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Rodrigo Mattos

Fatiamento de jogadores é tendência em transações de clubes brasileiros

Flamengo manteve percentual sobre Lincoln ao vende-lo ao Japão - GettyImages
Flamengo manteve percentual sobre Lincoln ao vende-lo ao Japão Imagem: GettyImages

21/01/2021 04h00

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Há cinco anos a Fifa proibiu a distribuição de direitos de jogadores entre terceiras partes, isto é, empresários, agentes ou investidores. Em 2020, cresce uma nova tendência que é fatiamento dos jogadores entre os clubes de mercados exportadores como o Brasil, o que é negociado em transações com o exterior. É o que aponta um relatório da Fifa sobre as transferências de atletas.

Nesta nova modalidade, os clubes vendedores exigem do time comprar a manutenção de uma parte do percentual sobre os direitos do atleta. Assim, podem lucrar com futuras negociações se houver uma valorização do atleta. Isso tem sido muito usado por clubes brasileiros em vendas para a Europa.

Em 2020, 51,4% das transferências de jogadores com pagamento por direitos tiveram cláusulas de revenda. Ou seja, em mais da metade das transações, o clube vendedor manteve algum percentual sobre os direitos futuros do atleta. Entre o total de negociações, foram apenas 2,8% das operações com a cláusulas, mas isso porque a maior delas não tem pagamento nenhum

"Essa é uma tendência por vários motivos. Os clubes brasileiros têm operado muito assim, e os clubes europeus começaram a operar assim. Eu fiz uma operação no meio da pandemia que foi assim. Geralmente, jogador jovem ou situações em que não se consegue chegar ao valor pretendido da operação", diz o advogado especialista Marcos Motta, que representa clubes em transações e atua em comissões da Fifa.

"Percebendo que as transferências secundárias são maiores, os clubes criaram um mecanismo de proteção para lucrar depois. Clubes aprenderam com o mecanismo de solidariedade. Não é incomum que ganhem mais com solidariedade do que com a primeira transação. O Palmeiras tem 4% do Gabriel Jesus pela solidariedade, e o Palmeiras adicionou a isso outros 5%. Com isso, o Palmeiras tem quase 10% . Se ele fizer transferências de 100 mihões de euros para outro clube, ele vai auferir quase um terço do valor da primeira transação. O que é bastante satisfatório. Clubes brasileiros perceberam", contou o advogado André Sica, que atua pelo Palmeiras em contratos de atletas.

O advogado lembrou que o abismo econômico entre o Brasil e a Europa só cresce por conta da falta de profissionalização do mercado brasileiro. Por isso, jogadores mais jovens são vendidos pelos clubes brasileiros em transações de baixo valor que podem se transformar em negócios de alto valor no futuro.

Pelo relatório da Fifa, as operações são mais comuns em jogadores mais jovens. Em torno de um quarto de todas as negociações de atletas abaixo de 18 anos (23,8%) contou com esse tipo de cláusula, segundo o relatório da Fifa. No caso de atletas entre 18 e 23 anos, esse percentual é de 13,9%.

Segundo Motta, existem dois modelos de negociação sendo mais usados: 1) O clube vendedor fica com um percentual sobre o total da futura venda 2) O clube vendedor fica com um percentual sobre o lucro que o clube comprador pode obter entre as duas transações. E acrescentou que, além da questão política, há uma política.

"Há situações em que os clubes estão obrigados a dispensar os jogadores por motivo de folha e querem ter a garantia se lá na frente se o jogador estoura, não só a situação desportiva e econômica, mas a política de que ficaram com o percentual", completou Motta.