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Renato Mauricio Prado

A seleção brasileira ainda encanta alguém?

Tite durante convocação da seleção brasileira para o início das Eliminatórias Sul-Americanas - Lucas Figueiredo/CBF
Tite durante convocação da seleção brasileira para o início das Eliminatórias Sul-Americanas Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

05/10/2020 04h00

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Você ainda gosta de ver os jogos da seleção? A pergunta que fiz ontem (4) à noite, no meu Twitter, repito aqui. Na próxima sexta-feira, começarão as Eliminatórias Sul-Americanas, e o time dirigido por Tite enfrentará a Bolívia, no Itaquerão, estádio do Corinthians, agora rebatizado Neo Química Arena.

Responda francamente: que interesse você tem neste jogo, que será disputado às 21h30? Pretende ficar em casa e assisti-lo, na Rede Globo, ou não está nem aí e preferirá outro programa, como ver um bom filme ou uma boa série, ou até sair para curtir a noite - com distanciamento social e de máscara, por favor?

No meu Twitter, o resultado da pesquisa era devastador para a equipe da CBF no fechamento deste texto. Com mais de cinco mil votantes, 80% dos que responderam afirmam não gostar mais de ver os jogos da seleção canarinho, enquanto 12,5% disseram ter um interesse relativo e somente 7,5% se confessaram ainda fãs das partidas da "amarelinha".

Vamos dar um desconto: grande parte dos meus seguidores são rubro-negros e os torcedores do Flamengo, naturalmente, estão irritadíssimos com os desfalques que as eliminatórias provocarão em seu time, nas próximas três rodadas (Rodrigo Caio, Éverton Ribeiro, Arrascaeta e Isla, quatro titulares importantíssimos). Mas, nos comentários do tweet, inúmeros simpatizantes de outros clubes demonstraram igual indiferença.

São vários os motivos para esse desinteresse e, em muitos casos, por que não dizer, até certa antipatia. A começar pelo futebolzinho mequetrefe que o time jogou no último Mundial, na Rússia, e em praticamente todos os amistosos realizados de lá para cá. Nesse meio-tempo, ganhou uma Copa América, é verdade. Mas nem assim encantou. E ganhar dos "hermanos" sul-americanos, já se viu, não vale nada quando chega a hora da verdade, contra as principais seleções europeias, na Copa do Mundo.

Junte-se a esse desempenho frustrante a falta de empatia do torcedor com a maior parte dos convocados, em sua maioria esmagadora, atuando há bastante tempo no exterior, e o quadro só piora. Os jovens saem cada vez mais cedo, e a torcida não consegue nem sequer se identificar com eles. Para piorar, o principal craque do time, na verdade o único que merece ser chamado de fora-de-série, é um "case" à parte em termos de administração caótica de sua imagem pessoal. A ponto de existir uma corrente pró e outra contra Neymar. Que se digladiam em um autêntico Fla-Flu.

O técnico Tite é mais um ponto de aversão. As palavras empoladas, o ar professoral, com caras e bocas dignas de um canastrão de novela mexicana, e a preocupação em falar um dialeto que demonstre estar antenado com as novidades no futebol tornam qualquer entrevista sua um sonífero dos mais poderosos. Parece se considerar um "ungido", a ponto de estar preocupado em deixar na CBF detalhado em fotos, vídeos e documentos todo o trabalho que está fazendo. E se perder de novo, quem se interessará por isso? Alguém quer saber dos planos do Felipão depois dos 7 a 1?

Para fechar o combo que afasta o torcedor há, claro, também a CBF. Sempre envolvida em casos mal explicados de corrupção, malfeitos e péssima administração. A principal responsável pelo calendário brasileiro não parar nas datas Fifa, como acontece em todo o mundo civilizado do futebol. Aqui, ao contrário, os clubes são prejudicados, inclusive em amistosos caça-níqueis que nada acrescentam à seleção.

São muitos, portanto, os fatores que levam a seleção canarinho, tão adorada em outros tempos, a sofrer esse indiscutível processo de desgaste junto ao seu maior patrimônio que é a torcida.

Tudo isso posto, vamos lá? Você ainda gosta de ver os jogos da seleção?