos serão bancados com recursos desse contrato de TV Aberta —foi contratada a produtora Casablanca, que trabalha para a Globo. Além disso, há um percentual da Ferj e da Sportsview, que negociará o acordo. Isso reduzirá consideravelmente os valores líquidos a serem recebidos pelos grandes clubes. Avalia-se que pode ficar em menos de R$ 1 milhão. Então, o PPV é essencial para gerar receita.

Os clubes ficarão com 53% da receita dos pacotes vendidos pelas operadoras como Sky, Claro e Oi. O valor será dividido de acordo com o percentual de torcida de cada time, o assinante declara sua preferência na compra. O restante fica para as operadoras e custo de venda.

Além disso, cada clube fica com 100% das receitas da venda em seus canais próprios. O Flamengo criou a FlaTV +. Não foram dados descontos para sócios-torcedores porque o valor do pacote, R$ 129, tinha que ser igual ao das operadoras. É possível dar desconto se o próprio clube subsidiar como fizeram Botafogo e Fluminense.

O primeiro jogo não é ainda um bom teste para o Flamengo. Enfrentará o Nova Iguaçu com seu time de juniores —já que titulares estão de férias— e com uma partida que será transmitida em TV Aberta pela Record. Portanto, com a volta da equipe principal, deve aumentar o volume de vendas.

O Flamengo não previu nenhum valor de receita pelos direitos do Carioca. Isso dá ao clube liberdade para fazer os testes nos próximos anos sem a exigência de gerar altos volumes de dinheiro. Além disso, será possível aproveitar para testar outros conteúdos de esportes como basquete e vôlei e seus potenciais para o PPV com a nova FlaTV +.

A questão da tecnologia é fundamental. Atualmente, a venda de jogos por canais de streaming, sem operadoras de tv, esbarra em um sinal mais lento que causa delay nos jogos. Há uma expectativa de que, até 2024, possa já estar instalado o 5G no Brasil, o que resolveria o problema.

Em paralelo, além da Globo, há outros players investindo forte em conteúdo para streaming como Amazon, Disney, Warner e Facebook. Todos têm braços esportivos no Brasil. Ou seja, o desempenho do PPV do Carioca —o que pode ocorrer posteriormente no Paulista— pode traçar se será mais vantajoso vender direitos, fazer parcerias ou criar a operação da sua própria transmissão.