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Renato Mauricio Prado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

RMP: Flamengo de Sousa é desanimador até na vitória

17/03/2022 03h01Atualizada em 17/03/2022 03h01

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A magra e sonolenta vitória por 1 a 0 sobre o Vasco deixou o Flamengo com um pé nas finais do Carioquinha, onde lutará pelo inédito tetracampeonato estadual - garante a vaga até com derrota por um gol de diferença, no segundo confronto, no próximo domingo, no Maracanã. Mesmo assim a maior torcida do país foi dormir cuspindo marimbondos.

Um mau-humor compreensível: onze partidas após a estreia de Paulo Sousa, o time rubro-negro ainda não exibe um padrão de jogo bem definido, não mostra jogadas ensaiadas convincentes, não encanta e, sem soluções, se atrapalha com retrancas armadas por adversários infinitamente mais fracos, como a equipe dirigida por Zé Ricardo.

E olhem que a goleada de 6 a 0 sobre o frágil e ingênuo Bangu, na última rodada da Taça Guanabara, fez os torcedores chegarem empolgados ao Maracanã, a ponto de, antes do apito do juiz, saudar o novo treinador com o velho coro de "Mister, Mister" - só usado anteriormente com Jorge Jesus.

Quando a bola rolou, entretanto, os velhos problemas do primeiro confronto entre as duas equipes foram reprisados: repetindo pela primeira vez uma escalação (a daquele jogo, que já fora péssimo), a dificuldade para o rubro-negro criar oportunidades efetivas para marcar logo tornou-se evidente, apesar do completo domínio territorial.

Apenas duas jogadas ofensivas chegaram a ser concluídas, ambas por Gabigol. A primeira, pela direita, com participação de David Luiz, do próprio Gabigol e de Éverton Ribeiro; a segunda, pela esquerda, numa trama de contra-ataque com Andreas Pereira, Bruno Henrique e Gabigol - nessa, o goleiro Thiago Rodrigues fez boa defesa. Não fosse o pênalti, marcado pelo VAR, após atrapalhada mão na bola de Anderson Conceição, o placar teria ficado em 0 a 0.

Após o intervalo, a decepção só aumentou. Em vez de voltar pressionando, para fazer mais gols e liquidar a fatura de vez, o Flamengo retornou dando campo ao Vasco, à espera de oportunidades para contra-atacar e marcar mais vezes. Não chegou nem perto disso. Um escanteio, cobrado direto por Arrascaeta, na tentativa de um gol olímpico, foi a única vez em que a baliza cruz-maltina foi ameaçada.

Na entrevista após a vitória, Sousa parecia perdido. Tentava exaltar qualidades que não existiram e justificar decisões equivocadas, como a escalação de Andreas Pereira novamente como titular, com a necessidade de recuperá-lo psicologicamente. A bola que Andreas perdeu (mais uma!) logo nos minutos iniciais e o cartão amarelo que tomou a seguir (tentando minimizar o próprio erro) provam como está na direção errada.

Revelando-se um adepto ferrenho do jogo posicional (nas entrevistas inicias até parecia um treinador mais maleável), Paulo Sousa vai repetindo os erros de Domènec Torrent (e é assustador que Marcos Braz e Bruno Spindel, que conversaram com ambos antes de contratá-los, não tenham percebido as semelhanças entre eles).

Segue tentando calçar os pés 42 do elenco em sapatos 39 de seu esquema de posições ortodoxo. Não cabem. Simplesmente, não cabem. Esse grupo não sabe e não gosta de jogar assim. Insistir é uma estupidez. As sonhadas amplitude e profundidade, tão valorizadas pelo treinador com o seu sistema, não são vistas nos jogos. Jogadas de linho de fundo, por exemplo, são raridades. Que profundidade é essa? E de que adianta ter um ala atarraxado em cada lateral, se pouco contribuem para o jogo ofensivo?

A pressão pós-perda anunciada por Paulo Sousa (e que era magnificamente executada no time de Jorge Jesus) é outra promessa que não se cumpre. Sua marcação é frouxa no campo inteiro. Da mesma forma, a saída de bola com os três zagueiros é uma mentira. O técnico parece incentivar seus zagueiros e até o goleiro a dar chutões para frente - sim, chutões, pois apenas David Luiz é capaz de fazer lançamentos de 30, 40 metros.

O resumo da ópera é que o futebol do Flamengo até agora é desanimador, até mesmo nas vitórias. Pode ser tetracampeão carioca (quase uma obrigação, diante da disparidade de forças no Rio), mas com essa bolinha murcha que está jogando, será muito difícil arrumar algo no Brasileiro, na Copa do Brasil e na Libertadores.

Paulo Sousa chegou prometendo muito. Mas, ao menos até agora, não entregou nada.