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Renato Mauricio Prado

Vitória gigantesca do Fla em jogo com várias polêmicas dignas de registro

21/12/2020 04h00

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O jogo que se anunciou fácil para o Flamengo, com o golaço de Bruno Henrique com cinco minutos de bola rolando, começou a se complicar com a expulsão absurda de Gabigol, pouco depois, e a virada surpreendente do Bahia, em apenas 15 minutos do segundo tempo, transformando o placar de 2 a 0 para os rubro-negros em 3 a 2 para os tricolores baianos.

Mas com atuações espetaculares de Gérson - disparado o melhor em campo -, Bruno Henrique e Pedro (que demorou para entrar), o campeão brasileiro reagiu e chegou a uma vitória heroica e importantíssima, mantendo-se vivo na luta pelo seu oitavo título na competição. A partida emocionante do primeiro ao último minuto teve inúmeras polêmicas que merecem comentários específicos. A saber:

1) Se toda vez que ouvir palavrões o juiz se sentir ofendido e expulsar o jogador que os proferiu, não restará ninguém em campo. O cartão vermelho para Gabigol foi absurdo, especialmente porque aconteceu após um lance em que o juiz já estava longe, de costas para o atleta, e não pode nem sequer afirmar com certeza que era ele o destinatário do palavrório obsceno.

2) Por que e para que escalar um trio de arbitragem paulista nem m jogo do Flamengo, adversário direto do São Paulo, clube de coração do presidente da CBF Rogério Caboclo? Não faz o menor sentido e só alimenta teorias de conspiração. Ainda mais após uma decisão polêmica como a tomada por Flávio Rodrigues, expulsando Gabigol aos nove minutos do primeiro tempo por uma suposta ofensa.

3) O "cala a boca, negro" que o colombiano Juan Ramirez disparou para Gérson é nojento, inadmissível e indesculpável. Merece punição severa da CBF. Racismo é crime. Simples assim. Não há atenuante. E o Bahia, clube que sempre se manifesta positivamente nas campanhas contra o racismo, não pode passar pano agora.

4) Deplorável a atitude de Mano Menezes durante a confusão ironizando Gérson, que, segundo ele, não discutiu com Daniel Alves quando este (na opinião do técnico do Bahia) "o engoliu". É triste constatar a decadência de um treinador que já foi dos melhores e mais educados profissionais do país e agora se perde à beira do campo enquanto seus times apanham dentro dele. Mereceu a demissão, ocorrida horas depois da derrota - a quinta consecutiva.

5) Bruno Henrique voltou a ser o atacante decisivo de antes da pandemia. Participou diretamente dos quatro gols e quase marcou mais dois. Conseguiu a proeza de jogar por ele e pelo expulso Gabigol. Um azougue praticamente impossível de marcar.

6) Ninguém está jogando mais que Gérson no Flamengo. Com um jogador a menos, ele foi volante, armador e atacante. Cérebro e coração em uma vitória que em determinado momento parecia improvável. Lançamentos longos perfeitos, triangulações precisas e uma presença constante em praticamente todas as partes do gramado. Seu mapa de calor na partida contra o Bahia, certamente, é o mais amplo entre os 22 jogadores. E sempre incandescente.

7) Rogério Ceni demorou a colocar Pedro em campo. E quando o fez, optou por tirar Arrascaeta, no que me pareceu um erro crasso. Éverton Ribeiro, uma vez mais, não jogava nada - e não jogou até ser substituído já no finalzinho. Desde que voltou da seleção, o futebol do camisa sete definhou. Não dá prosseguimento a nenhuma jogada ofensiva e arma vários contra-ataques do adversário, perdendo bolas fáceis no meio-campo, como aconteceu diante dos baianos, já depois da virada para 4 a 3. Quase saiu novo empate.

8) Pedro tem de ser titular. Isso já é mais que evidente. Não somente pelos gols que faz, como também pela participação como um todo no ataque. Seu passe de letra para o gol da vitória, marcado por Vitinho, foi uma pequena obra de arte. Com certeza, será titular contra o Fortaleza, por causa da expulsão de Gabigol, mas precisa ser mantido também nas próximas rodadas. Pelo que (não) tem jogado, Éverton Ribeiro deveria ser o mais forte candidato a sair da equipe. Mas a admiração de Ceni por ele pode dificultar a mexida óbvia. E acabar sobrando para Arrascaeta, que saiu de campo bastante irritado ao ser substituído diante dos baianos. O uruguaio não estava jogando mal e não merecia sair.

9) Filipe Luís teve participação decisiva na virada, com um cruzamento perfeito para Pedro marcar, mas sua atuação como um todo deixou a desejar. O lado esquerdo da defesa rubro-negra tornou-se uma avenida por onde todos os adversários se criam. Seu substituto natural deveria ser Ramon, joia da base que o clube insiste em manter jogando pelo sub-20 e que já deveria estar há muito tempo dedicado somente aos profissionais. Ceni, entretanto, ainda insiste em Renê, jogador muito limitado tecnicamente.

10) Uma vitória como essa, de virada, com um homem a menos, pode trazer o moral que o time perdeu com as eliminações seguidas na Copa do Brasil e na Libertadores e as goleadas sofridas diante do São Paulo e do Atlético Mineiro. Motivado, esse time tem condições de se manter forte na luta pelo Brasileiro.