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Rodrigo Mattos

Rescisão de patrocínio mostra que Santos ignorou risco de contratar Robinho

Robinho sorri em treino no Santos - Ivan Storti/Santos FC
Robinho sorri em treino no Santos Imagem: Ivan Storti/Santos FC

16/10/2020 04h00

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A contratação do atacante Robinho pelo Santos desencadeou protestos por conta de uma condenação em primeira instância por estupro na Itália. A diretoria do clube, no entanto, já defendeu a chegada do jogador em nota e em entrevistas de seu presidente Orlando Rollo. Um rompimento de contrato de patrocínio pela Orthopride e ameaças de outras empresas mostram que há um risco para imagem ao clube que foi ignorado na sua contratação. O Santos pode sofrer uma debandada de patrocinadores após a publicação de provas contra Robinho em matéria do "GE".

Não é novidade a rescisão de contratos de patrocínio por desgaste de imagem seja de entidades, seja de atletas. É um processo que tem ocorrido nos últimos 10 ou 12 anos, segundo especialistas de marketing.

Quando o ex-presidente da CBF José Maria Marin foi preso no escândalo da Fifa, houve patrocinadores como a Petrobras e a Sadia que romperam contratos com a entidade com essa alegação. Na Fifa, a crise em torno das acusações de desvios gerou reação de patrocinadores como a Visa, a Adidas e a Coca-Cola. Posteriormente, o ex-presidente Joseph Blatter renunciou. Há casos ainda com esportistas como Tiger Woods que perdeu patrocínios por causa de escândalo pessoal.

No caso do Santos, a diretoria pensou na repercussão para boa parte da torcida e do público santista, além de associados (grupo este que apoio à contratação). Porém, não houve uma avaliação do que a condenação em primeira instância de Robinho causaria à imagem do clube para o público externo e outra parte da torcida. Não houve essa discussão interna. Isso fica claro pela entrevista do presidente santista, Orlando Rollo, afirmando ao "Globo Esporte" que analisaria o processo de Robinho agora, depois da contratação.

"Uma análise de reputação de imagem que não foi feita pelo Santos. Ele (Orlando Rollo) mesmo fala que ninguém leu o processo. Pediu para ver a cópia do processo. Ou seja, ele mesmo não viu. Ou seja, contratou um jogador que não sabe como está. Esse tipo de conduta tem que entrar na regra do clube. Mais do que só da empresa", analisou o consultor de marketing Erich Beting.

E completou: "As empresas já mudaram a forma que lidam como isso, Magenize Luiza, Pepsico entenderam que há adesão à marca por causa. Cada vez mais as empresas vão adotar. Qualquer mínimo de condenação e suposição para um atleta, você mensura em rede social. Empresa adota uma medida de contenção de crise (sobre o rompimento) de contrato."

Enquanto isso, os clubes e entidades do futbeol, em sua maioria, não têm a mesma preocupação de analisar riscos. São poucas entidades esportivas que têm departamentos de compliance. "Não existe uma preocupação com reputação. É muito raro de ver previamente uma análise da reputação. É algo que não tem um departamento de compliance, de reputação. Fifa criou disso epois do Fifa Gate. Antes, passava longe. Conmebol caminhou para esse caminho. O Brasil ainda não entendeu essa necessidade", disse Beting.

A nota oficial do Santos também defendeu o jogador, falou em tribunal da internet e se dirigiu apenas à torcida do clube. E ressaltou ainda que o clube continuaria a fazer campanhas de defesa dos direitos da mulher.

Fábio Wolf, dono da Wolf Sports, que atua na área de contratos de patrocínio, também entende que as empresas são mais cautelosas em relação aos danos a suas imagens, enquanto os clubes não observam esse movimento.

"De uns 10 ou 12 anos para cá, as empresas passaram a ficar mais presentes. Empresas multinacionais sabem que a construção da marca se dá tijolo por tijolo e a destruição se dá em dois segundos. Criaram compliances e são muito criteriosas de fazer um investimento, de associar a marca a uma embaixador. Uma empresa que não tem compliance acompanha o que está acontecendo: 'Se os maiores saírem, eu vou sair também'. Na hora que uma vê as mais profissionais saindo, é porque não foi tirado da cabeça e é para avaliar desgastes", diz Wolf.

De fato, foi o que ocorreu no Santos. Houve questionamento por parte de jornalistas para as empresas. Com isso, os patrocinadores passaram a questionar o clube sobre suas preocupações. A partir daí, cada uma acompanha o movimento da outra empresa e analisam a reação do mercado. Ou seja, se a chegada de Robinho se configurar como um dano a empresa, esta buscará o rompimento. Com a publicação do teor do processo pelo GE, a maioria dos patrocinadores ameaça deixar o clube se não houve rescisão.

"As empresas olham de que forma o mercado reage e como pode afetar a imagem da marca. O que muda nos últimos anos, a empresa usa os próprios canais para dar satisfação ao público, o que antes ela não fazia. Como fez a Orthopride. Ela foi na rede social para explicar o rompimento, se justificaram", contou Erich Beting.

Fábio Wolf lembrou outro caso de atleta envolvido em violência contra mulher que foi o goleiro Bruno, então no Flamengo. Ele foi acusado e depois condenado de matar Elisa Samudio. Foi preso.

"Por exemplo, quando o goleiro do Flamengo começou a ser acusado de assassinato, a Olympikus foi lá e rompeu o contrato. Tem a camiseta ou a luva com o atleta. É uma preocupação para a empresa quando começou a ser embaixador, tem que ter um cuidado de ver quem está escolhendo", destacou Wolf.

Ele lembrou, no entanto, que não é possível a empresa saber tudo que vai acontecer com as pessoas ou entidades que vão patrocinar, pois não têm controle sobre a gestão. As cláusulas para rompimento por danos à imagem são genéricas, sem tratar de situações específicas. Wolf entende que o caso Robinho pode até gerar novos mecanismos.

Beting concordou e pensa que a repercussão da contratação pode mudar a forma como os clubes analisam contratações: "Para atleta, tem que fazer uma análise de risco, quanto pode trazer de benefício ou risco. Talvez ajude a trazer isso o caso do Robinho."