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Renato Mauricio Prado

Jogo da seleção foi o pior espetáculo esportivo da sexta-feira

Para Renato Maurício Prado, semifinal vencida por Novak Djokovic (foto) foi melhor evento do dia no esporte - FFT
Para Renato Maurício Prado, semifinal vencida por Novak Djokovic (foto) foi melhor evento do dia no esporte Imagem: FFT

10/10/2020 04h00

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O grande espetáculo esportivo da tarde de sexta-feira foi a segunda semifinal masculina de Roland-Garros. Se, na primeira, o espanhol Rafael Nadal (doze vezes campeão do torneio) não teve dificuldades para eliminar o argentino Diego Schwartzman; na segunda, o sérvio Novak Djokovic e o grego Stefanos Tsitsipas disputaram uma insana maratona de quatro horas, jogando um tênis de altíssimo nível, de lado a lado. Partida de tirar o fôlego, vencida pelo número 1 do mundo que, no domingo, decidirá o título contra o número 2. Exatamente o duelo que mais se esperava: Nole x Rafa.

Os jogos de tênis de Paris acabaram no final da tarde, por aqui, e a noite antevia uma bola dividida para os amantes tupiniquins dos esportes. A estreia do Brasil nas eliminatórias sul-americanas da Copa do Mundo, contra a Bolívia, e o jogo cinco das finais da NBA, com a possibilidade de os Los Angeles Lakers fecharem a série, ou o Miami Heat obrigar à realização do sexto jogo. O time de LA vencia por 3 a 1.

A diferença de horário me permitiu assistir ao primeiro tempo da seleção, na TV, enquanto, de canto de olho, acompanhava a pré-hora do basquete, no IPad. E o que vi? Uma novidade interessante, com o lateral Renan Lodi atuando praticamente como ponta-esquerda do Brasil, e uma tresloucada invenção, de Éverton Cebolinha aberto na ponta-direita. Lodi levou perigo em todos os lances de ataque de que participou - e foram muitos. Já Cebolinha, coitado, todo torto, não acertou nada e ainda perdeu um gol feito, com poucos segundos de partida. Que ideia de jerico!

A vitória brasileira por 2 a 0, nos 45 minutos iniciais não me emocionou. Completa e na altitude, a Bolívia ainda pode oferecer alguma resistência. Completamente desfigurada, como veio jogar na Neo Química Arena, e atuando ao nível do mar, a seleção boliviana é um adversário pífio. Por isso, tão logo o juiz apitou o final da etapa inicial no futebol, inverti as telas. Bola laranja na tela grande, bolinha do time de Tite, no IPad.

Sábia escolha. Em um duelo espetacular, o Miami Heat, fazia das tripas coração e abria boa vantagem no primeiro quarto, com Jimmy Butler pontificando na quadra da Disney. Enquanto isso, em jogo de qualidade pra lá de discutível, após o intervalo, os gols brasileiros começaram, naturalmente, a se acumular, na arena corintiana. Faltando dez minutos para acabar, estava 5 a 0, no placar, com direito até a gol contra boliviano, dado de presente pelo juiz para Rodrygo.

Na bolha da Disney, o primeiro tempo terminava com pequena vantagem do Heat: 60 x 56. LeBron já entrara no jogo e os Lakers encostavam, mostrando que os dois quartos seguintes prometiam muito. Já em Itaquera, só me chamou a atenção a entrada de Éverton Ribeiro, no lugar de Coutinho, que até fez um gol de cabeça mas, uma vez mais, não brilhou no meio-campo do Brasil. Registro: Cebolinha, enfim, fora poupado do martírio provocado pela invenção de Tite, e Rodrygo entrara em seu lugar - aí, cabe a pergunta que não quer calar: por que o ex-atacante do Santos foi chamado e Vinícius Jr., não? Mistérios da cabeça do treinador...

Encerrada a partida do Brasil, o que ficou foi a sensação que Tite começa a flertar com o jogo posicional, obcecado por ter jogadores abertos nas pontas - Lodi, de um lado, e Éverton, pobre coitado, do outro, que nada tem a ver com ele. É até compreensível que busque assim saídas para enfrentar times que atuam fechados - o que é normal, contra os brasileiros, notadamente nos confrontos contra sul-americanos.

Para isso, Tite armou praticamente um 2-3-5, com o volante Douglas Luiz e o lateral Danilo formando o trio do meio-campo, bem avançado, ao lado de Casemiro. Funcionou contra a Bolívia, aqui. Mas como jogará contra os grandes europeus? Ou contra o Uruguai e a Argentina? Tirando os constantes cruzamentos para a área (a maior parte deles, pelo alto), nada se viu de interessante no ataque, a não ser as costumeiras iniciativas individuais de Neymar.

De volta à NBA, o jogo seguia encardido, apertado e espetacular. Ao final do terceiro quarto o Heat vencia por seis pontos: 88 a 82! No quarto, a franquia de Miami manteve o pique, mas LeBron, Davis e cia queriam acabar com a brincadeira naquela noite e viravam o placar para 97 a 96, com uma cesta de três de KCP! Haja coração!

Ao mesmo tempo, começava a entrevista de Tite. E logo o ouvi dizer que procura manter os atletas nas funções que exercem em seus clubes. Hein? E Gabriel Menino convocado como lateral-direito, Cebolinha escalado na ponta-direita, Éverton Ribeiro usado como armador central etc.? Me poupe. Voltei definitivamente para o basquete. Não consigo suportar o discurso do encantador de serpentes...

Que jogo! Faltando quatro minutos, os Lakers vencem por um ponto! Mas o Heat mete uma de três e passa a frente. Falta em LeBron e tudo igual: 101 a 101. Faltando menos de três minutos. Butler bota Miami na frente, com dois pontos. Mas LeBron empate ainda sofre a falta. Lakers 104 a 103. Menos de um minuto pro fim. Com cestas de Butler, de um lado e LeBron, do outro, o placar vai bailando, ora com vantagem pra um, ora pro outro. Final imprevisível.

Faltando 21,8 segundos, o Heat vence por um ponto, Davis apanha um rebote e converte. 108 a 107 para os Lakers. Instantes decisivos de tirar o fôlego. Butler vai pra cesta e leva a falta de Davis. Dois lances. Para colocar o Heat na frente e deixar os Lakers com apenas 16,8 segundos para virar. É o que acontece. 109 a 108. LeBron, Davis e cia. não podem perder o último ataque. E precisam gastar o tempo para não permitir uma última ação ofensiva do adversário.

A bola vai pra LeBron, mas o ataque é frustrado. Faltam 2,2s. O Heat tem a vitória nas mãos. Os Lakers fazem falta, convertida pelo Miami: 111 a 108. E a decisão vai para o sexto jogo. Que espetáculo! Apesar da derrota, os Lakers ainda vencem por 3 a 2.

Vou dormir, satisfeito, por ter assistido a dois maravilhosos espetáculos esportivos: a vitória de Djokovic sobre Tsitsipas e o triunfo do Miami Heat sobre os Los Angels Lakers. A seleção? Decididamente, não dá pra dizer que foi um show. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos... Principalmente, em Roland Garros e na bolha da NBA, na Disney!