Teimosia de Domènec leva Flamengo a mais uma derrota vergonhosa
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Bagá chegou a Ponderosa num otimismo irrefreável. Empolgado com as quatro vitórias consecutivas do Flamengo, previa mais um triunfo contra o limitado Ceará e começou até a me provocar, pelas ácidas críticas que fiz a Domènec, no início de seu trabalho.
- E aí, chefia? Vai continuar cornetando o Dome? O cara pegou a mão... - decretou, cheio de confiança.
Saiu a escalação e torci o nariz.
- Michael e Vitinho abertos nas pontas? Éverton Ribeiro centralizado, na armação? Isso já não funcionou antes - alertei.
O colosso de ébano, porém, não estava disposto a ouvir críticas. Acreditava piamente no quinto triunfo seguido.
- Chefia, é o Ceará! Vamos ganhar! A hora é perfeita para poupar alguns titulares e fazer experiências.
Poupar alguns titulares, ok. Mas experiências? O Flamengo cresceu justamente quando o técnico catalão abriu mão de seu ortodoxo esquema de futebol posicional e permitiu que Arrascaeta e Éverton Ribeiro jogassem juntos e com liberdade de deslocamento pelo campo inteiro. Ao poupar o uruguaio e atarraxar os erráticos Michael e Vitinho nas pontas, Dome engessava o time e tirava Éverton de sua posição predileta, vindo da direita para o meio. Por que não começar com Diego no lugar de Arrascaeta?
Rolou a bola e meus temores foram se confirmando, aos poucos. É verdade que Gabigol perdeu duas oportunidades que poderiam ter deixado o Flamengo em boa vantagem (o que está havendo, artilheiro?). Mas, como um todo, o time não jogava bem.
- Vitinho e Michael não acertam uma! - reconheceu o sacrossanto crioulo, começando a perder a paciência.
Não acertavam, mesmo. E, pior, se no ataque erravam tudo o que tentavam, no auxílio à defesa, exageravam no recuo, deixando Gabigol praticamente isolado na frente. Éverton Ribeiro bem que tentava armar alguma coisa no meio, mas com os extremas sempre bem abertos, ficava praticamente sozinho contra o meio-campo cearense. Para piorar, ao contrário de outros jogos, Thiago Maia também não estava bem.
- Tem que botar logo o Diego e o Pedro, no intervalo. Nos lugares do Michael e do Vitinho. E abandonar esse maldito futebol de totó - opinei.
Surumbático, Bagá concordou, balançando a cabeçorra. Mas o treinador catalão não mexeu do primeiro para o segundo tempo. E o Ceará abriu o placar, num gol de cabeça, feito entre os dois zagueiros de área do Flamengo:
- Esses Gustavo Henrique e Léo Pereira são um horror, chefia! Que saudades do Pablo Mari! Por que tínhamos que vendê-lo? - perguntou, num lamúrio, o negão.
Dome, enfim, mexeu, colocando Pedro em campo, mas custou a fazer entrar o Diego. E quando o camisa 10 pisou o gramado já estava 2 a 0 para o Ceará e a partida praticamente perdida.
- Sabe o que é o mais grave, chefia? Esse cara é cabeçudo! Quer porque quer fazer o Flamengo jogar como um time de totó, pra provar que essa sua estratégia posicional é melhor que a do português. É teimoso e vaidoso! - vociferou, enfurecido, o ciclope ao final da partida.
Como discordar dele? As melhores atuações do Flamengo sob o comando de Torrent foram quando juntou Arrascaeta e Éverton Ribeiro e abriu mão dos dois pontas abertos, junto às linha laterais. Os craques rubro-negros rendem melhor assim, jogando sem posição fixa e tendo liberdade para se aproximar e chegar ao gol adversário através de tabelas e triangulações curtas. Mas, vira, mexe, Dome quer que eles ocupem posições pré-determinadas e aguardem que a bola chegue a eles...
Pode até ser que, com o tempo, o ex-auxiliar de Guardiola faça o time do Flamengo jogar bem, dentro de sua estratégia, que privilegia o posicionamento tático em detrimento da criatividade e do talento de seus melhores jogadores. Pode ser.
- Mas é duro ver o cara pegar um timaço pronto como o Flamengo e mudar tanta coisa num ano em que tínhamos todas as condições para ganhar tudo novamente - vociferou o gigante, pouco antes de se despedir.
Como dizer que ele não está prenhe de razão? Perder do Atlético Goianiense por 3 a 0 e do Ceará por 2 a 0 são resultados vergonhosos, dignos de levar o Bagá à loucura.
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