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Rodrigo Mattos

Final na Flu TV: como clubes podem ganhar com jogos na internet

08/07/2020 04h00

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Final da Taça Rio, o Fla-Flu será transmitido pelo canal no Youtube do Fluminense, mandante da partida. Flamengo e Vasco já tinham passado seus jogos do Carioca em suas televisões na internet, incluindo uma partida com cobrança de pay-per-view pelo rubro-negro. Esses episódios geraram duas discussões: como ganhar dinheiro com transmissão pela internet? Vale cobrar por jogo pontual como fez o Flamengo?

O debate surgiu a partir da instituição da MP pelo governo federal que alterou a regra de direitos de TV, dando ao mandante a prerrogativa de negociar sozinho os direitos. Além disso, o Flamengo decidiu cobrar R$ 10,00 pelo jogo com o Volta Redonda, no Mycujoo, e teve de liberar a transmissão por problemas no site.

O blog foi ouvir dois especialistas, Bruno Maia e Maurício Portela, para entender quais modelos já existem de exploração de transmissões em streaming, qual se alcance e quais os caminhos possíveis. Uma conclusão comum aos dois é que a negociação mais utilizada é por assinatura de pacote pago para um campeonato inteiro, ou para conteúdo de um clube exclusivo.

"Já existe esse pacote com todos os jogos da Copa Nordeste. São R$ 20,00 por mês pagando e assistindo todos os jogos", explicou Maurício Portela, da empresa Live Mode, empresa de tecnologia e negócios que conecta o esporte ao mundo digital e operacionaliza a Copa Nordeste, além de ter sido executivo de marketing do Flamengo e do Esporte Interativo. Há o streaming ainda do Brasileiro, em um pay-per-view por OTT. É um pacote que ainda engatinha comparado com o pacote por operadora fechada.

"O que funciona são os grandes direitos em produtos de assinatura onde o torcedor tem previsibilidade. Meu time vai perder, vai ganhar, vou ter o jogo. É o modelo da DAZN que não é uma entidade esportiva. Não é uma novidade", completou. Ele citou que o Athletico está criando sua Furacão TV paga - o clube analisa a possiblidade de transmitir ou negociar seus jogos como mandante no Brasileiro.

Apesar do modelo individual ter surgido no Carioca, por conta do momento pontual na disputa entre Flamengo x Globo, Portela aposta que as negociações coletivas é que dão maior valor ao produto com negociações do produto inteiro. Entende que a migração de partes dos jogos do Brasileiro para o streaming vai depender justamente da união dos clubes.

Esse é o entendimento também de Bruno Maia, executivo de marketing, sócio da Agência 14 e ex-vice-presidente do Vasco, que vai lançar um livro sobre o tema "Inovação é o novo marketing - Insights para negócios no futebol pós Covid-19".

"Nenhum clube grande opera suas transmissões de seus jogos porque não faz sentido. A NBA tem o League pass para quem quer comprar (serviço pago com todos os jogos). Qual a interpretação? Ela tem um nível de torcedor, hard user, que é fanática que é consumidor. Não quer assistir só à ESPN, quer ver documentários. É fatia pequena dessa base. Quer que cada vez mais pessoas adotem seu streaming, mas trabalha com ESPN e Sports ao mesmo tempo no Brasil. Não se fecha", analisou o executivo de marketing.

Para Bruno Maia, os canais dos clubes servem para outro propósito: são uma forma de entender os comportamentos do torcedor adquirindo o maior número de dados possíveis sobre esse. Esse modelo já existe em vários clubes da Europa. Os canais passam jogos amistosos e uma partida da Bundesliga, no caso alemão.

"Streaming está sendo trabalhando para entrada no ambiente de digitalização. Qualificação de dados, digitalização de seus fãs que consomem já estão na base de dados. Streaming é muito forte para entender o comportamento do seu usuário", disse Maia. E ressaltou que se deve acostumar o telespectador e fideliza-lo antes de cobrar. "A forma que está sendo feita é açodamento. Modelo é de assinatura e não se coloca jogo (dos campeonatos)."

Portela completa, no entanto, que as assinaturas dos canais dos clubes não são grandes geradores de receitas, como mostram os balanços dos clubes. Ainda vivem uma fase de experimentação. Bruno Maia concorda que os grandes clubes não operam transmissões.

A tendência mundial, portanto, é sim a busca das receitas por streaming, mas de forma coletiva e não individualmente. Há exemplos como fatias que a DAZN já têm da Bundesliga e da Champions League, além da Amazon na Premier League. Essa realidade vai fazer parte do novo Brasileiro a partir de 2025 quando acaba o contrato da Globo.

"2025 vai ter uma competição (pelos direitos do Brasileiro) que pode levar à migração. Tudo isso vai depender da organização dos clubes, se vão estar juntos ou isolados", disse Portela.

Já Bruno Maia também entende que há uma boa janela de oportunidade para essa negociação do Brasileiro em 2025, porém, vê o mercado com valores mais baixos nos próximos dois anos. "O contrato atual é excelente porque foi fechado em alta do mercado, com concorrência. Era outra realidade. Empresas têm dificuldade de manter esses pagamentos. A plataforma de streaming não decolou e há uma série de questões que atrasaram."

Ambos concordam que a transmissão por streaming ajuda a criar pacotes diferenciados para uma competição como o Brasileiro. Ou seja, em vez do conceito de fatiar por mídias os direitos de transmissão, criar pacotes com jogos.

"É mais natural no mercado ter parceiros porque o parceiro usa seu expertise. Copa do Nordeste tem plataforma própria, NBA tem plataforma própria, NFL tem plataforma própria. Negociação coletiva atrai muitos parceiros. A plataforma de clubes vai surgir se houver menor demanda", analiso Portela. Ele defendeu que sejam feitos pacotes de jogos como ocorreu na Libertadores que teve quatro pacotes, comprados por Fox Sports, Sportv, Globo e Facebook.